Estamos ainda a distantes 520 dias do primeiro turno da eleição presidencial de 2026. Daqui até lá serão longas 74 semanas, com o tradicional caminho devidamente trilhado: definição de candidaturas, início da campanha, debates até a divulgação do resultado das urnas etc. O roteiro traçado até agora, entretanto, nos indica que teremos um grande repeteco das últimas disputas pelo Palácio do Planalto, principalmente em relação a 2018 e 2022, com uma polarização exacerbada, com sinais de que o radicalismo político só tende a aumentar.
A divulgação de que a Nike, com o aval da CBF, pretende que a Seleção Brasileira utilize uma camisa vermelha na Copa do Mundo dos Estados Unidos, México e Canadá é um bom exemplo. Bastou um site estrangeiro especializado no vazamento de roupas esportivas, o Footy Headlines, anunciar a novidade, que uma verdadeira comoção tomou conta dos políticos ligados ao espectro político da direita pela associação da cor ao partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
/webstories/2025/04/7121170-canal-do-correio-braziliense-no-whatsapp.html
Teve senador que ameaçou uma I para investigar a CBF. Teve um deputado federal que apresentou projeto de lei para proibir o uso do vermelho na camisa da Seleção. A repercussão se mostrou tão grande que a Confederação Brasileira de Futebol precisou soltar uma nota em que não nega a intenção de usar o vermelho em 2026, mas que "a nova coleção de uniformes para o Mundial ainda será definida em conjunto com a Nike".
Particularmente, considero um equívoco mexer nas cores da Seleção Brasileira. Nossa história vitoriosa no futebol mundial foi toda construída em cima do amarelo e do azul. Mas, ao mesmo tempo, não vejo nada errado, como estratégia de marketing, usar uma tonalidade diferente em determinada competição. A Alemanha, por exemplo, utilizou uma camisa rubro-negra na Copa do Mundo de 2014, disputada no Brasil — inclusive no dia do fatídico 7x1. A inspiração era o tradicional uniforme do Flamengo, o time mais popular do Oiapoque ao Chuí. Nada mais que uma tentativa de aproximar a equipe do país anfitrião.
- Leia também: Técnicos refletem sobre fase de declínio da Seleção
Em 1999, o sociólogo polonês Zygmunt Bauman, morto em janeiro de 2017, cunhou o conceito de modernidade líquida. Em linhas gerais, os dias atuais são muito mais "repletos de sinais confusos, propensos a mudar com rapidez e de forma imprevisível". "Vivemos em tempos líquidos. Nada foi feito para durar" é uma das frases mais famosas de Bauman.
Fazendo uma analogia, hoje existe uma espécie de "política líquida", aquela que muda com rapidez, em andamento no país. O debate "vermelho na Seleção" encaixa-se nessa situação. Concentra a discussão, mas não traz resultados duradouros à nação. Por ser um debate efêmero, logo é deixado de lado. Há outros. E não é preciso enumerar! Concorda?