
Chegamos a mais um fim de maio, e estou eu de novo aqui para falar de Rhuan Maycon, como fiz nos últimos seis anos. O profundo sofrimento que marcou a curta vida desse garotinho e sua morte atroz não podem cair no esquecimento. Ele merece que lembremos que esteve por aqui, que deveria ter tido uma vida plena e feliz, mas que não o deixaram ar dos 9 anos.
Esse foi um dos crimes mais abomináveis da história deste país. Rhuan foi esfaqueado até a morte na noite de 31 de maio de 2019, em Samambaia — o primeiro golpe, desferido enquanto dormia. A mãe e a comparsa dela o degolaram ainda vivo e esquartejaram o corpo. Segundo a investigação, foram motivadas por fanatismo religioso e um profundo ódio contra a criança, "pois representava o ado afetivo da mãe e era considerada um 'peso' na vida homoafetiva das envolvidas", de acordo com a conclusão da PCDF à época.
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As apurações mostraram, também, que o assassinato foi a covardia final contra Rhuan. Por anos, os dois seres sórdidos transformaram a vida do menino num martírio, com rotina de torturas físicas e psicológicas. Além disso, ele não podia brincar nem ir à escola. E um ano antes do homicídio, o menino teve o pênis decepado, numa "cirurgia caseira". Por complicações da mutilação, sentia dores lancinantes ao urinar. Apenas uma criança, submetida a tamanho suplício.
Relembrar tudo isso traz uma gama de emoções. Uma revolta extrema, um sentimento de impotência, mas, principalmente, uma tristeza que ainda sufoca, só de tentar imaginar o que Rhuan ou. A rotina de dor e medo, ada em silêncio, sem ter a quem recorrer, a quem pedir socorro.
A brutalidade contra Rhuan causou comoção no país, sim, porém não fez o Brasil evoluir na proteção de meninos e meninas. Como não foi capaz nenhuma outra das múltiplas perversidades diárias contra esse público. Seguimos a ignorar, acintosamente, a determinação da Constituição de que crianças, adolescentes e jovens devem ter seus direitos garantidos com "absoluta prioridade". Devem ser colocados "a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão".
Para Rhuan, o socorro não chegou, mas pode chegar para tantas vítimas que padecem, cotidianamente, todo tipo de violência. Vulneráveis, elas dependem do Estado, da sociedade, de cada um de nós. Se acabarmos com a persistente inércia criminosa, vamos ter um Brasil seguro para crianças e adolescentes, e não o país cruel e negligente que vemos desde sempre.