Convocado no inquérito que apura a tentativa de golpe de Estado no Supremo Tribunal Federal (STF), o ex-ministro da Defesa Aldo Rebelo travou uma discussão acalorada, nesta sexta-feira (23/5), com o ministro Alexandre de Moraes, relator do caso, ao se esquivar de responder perguntas de forma objetiva. O magistrado chegou a ameaçar prender Rebelo: “Se o senhor não se comportar, vai ser preso por desacato”.
Aldo Rebelo foi ouvido na condição de testemunha de defesa do almirante e ex-comandante da Marinha no governo de Bolsonaro (PL-RJ), Almir Garnier. Durante o interrogatório, o advogado de defesa do almirante questionou se era possível que um comandante da Marinha mobilizasse tropas por decisão unilateral.
Em resposta, Aldo recorreu a uma metáfora linguística: “A força da expressão nunca pode ser levada literalmente. Quando alguém diz 'estou frito', não significa que esteja numa frigideira”.
O diálogo refere-se à declaração dada por Carlos Baptista Júnior, ex-comandante da Força Aérea Brasileira (FAB), ontem (22), de que Garnier teria afirmado em reunião que as tropas da Marinha estavam à disposição de Bolsonaro, dando a entender que o almirante apoiava uma possível ruptura institucional.
Após a divagação de Rebelo, Moraes o interrompeu. “O senhor não tem condições de analisar a língua portuguesa. O senhor estava na reunião?”, perguntou. “A minha apreciação da língua é minha, e eu não ito censura”, respondeu o ex-ministro.
Insatisfeito com a resposta, Moraes afirmou: “Se o senhor não se comportar, vai ser preso por desacato”. “Eu estou me comportando”, disse Rebelo. Moraes insistiu: “responda à pergunta, é possível ou não?”
Diante do ime, o ex-ministro da Defesa afirmou que não é possível um comandante da Marinha mobilizar tropas por decisão unilateral, pois existe uma cadeia de comando que precisa ser consultada. Apenas o comando de Garnier não seria suficiente para garantir as tropas nas ruas, portanto. Não satisfeito, a testemunha indagou: “o que eu gostaria de saber é se o inquérito apurou junto a essa estrutura de comando”. A discussão acalorada foi então retomada.
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“Quem faz perguntas são os advogados, não a testemunha”, frisou Gonet. Moraes também reagiu à fala de Aldo: “Quem quer saber alguma coisa somos nós, não o senhor. Se o senhor quiser saber, depois vai ler na imprensa”. O ministro do STF recordou que, em 1964, quando do golpe militar, não foi necessário nenhum tipo de consulta a outros comandos para que ele acontecesse.
"Fiz uma cagada agora", diz Gonet
Pouco depois, ao tentar concluir um raciocínio sobre o papel da Marinha em um eventual rompimento institucional sem o apoio do Exército, Gonet pediu a opinião da testemunha e foi advertido pelo advogado Demóstenes Torres: “Eu pedi a opinião e fui interrompido”. Com a mão na boca, Gonet afirmou: “Fiz uma cagada agora”, comentando o fato de não ter feito uma pergunta objetiva, se atendo aos fatos narrados na denúncia.
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Na avaliação de Aldo Rebelo, a Marinha sozinha não teria condições técnicas nem operacionais de efetivar um golpe de Estado. “A Marinha tem 14 mil fuzileiros e é uma força essencialmente costeira, com pouca capilaridade no interior do país”, apontou.
Ele reforçou que Garnier, seu assessor militar à época em que ocupou o Ministério da Defesa, era conhecido pelo rigor com a hierarquia e nunca demonstrou qualquer indisciplina. Duas testemunhas inicialmente convocadas foram dispensadas.