OPINIÃO

Responsabilidade do homem

Socialmente, as responsabilidades da concepção, gestação e criação caem em cima das mulheres. Mas e se as regras fossem alteradas e os homens fossem proibidos de ejacular em finalidade reprodutiva?

Jogar a responsabilidade reprodutiva para as mulheres não é nada normal: no reino animal, diversas espécies tem o macho com o comprometimento de gestar e criar os filhotes. É o caso dos cavalos marinhos  -  (crédito: Youtube/
CLICK PLANETA TERRA)
Jogar a responsabilidade reprodutiva para as mulheres não é nada normal: no reino animal, diversas espécies tem o macho com o comprometimento de gestar e criar os filhotes. É o caso dos cavalos marinhos - (crédito: Youtube/ CLICK PLANETA TERRA)

Ao longo dos anos, diversas responsabilidades foram designadas a pessoas do sexo feminino. Certo modo de comportamento, certo modo de relação. Além das características biológicas, a pressão social para que fossem assegurados às mulheres certos deveres fazem parte da história humana. Óbvio, tais pressões também foram impostas aos homens, contudo, com uma régua um pouco diferente. O tempo mostra, agora, a importância de equilibrar tais responsabilidades. Sim, eu sei que alguns de vocês lendo essas linhas agora devem estar pensando "mas homens têm muitas responsabilidades também". Certo, isso é claro. Nenhuma dessas, entretanto, é a de engravidar.

Os homens podem, sim, ajudar a prevenir gravidez indesejada, especialmente com o uso de preservativos. Mas a grande verdade é que a gestação e o cuidado com a criação de bebês ainda é socialmente encarada como uma responsabilidade maior das mulheres do que dos homens. 

E essa responsabilidade ultraa o período de gestação e nascimento. Desde a concepção, 50% dessa responsabilidade tem de ser compartilhada com os homens.

No finalzinho da semana ada, surpreendeu-me uma visão sarcástica e chocante sobre o assunto. Uma matéria feita pela repórter Gabriella Braz mostra os detalhes de um projeto de lei polêmico proposto por um senador norte-americano sobre o tema. Sob o título Senador dos EUA quer proibir homens de ejacularem sem fins reprodutivos, o texto chamou a atenção de internautas. 

Apesar da medida pouco ortodoxa, a ideia do senador democrata Bradford Blackmon faz sentido. O projeto do político versa sobre como a política do país legisla sobre o corpo das mulheres, ao o que a maioria das leis de contracepção ou aborto viram a responsabilidade da reprodução humana para o sexo feminino. Não seria justo, então, regulamentação sobre o assunto para os homens?

"Estou tentando descobrir quando não é aceitável para o governo ditar o que você faz na privacidade de sua própria casa, aparentemente é quando as leis regulam os homens", escreveu o senador em uma declaração publicada nas redes sociais para a imprensa.

Pode parecer extremo, mas sou um defensor de que certas opressões só podem ser corrigidas se voltadas aos algozes. Nada mais efetivo do que fazer alguém sofrer algo que o próprio criou. Não é questão de ser "olho por olho", é uma questão de justiça e responsabilidade: se existem leis relacionas à reprodução humana, que sejam aplicadas também aos homens.

Naturalmente, a proposta de Blackmon não deve ar de uma moção, mas é uma oportunidade para se discutir sobre a discrepância entre homens e mulheres em relação a deveres reprodutivos e sobre como nós, em sociedade, precisamos refletir sobre compromissos. Leis que ditam ações e limites para as pessoas de determinado país não devem ter distinção de gênero. A responsabilidade tem de ser geral.

 


Ronayre Nunes
postado em 03/02/2025 06:01
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