
O ex-coordenador-geral de relações institucionais e comunicação social da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Christian Perillier Schneider, relatou que durante as mais de três décadas em que atuou no órgão foi a primeira vez que a Abin teve um gabinete dentro do Palácio do Planalto. O funcionário de carreira prestou depoimento na tarde desta segunda-feira (26/5), no Supremo Tribunal Federal (STF).
Segundo Christian, o então diretor-geral da Abin, Alexandre Ramagem, “tinha uma sala no segundo andar do Palácio e, às segundas e terças, normalmente, ava as tardes despachando com a Presidência”.
“Na minha experiência, a primeira vez que a Abin teve salas no Palácio foi no governo Bolsonaro, porque era comum que os diretores da Abin não tivessem relação direta com o presidente, e o relacionamento se dava pelo ministro do GSI", frisou.
Relação direta
Christian explicou que, "tanto no caso do Ramagem quanto do sucessor, eles não foram escolhas do general Heleno, foram escolhas do presidente, havia outro tipo de relação — que não profissional, tinha relação direta com o presidente, não precisava ar pelo ministro”, declarou.
O ex-coordenador-geral relatou ainda que durante o processo eleitoral, por intermédio de Acordo de Cooperação Técnica (ACT) com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a Abin realizou monitoramento caso houvesse problemas nas eleições presidenciais de 2022.
“O monitoramento não tinha a ver com vulnerabilidade de urna eletrônica, nosso trabalho era feito em consonância com a Polícia Federal, com agentes públicos, com o TSE, para acompanhar obstrução de estrada que impedisse pessoas a irem votar, protestos que poderiam levar a uma obstrução ou atrapalhar o processo eleitoral, são exemplos críticos que poderiam interferir ao bom andamento do processo eleitoral como um todo”, comentou.
A Abin realizava, portanto, o monitoramento de desinformação sobre as eleições, que eram relatado e juntado pelo Centro de Inteligência Nacional, setor do órgão. Christian estava fora do Brasil no segundo turno eleitoral e disse ter voltado ao Palácio do Planalto entre novembro e dezembro apenas para assegurar que estava tudo encaminhado com sua nomeação em trabalho que iria realizar fora do país.
“Não sei exatamente como funcionou, caberia a essa Coordenação de Movimento Crítico a produção de atualizações temáticas sobre as diversas esferas — as rodovias estão ok?, pessoas estão conseguindo votar? — e todos os tribunais regionais eleitorais recebiam e processavam a informação, em trabalho com a Abin, que operava com o Ministério da Justiça, em centros no Brasil inteiro para garantir um bom andamento das eleições”, disse em depoimento.
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O depoente trabalhou na Abin de novembro de 2021 a julho de 2022 e ava de dois a quatro dias por semana no Palácio do Planalto. Ele alegou ainda que seria impossível, em três meses, a infiltração de agente do órgão para interferir nas eleições de 2022.