
Quando pensamos em animais de estimação, os primeiros que vêm à mente, geralmente, são cães e gatos, companheiros fiéis e populares em lares ao redor do mundo. No entanto, um número crescente de pessoas tem buscado conexões diferentes com o universo animal, adotando espécies menos tradicionais como seus companheiros de vida. De répteis exóticos a aves coloridas, ando por pequenos mamíferos e até insetos, os chamados pets não convencionais vêm ganhando espaço e despertando curiosidade.
Mas, junto com o encanto, surgem também dúvidas e desafios: quais são os cuidados necessários? Eles são legais no Brasil? São realmente boas companhias?
Primeiramente, é preciso definir o que é um animal doméstico. Segundo o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), são todos aqueles que, por meio de processos de manejo, aram a apresentar características biológicas e comportamentais de dependência do homem. Pensando assim, a lista de opções se estende um pouco mais, mas antes de abrir as portas de casa e mudar a rotina por um pet fora do comum, é necessário estar ciente dos detalhes e das responsabilidades singulares desses animais. Entre os principais pontos de atenção está a legalidade.
Questões de autorização podem ser confusas, pois animais como jabuti, papagaio e furão chamam a atenção de muitos e parecem fáceis de serem adquiridos, mas requerem licença e autorização para serem criados em casa. O bichinho precisa vir de um criadouro autorizado e, no caso do furão, são exigidas castração e chipagem. Faz-se necessário, então, pesquisa e cautela, por mais fofos que os animais sejam. E se optar por algum que precisa de autorização, a atenção deve ser redobrada.
Pets variados
Pode parecer que isso diminui drasticamente as opções, mas a lista continua cheia. E existem diversos tipos e espécies para escolher. Além dos famosos cães e gatos, os roedores têm ganhado fama e apresentam uma gama de alternativas, como hamster, porquinho-da-índia, camundongo, rato, gerbil ou chinchila, que são animais pequenos que podem ser criados em qualquer lugar, com o espaço e o cuidado adequados. Quem deseja optar por um fofinho de pequeno porte também pode contar com os coelhos, que não necessitam de espaços tão amplos e são companheiros ativos e brincalhões.
As aves representam uma série nova de preferências. Fora as populares calopsitas, pássaros de muitos tamanhos e cores podem ser adotados, como canários, codornas, os pequenos e coloridos diamante-de-gould, mandarim, manon, periquito ou pombos domésticos. E para quem dispõe de mais espaço, há a possibilidade de criar animais de fazenda, como minicabras, porcos, galinhas, cavalos, ovelhas, vários tipos de patos e gansos. E quem deseja inovar ainda mais, as lhamas e as alpacas, apesar de serem incomuns, são domésticas e não precisam de autorização.
Experiência e convivência
Quem optou por um pet incomum foi Paulo Leite, que adotou um pintinho em uma tentativa de melhorar a fobia por aves da sua esposa, Raquel Angel. Apesar de ter sido difícil no início, hoje a galinha Nugget, de 6 anos, é parte essencial da família. Há quatro anos, o casal adotou também uma cachorrinha chamada Mel.
O criador de conteúdos conta que, a princípio, a convivência das duas foi turbulenta, pois Nugget estava acostumada a ser a única pet e não aceitou bem a chegada de Mel — sempre que possível, corria pela casa para bicar a cachorra, enquanto Mel era mansa e carinhosa. "Eu brinco que o sonho da vida da Mel é ser melhor amiga da Nugget, e o sonho da Nugget é voltar a ser filha única", brinca Paulo.
Apesar de incomum, o casal diz que a relação com Nugget é muito boa, ela é um pet exigente, mas bastante carinhosa, inteligente e responsiva — aprendeu truques e comandos. Por morarem em apartamento, Nugget tem um cômodo só dela, eia ao menos uma vez na semana e fica solta pela casa, com liberdade para ir onde quiser. Paulo conta que desde filhote, foram atrás da melhor ração do mercado, que é bem mais barata que uma de cachorro ou gato.
Qualquer que seja a escolha, um pet não convencional merece e precisa de cuidados, assim como qualquer outro, e, às vezes, até mais. A veterinária de animais não convencionais Bruna Palma diz que a primeira coisa a se entender antes de adotar um bichinho, seja ele comum ou não, é que pet não é uma necessidade, mas um luxo, portanto, é obrigação do tutor fornecer tudo o que ele precisar. "É necessário ter a certeza de que você vai conseguir oferecer saúde, bem-estar, espaço, se vai ter o e financeiro e a estrutura física para prover qualidade de vida para o animal", detalha Bruna.
A veterinária explica que cada animal requer necessidade diferentes e, antes de adotar, é preciso saber qual é a criação, a alimentação e o ambiente certos. Ela conta que a maioria dos pacientes que aparecem na clínica em que trabalha tem problemas relacionados à criação, porque não consultaram ou pesquisaram, e acabaram por dar alimentos errados ou manter os animais em locais inadequados.
Tutores de pássaros, por exemplo, cometem grandes erros ao alimentar as aves. A maioria acaba por oferecer somente sementes e alpiste, que têm alto teor calórico e falta de vitaminas, nutrientes e minerais. "Como são animais de cativeiro e não têm um gasto energético tão grande, nem vão ter o a uma variedade de itens, como seria na natureza, eles precisam ter uma dieta que esteja adequada com o gasto energético e com o grande aporte nutricional. Quando alimentados somente com sementes, acumulam gordura e podem ter diversos problemas", explica Bruna.
No caso dos coelhos e roedores, problemas odontológicos e gastrointestinais são comuns, pois tratam-se de animais cuja base alimentícia é o feno, sendo equilibrado com verduras e folhas variadas, optando pela ração apenas como complemento. Os bichinhos precisam desgastar os dentes, que crescem durante toda a sua vida, portanto a alimentação correta, vai facilitar esse processo.
Esses animais, que comumente vivem em gaiolas, vão sofrer se forem mantidos trancados por muito tempo. As aves e os coelhos precisam se movimentar para garantir a saúde, podendo ter atrofias ou ficarem entediados se não tiverem brinquedos. Os roedores precisam ter em suas gaiolas espaço suficiente para andar e se esconder, como é o caso dos tubos. Já animais de grande porte, como porcos, cabras ou cavalos, vão requisitar um certo espaço e disposição de cuidado, sendo animais que precisam caminhar e se alimentar bastante.
Bruna explica que não é todo veterinário que terá experiência para cuidar de qualquer tipo de animal. A recomendação é procurar por aqueles especializados antes mesmo da adoção. Paulo, tutor da Nugget, conta que quando ela ainda era um pintinho, ele e Raquel aram por vários profissionais até chegarem em um que os acolhesse e soubesse explicar cada necessidade, cuidando de Nugget até hoje.
*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte