Em tempo de folia, proponho uma reflexão adaptada ao momento do futebol brasileiro: onde estão os nossos "carnavalescos", os técnicos do país capazes de nos hipnotizar com desfiles de timaços na arela da bola? Estamos reféns de treinadores importados. Nossa escola de samba da bola vive crise de identidade. Os últimos três times nota 10 são obras portuguesas: o Flamengo de Jorge Jesus; o Palmeiras de Abel Ferreira; e o Botafogo de Artur Jorge. Cuca e Fernando Diniz ousaram quebrar a regra nos brilharecos com o Atlético-MG de 2021 e o Fluminense de 2023.
Saudades do São Paulo do "carnavalesco" Telê Santana. Até quem não vestia o abadá tricolor ia atrás do trio elétrico de Raí e companhia no bi da Libertadores e do Mundial. O Barcelona, de Johan Cruyff, e o Milan, de Fabio Capello, sambaram diante daquele timaço.
Como faz falta o Palmeiras do início dos anos 1990. O "carnavalesco" do time era Vanderlei Luxemburgo, o responsável por domar foliões como Roberto Carlos, Edílson e Edmundo na Era Parmalat. Tempos do bi no Brasileirão, em 1993 e em 1994. Em 1996, a bateria do "Mestre Luxa" fez barulho no país com 102 gols em 30 jogos no Paulistão. Rivaldo, Djalminha, Luizão e Müller tinham samba no pé. Uma máquina de jogar!
Que nostalgia do Corinthians de Luxemburgo em 1998; e de Oswaldo de Oliveira de 1999 a 2000. A "ala dos istas" encantava: Vampeta, Rincón, Marcelinho e Ricardinho formavam uma meiúca brilhante. Edilson e Luizão eram os destaques do carro alegórico.
O "carnavalesco" Luxemburgo também brilhou com as fantasias do Cruzeiro, do maestro Alex, na Tríplice Coroa de 2003; e no espetáculo do Santos, em 2004. Ricardinho marcava o ritmo.
Luiz Felipe Scolari era o "carnavalesco" de um Grêmio histórico. Aquele da dupla de ataque perfeita: Paulo Nunes e Jardel assumiam o papel de mestre-sala e porta-bandeira do imortal tricolor campeão de quase tudo na metade dos anos 1990: Copa do Brasil, Libertadores, Brasileirão e vice no Mundial. Antônio Lopes forjou o Vasco de 1997 e 1998.
O "futebol bailarino" de Emerson Leão levantou a arquibancada com alegorias e adereços do meia Diego, e as pedaladas de Robinho. Muricy Ramalho era uma espécie de Imperatriz Leopoldinense com desfiles pragmáticos no tri do São Paulo, de 2006 a 2008, e na conquista do Fluminense, em 2010.
O "carnavalesco" Marcelo Oliveira pôs o bloco do Cruzeiro na rua em 2013 e em 2014 com Éverton Ribeiro e Ricardo Goulart. Dorival Júnior guiou o trio elétrico Ganso, Robinho e Neymar na Copa do Brasil de 2010. Em 2015, o enredo de Tite o levou do Corinthians para a Seleção.
A escola brasileira de técnicos está órfã de novas ideias, mas chega de nostalgia: A jovem guarda abre alas. André Jardine, Filipe Luís, Rogério Ceni, Sylvinho, Alex, Thiago Carpini e outros "carnavalescos" promissores estão comprometidos com a volta do futebol arte. Tomara que dê samba!