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Planalto nas cordas ante nova ofensiva pelas redes sociais

Governo tenta reação após vídeo do bolsonarista Nikolas Ferreira sobre fraude no INSS atingir quase 100 milhões de visualizações

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Nikolas: "O maior escândalo de corrupção da história do país" - (crédito: Reprodução/Redes Sociais)

O sucesso do vídeo do deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) com críticas ao governo Lula pelo escândalo bilionário do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) escancarou uma nova crise de comunicação no Executivo. A postagem viralizou e, até a noite desta quarta-feira, registrava 96 milhões de visualizações.

No vídeo, Nikolas diz que os desvios configuram "o maior escândalo de corrupção da história do país". Ele acusa o governo de omissão ante o esquema e alega ligações de suspeitos com o Palácio do Planalto. Pede, ainda, apoio para a criação da chamada I do roubo dos aposentados, que, apesar de já contar com as s necessárias, não tem data para ser instalada na Câmara.

O governo tem se movimentado nos bastidores e nas redes sociais para tentar se contrapor às acusações de que o esquema de corrupção correu solto debaixo do nariz de Carlos Lupi, então ministro da Previdência, com a participação ou a conivência do Planalto. O temor, agora, é de que o vídeo repita o sucesso que ajudou a potencializar, em janeiro, a queda de popularidade do governo por causa da crise do Pix.

Na época, uma medida da Receita Federal para coibir fraudes no sistema de transferências foi distorcida por bolsonaristas nas redes sociais, o que provocou uma onda de desinformação, enquanto o Executivo fazia uma transição na Secretaria de Comunicação Social, com a saída de Paulo Pimenta e a chegada de Sidônio Palmeira.

Agora, os números expressivos do escândalo também pesam contra o governo. Primeiro, porque houve um aumento expressivo dos descontos na atual gestão. O valor total subiu de R$ 536,3 milhões em 2021 e R$ 706,2 milhões e 2022 para R$ 1,3 bilhão em 2023, já sob Lula, e R$ 2,6 bilhões em 2024. Não há, ainda, informações claras por parte do Executivo sobre como se dará o programa de ressarcimento das vítimas.

A demora na resposta do Planalto também deixou a oposição à vontade para explorar o assunto. Depois que o esquema veio a público, Lupi itiu que sabia das fraudes desde 2023. O que aconteceu em seguida foi uma semana de ruído político que desgastou a imagem da gestão Lula.

O Planalto ainda não lançou nenhum vídeo ou campanha nas redes sociais para rebater as falas de Nikolas. A resposta coube à ministra da Secretaria de Relações Institucionais (SRI), Gleisi Hoffmann, que se manifestou nesta quarta-feira. Ela repetiu a cartilha que o governo tem seguido desde que o esquema estourou: culpou o governo Bolsonaro, argumentou que as investigações só ocorreram porque a gestão Lula permitiu e questionou a versão do deputado mineiro sobre o assunto.

"Foi no governo Bolsonaro que quadrilhas criaram entidades fantasmas para roubar os aposentados, sem que nada fosse feito para investigá-las ou coibir sua ação no INSS. A maior parte das associações investigadas ou a atuar no governo Bolsonaro", declarou a ministra.

Gleisi apontou, também, uma inconsistência na fala de Nikolas, que em seu vídeo argumentou que o governo anterior editou uma medida provisória (MP) para coibir as fraudes. À época, o texto exigia a autorização individual para a realização dos descontos no INSS, com reavaliação periódica dos descontos. Segundo a ministra, no entanto, um projeto de lei aprovado pelo Congresso e sancionado por Bolsonaro retirou de vez a exigência de revalidação. "Não foi uma 'coisa da esquerda', como estão mentindo agora", enfatizou Gleisi.

A chefe da SRI afirmou que o governo trabalha para responsabilizar as entidades suspeitas. Ela assegurou que os valores serão devolvidos às vítimas. e ressarcidos eventualmente à União por todos os envolvidos no crime.

"É com o aprofundamento das investigações, que já estão sendo feitas pela Polícia Federal e pela CGU, que vamos encontrar as origens e os responsáveis por esse ataque aos aposentados. O momento exige medidas sérias e mudanças profundas, como o governo está fazendo. Exige a busca da verdade, não as mentiras oportunistas de quem não investigou nada e nunca se preocupou em proteger os aposentados", escreveu Gleisi.

Orientação

A estratégia adotada pelo Executivo é destacar que a investigação dos rees começou no atual governo e responsabilizar Bolsonaro pela crise. A orientação foi dada durante a primeira reunião, convocada por Lula de forma emergencial no dia em que a operação foi anunciada, 23 de abril, com a presença do ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Sidônio Palmeira, e tem sido reproduzida pelos líderes do governo e do PT na Câmara e no Senado.

O líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias, por sua vez, foi às redes sociais para responder o vídeo de Nikolas. Reforçou a participação do governo Lula na investigação e negou que os envolvidos ficarão impunes. “Quem descobriu esse esquema foi uma investigação que começou no governo do presidente Lula. Isso jamais aconteceria no governo anterior”, disse Lindbergh, que relembrou uma fala de Bolsonaro durante uma reunião ministerial em 2020.

Na época, o então presidente disse que não esperaria “f*” sua família toda para interferir na Polícia Federal e que trocaria até o ministro da Justiça e Segurança Pública para defender seus filhos de investigações, se fosse preciso. “Bolsonaro perdeu, mas os tentáculos do bolsonarismo continuaram no Estado, fazendo estrago, destruindo as instituições e roubando os aposentados”, afirmou Lindbergh.

*Estagiário sob a supervisão de Cida Barbosa

 

 

postado em 08/05/2025 03:55
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