Artigo

Sensibilidade e ação

O momento desafia: agir ou seguir no cômodo conforto do nada. Normalizar situações e assistir, como mero espectador situações que se pode interferir, deve fazer parte da mudança de perspectiva de vida

 Palestinos circulam entre os escombros de edifícios destruídos no campo de refugiados palestinos de Jabalia, no norte da Faixa de Gaza -  (crédito:  AFP)
Palestinos circulam entre os escombros de edifícios destruídos no campo de refugiados palestinos de Jabalia, no norte da Faixa de Gaza - (crédito: AFP)

Mal começamos o ano e a vida já apresenta desafios. Não são poucos. Às vezes, bem próximos de nós, outros mais distantes. Quando está longe, fica mais fácil fingir que não se vê ou simplesmente que não existe. É a velha máxima que guia muita gente: "Não se envolva"; "Não te mete". Mas tudo ou quase tudo gira em torno de um único tema: sensibilidade. O Brasil, assim como o mundo, caminha para situações em que o olhar das pessoas é colocado à prova sobre agir ou ficar parado. A confortável posição de espectador deve ser revista porque apenas acompanhar os fatos sem se posicionar nem agir está praticamente impossível.

No mundo, duas grandes guerras se apresentam com centenas de vítimas, fora os conflitos isolados em países que pouco têm a atenção da imprensa. Ao olhar para o Oriente Médio, lá estão israelenses e palestinos, povos primos e que divergem historicamente, enquanto russos e ucranianos, irmãos no ado, seguem para três anos ininterruptos de total falta de paz.

Apenas os insensíveis conseguem acompanhar essas situações sem imaginar as famílias destruídas, as casas demolidas, a ausência absoluta de perspectivas para crianças e jovens que estão começando a vida. Nos altos escalões, líderes discutem "soluções" em que a arrogância e a pretensão se sobrepõem ao que realmente interessa. Assim, mais uma vez, prioridades, como comida, saúde, educação e segurança, são deixadas de lado.

Guerras, confrontos armados, não podem ser regra numa vida. Inacreditável imaginar que há quem diga que determinados povos "se acostumaram" a viver assim. Não. Ninguém se acostuma. Não há mãe nem pai que queira que seu filho ou sua filha lute numa guerra. Aceita, porque as circunstâncias obrigam, mas querer? Impossível.

No nosso Brasilzão, as exceções são celebradas com destaque e manchete. É o trabalhador rural que, depois de anos, consegue ser aprovado para medicina numa universidade renomada. O idoso, que, aposentado, finalmente faz a faculdade dos sonhos. A mulher em situação de rua que reconstruiu a vida. Como assim? Todos deveriam ter as mesmas chances e possibilidades. Sensibilidade para compreender que pessoas são submetidas a determinadas circunstâncias não porque querem, mas por não terem outra opção. Sensibilidade para contribuir e fazer que mude esse cenário.

É importante olhar para si e pensar: o que eu, humildemente, no meu lugar aqui, posso fazer? Seguir no "nada" ou levantar e colocar a mão na massa? Há mais de meio século, Hannah Arendt alertou sobre o risco da banalidade do mal, da normalização e das ameaças que estão à nossa frente, mas, por conveniência ou puro comodismo, nossa compreensão entende em um outro ângulo. O desconforto de ouvir opiniões diferentes e dos cutucões da vida são fundamentais para nos mostrar: a sensibilidade é que nos guia e nos diferencia num planeta cada vez mais hostil. 

Renata Giraldi
postado em 17/02/2025 07:00
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