Esportes

Visão do Correio: é preciso punir o racismo no futebol

O Brasil, como potência no futebol e país que adota uma legislação específica contra o racismo, precisa estar à frente do movimento para punir aqueles que disseminam o ódio contra a cor da pele

Luighi, do Palmeiras , foi alvo de ataque racista em jogo contra o Cerro Porteño e não escondeu a revolta. -  (crédito: Cesar Greco/Palmeiras)
Luighi, do Palmeiras , foi alvo de ataque racista em jogo contra o Cerro Porteño e não escondeu a revolta. - (crédito: Cesar Greco/Palmeiras)

Na última quinta-feira, mais um atleta brasileiro foi alvo de ofensas racistas nos estádios de futebol. Desta vez, o episódio ocorreu no Paraguai, durante partida entre o Palmeiras e o Cerro Porteño, pela Libertadores sub-20. Além de sofrer cusparadas da torcida adversária, o atacante Luighi, 18 anos, viu e ouviu uma agressão tão inaceitável quanto recorrente: um homem se dirigiu a ele imitando gestos de um macaco. O racista segurava uma criança de colo, que infelizmente não tem consciência do alcance desse comportamento tão abjeto.

Luighi não escondeu a revolta. Chorou quando foi para o banco de reservas. E, também em lágrimas, em entrevista após o jogo para a Conmebol, disparou contra o segundo ato de violência que se tornou contumaz nesses momentos: a tentativa de normalizar o racismo. "É sério isso? Você vai perguntar sobre o jogo mesmo? A Conmebol vai fazer o que sobre isso? Você não ia perguntar sobre isso, né? Fizeram um crime comigo", protestou o jogador ao repórter.

Já ou da hora de os dirigentes do esporte mais popular do mundo tomarem medidas efetivas para que episódios ultrajantes como esses não se repitam. É preciso punir, sim, com rigor as federações e os clubes como resposta à conduta criminosa de torcedores. Assim como encontraram-se soluções para coibir a violência física em jogos de futebol — conhecida como hooliganismo —, é urgente adotar práticas que afastem dos estádios atos repugnantes como esse ocorrido no Paraguai. Na América do Sul, na Europa ou em vários outros cantos do planeta, o racismo continua presente. Trata-se da antítese dos princípios do esporte, que busca premiar os melhores atletas, independentemente de raça ou religião.

O presidente da República, a Confederação Brasileira de Futebol, a presidente do Palmeiras e os principais clubes brasileiros se juntaram ao movimento de repúdio ao ato racista contra Luighi. Entre as reivindicações, defende-se a retirada do Cerro Porteño da competição. Mas não basta. Enquanto prevalecer o entendimento de que punições pontuais são a solução para "casos isolados", atletas serão submetidos a toda sorte de humilhação, desrespeito e crimes quando estiverem em campo ou fora dele. É preciso uma ação mais ampla e rigorosa, que efetivamente faça a diferença no cotidiano do futebol.

O racismo é implacável até mesmo com atletas consagrados. Eleito melhor jogador do mundo em 2024, há muito o brasileiro Vini Jr. trava uma batalha, muitas vezes solitária, contra a intolerância racial. Mesmo quando recebeu o título da Fifa, o craque do Real Madrid e da Seleção Brasileira continuou a ser alvo de ofensas, particularmente nas redes sociais. E continua a ser ofendido quando está em campo, como se viu na semana ada. Em um exemplo de determinação, Vini Jr. tem reiterado que não pretende recuar ante os ataques racistas. E enviou uma mensagem de solidariedade ao jovem atacante Luighi.

Diga-se: na fatídica partida contra o Cerro Porteño, o Palmeiras venceu por categóricos 3x0. Sem ofensas e com gols. Na bola e no futebol. O Brasil, como potência no esporte de apelo global e país que adota uma legislação específica contra o racismo, precisa estar à frente do movimento para punir aqueles que disseminam o ódio contra a cor da pele. Basta de racismo. Nos estádios e fora deles.

 


Correio Braziliense
postado em 09/03/2025 06:01
x