
O outono tem suas peculiaridades. Friozinho e céu azul convivem harmoniosamente, mas a estação também é um convite à proliferação de vírus e, consequentemente, de doenças que até então estavam hibernadas. Um deles é o vírus sincicial respiratório (VSR), responsável por cerca de 80% dos casos de bronquiolites e 40% das pneumonias entre bebês e crianças entre 0 e 4 anos. Sem falar nos idosos, pacientes com doenças cardiovasculares, com problemas pulmonares crônicos ou sistema imunológico baixo.
Agora em março, foram notificados 24.635 casos de síndrome respiratória aguda grave (SRAG) no país, entre os quais 9.336 tiveram resultado em laboratório para algum vírus respiratório. Em todo o mundo, o VSR causa 100 mil mortes por ano, o que comprova que a preocupação dos especialistas não é em vão.
Altamente contagioso, o VSR pode ser transmitido pelo ar, pelo contato direto pessoa a pessoa — seja por meio de gotículas de espirro, catarro ou saliva —, além de objetos contaminados, onde o vírus pode sobreviver por até 24 horas, a exemplo de copos, talheres ou em brinquedos.
Com a proximidade do inverno, em 20 de junho, é de se esperar que esses números aumentem ainda mais, devido à queda da temperatura. Por isso, pediatras e pneumologistas recomendam, entre outras medidas, que os cartões de vacinação das crianças estejam em dia, mesmo para outras doenças, ajudando a fortalecer o sistema imunológico e, dessa forma, evitando que o VSR se dissemine em escolas e creches.
A boa notícia é que, em fevereiro, o Ministério da Saúde aprovou a adoção de duas novas tecnologias no Sistema Único de Saúde (SUS) para prevenir complicações causadas por esse vírus. A primeira é o anticorpo monoclonal nirsevimabe, voltado para bebês prematuros e crianças de até 2 anos nascidas com comorbidades. A segunda — uma vacina recombinante contra os vírus sinciciais respiratórios A e B, aplicada em gestantes — tem efeitos positivos nos primeiros meses de vida dos bebês.
Estudos apresentados pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec) mostram que a expectativa é ampliar a proteção para cerca de 310 mil bebês prematuros nascidos com até 36 semanas. Já a vacina para gestantes tem potencial para evitar cerca de 28 mil internações por ano e oferece proteção imediata aos recém-nascidos, beneficiando aproximadamente 2 milhões de bebês nascidos vivos. Os maiores de 60 anos também serão protegidos, já que a eficácia de uma das vacinas é de 75% na primeira temporada após a imunização.
A má notícia é que a aprovação não significa implementação imediata. As novas tecnologias somente estarão disponíveis para a população, de acordo com a Lei nº 8.080/1990 e o Decreto nº 7.646/2011, em um prazo de 180 dias, prorrogáveis por mais 90. Ou seja, em até nove meses — provavelmente, no verão, estação cujos índices de propagação desse tipo de vírus é menor.
Há ainda o desafio de mobilizar adultos e responsáveis para que imunizem as crianças quando as fórmulas estiverem protegidas. De imediato, o que se espera é que uma estrutura de saúde esteja sendo preparada para o aumento de infecções e, consequentemente, de casos mais graves. Em média, de 2% a 3% das crianças com bronquiolite causada por VSR necessitam de hospitalização. Em idosos, a taxa de letalidade chega a 26%.