{ "@context": "http://www.schema.org", "@graph": [{ "@type": "BreadcrumbList", "@id": "", "itemListElement": [{ "@type": "ListItem", "@id": "/#listItem", "position": 1, "item": { "@type": "WebPage", "@id": "/", "name": "In\u00edcio", "description": "O Correio Braziliense (CB) é o mais importante canal de notícias de Brasília. Aqui você encontra as últimas notícias do DF, do Brasil e do mundo.", "url": "/" }, "nextItem": "/opiniao/#listItem" }, { "@type": "ListItem", "@id": "/opiniao/#listItem", "position": 2, "item": { "@type": "WebPage", "@id": "/opiniao/", "name": "Opinião", "description": "Leia editoriais e artigos sobre fatos importantes do dia a dia com a visão do Correio e de articulistas selecionados ", "url": "/opiniao/" }, "previousItem": "/#listItem" } ] }, { "@type": "NewsArticle", "mainEntityOfPage": "/opiniao/2025/01/7034442-a-democracia-deixou-o-tempo-da-brilhantina.html", "name": "A democracia deixou o tempo da brilhantina?", "headline": "A democracia deixou o tempo da brilhantina?", "description": "", "alternateName": "40 anos da redemocratização", "alternativeHeadline": "40 anos da redemocratização", "datePublished": "2025-01-15T06:00:00Z", "articleBody": "<p class="texto"><strong>Sebastião Gilberto Mota Tavares</strong><span class="gmail_default"> — </span>Procurador da Fazenda Nacional, autor e mestre em direito</p> <p class="texto">Foi em Kish… Foi em Kish (Quis ou, ainda, Quixe), segundo as tabuletas cuneiformes da Antiga Suméria, que a realeza — o que poderíamos chamar de governo ou, mais amplamente, de estado — foi dada à humanidade. O sítio arqueológico de Kish está, atualmente, a cerca de 25 km a oeste da cidade iraquiana de Al-Hilla, e foi lá, de fato, que Ninurta, representando os demais deuses, teria constituído uma realeza para que servisse de intermediária entre os deuses e os homens. Aparentemente, os deuses não queriam mais governar as coisas corriqueiras das cidades e aram essa tarefa para a humanidade através, precisamente, de um "governo" real.</p> <p class="texto">O sangue da realeza era igual ao dos demais homens, mas, como os reis aram a servir de porta-voz da humanidade, não foi demais dizer que eles também, eventualmente, poderiam ter alguma "gota" do sangue dos deuses. A partir daí, a lei da linhagem real, a lei da semente, jamais seria abandonada: o herdeiro seria aquele que descendesse do sangue real, preferindo-se o que tivesse mais "sangue puro". Posteriormente, tal lei seria levemente alterada, pois deu lugar à lei da primogenitura: o rei seria o(a) filho(a) mais velho(a), sendo desimportante o quão perto ou longe estivessem os demais filhos em relação à pureza do sangue. Nesse sentido, o(a) filho(a) mais velho(a) de um rei com a sua rainha plebeia, por exemplo, herdaria o trono, preferindo ao(à) filho(a) que esse rei, eventualmente, tivesse tido com a sua irmã…</p> <p class="texto">E, assim, pelos séculos, foi ocorrendo, até que os gregos, utilizando-se do ferramental que tinham acabado de aprimorar — a filosofia —, disseram não à lei da linhagem/primogenitura e desenvolveram o conceito político de democracia. Políbio, que era historiador e, por isso, talvez tenha ado um pouco indiferente à filosofia política, comentando as formas puras e impuras de Aristóteles, dizia que, na realidade, tais formas seguiriam um ritmo "natural", começando com a monarquia e terminando com a democracia. O perigo não era a democracia, mas a "oclocracia", termo que significa, basicamente, um desgoverno provocado pelo furor e irracionalidade das multidões, que agiriam fora do direito — e, colocaríamos nós, fora da Justiça.</p> <p class="texto">No final das contas, o que temos é o que, séculos depois, Maquiavel diria: "Ou temos uma monarquia ou temos uma república", que ariam a ser movimentadas pela democracia. De fato, a monarquia se tornaria uma monarquia constitucional e a república, uma república federalista. Em ambos os casos, a democracia teria chegado à sua "adolescência", na qual nutríamos expectativas louváveis e altivas de que ela ajudaria a humanidade a chegar à liberdade, igualdade, fraternidade e à felicidade.</p> <p class="texto">Falar de adolescência lembra-nos a brilhantina, como em Grease. Um tempo de alegrias, de forças explodindo, de saúde, de belezas, de vigor e de buscas de aventuras, mas um tempo também de inconsequência e de ausência, senão completa, quase completa, de experiência da vida — ou seja, de saber como a vida realmente é. Já não podemos, ados cerca de 300 anos da Revolução sa, considerar a democracia ainda na sua fase "adolescente". Olhando para o ado, podemos verificar que, por ela, não foram eleitos apenas regimes sóbrios e comprometidos, mas também regimes tirânicos e ditatoriais — e o caso de Hitler é só um exemplo. Isso nos leva a abandonar uma visão lúdica ou adolescente da democracia, na qual tudo é puro, para considerá-la adentrando a sua fase adulta, pois, hoje, sabemos não ser ela perfeita nem nos levar à felicidade plena.</p> <p class="texto">Contudo, ela é o melhor que o ser humano pôde conceber sem a ajuda não dos deuses, mas de Deus. Sem a ajuda de Deus, a democracia é o melhor que pudemos criar. Ela se opõe, diametralmente, à ideia de que existem homens "divinos", "predestinados" a governar — ou a massacrar — e nos coloca diante da evidência inexorável de que quem nos governa nada mais é do que um de nós mesmos. Sem ela, haveríamos de continuar esperando um sinal dos céus, como outrora ocorria em Kish. Por isso, devemos olhar para a democracia do jeito que a vida impõe, sem as expectativas e inconsequências dos tempos da brilhantina, mas com a esperança firme — aproveitando o ano jubilar — de que continuaremos a aprimorá-la cada vez mais.</p> <p class="texto">Somos, nesse sentido, mais "polibianos" do que aristotélicos, pois não tememos a democracia, que preferimos quanto a qualquer outro regime, inclusive, àqueles que pretendam se basear em "mitologias celestiais". Aliás, no caso brasileiro, onde, em tempos recentes, amos a duvidar da lisura dos pleitos eleitorais, o que significa duvidar da própria democracia, inclusive, em janeiro, o que pode ser atribuído, salvo melhor juízo, a uma possível mentalidade adolescente, sem muita consequência e experiência de vida, mais se torna necessário indagar: será que a democracia brasileira, ao invés de seguir firme e forte à fase adulta, está voltando mesmo aos tempos da brilhantina?</p> <p class="texto"><div class="read-more"> <h4>Saiba Mais</h4> <ul> <li> <a href="/opiniao/2025/01/7034451-a-vida-numa-conversa.html"> <amp-img src="https://midias.correiobraziliense.com.br/_midias/jpg/2025/01/14/130125dig02-44679134.jpg?20250114151422" alt="" width="150" height="100"></amp-img> <div class="words"> <strong>Opinião</strong> <span>A vida numa conversa</span> </div> </a> </li> <li> <a href="/opiniao/2025/01/7034436-eles-continuam-aqui.html"> <amp-img src="https://midias.correiobraziliense.com.br/_midias/jpg/2025/01/14/pri_1601_opini-44724275.jpg?20250114202442" alt="" width="150" height="100"></amp-img> <div class="words"> <strong>Opinião</strong> <span>Eles continuam aqui</span> </div> </a> </li> <li> <a href="/opiniao/2025/01/7033857-visao-do-correio-democracia-exige-vigilia-permanente.html"> <amp-img src="/dapressmidia/CB/PRO/2014/02/20/media/CBPFOT200220142511.jpg?20250113204427" alt="" width="150" height="100"></amp-img> <div class="words"> <strong>Opinião</strong> <span>Visão do Correio: Democracia exige vigília permanente</span> </div> </a> </li> </ul> </div></p> <p class="texto"> <br /></p>", "isAccessibleForFree": true, "image": [ "https://midias.correiobraziliense.com.br/_midias/jpg/2024/02/17/1200x801/1_000_336p9nl_e1681499585830_750x444-35078473.jpg?20250103171436?20250103171436", "https://midias.em.com.br/_midias/jpg/2024/02/17/1000x1000/1_000_336p9nl_e1681499585830_750x444-35078473.jpg?20250103171436?20250103171436", "https://midias.correiobraziliense.com.br/_midias/jpg/2024/02/17/800x600/1_000_336p9nl_e1681499585830_750x444-35078473.jpg?20250103171436?20250103171436" ], "author": [ { "@type": "Person", "name": "Opinião", "url": "/autor?termo=opiniao" } ], "publisher": { "logo": { "url": "https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fimgs2.correiobraziliense.com.br%2Famp%2Flogo_cb_json.png", "@type": "ImageObject" }, "name": "Correio Braziliense", "@type": "Organization" } }, { "@type": "Organization", "@id": "/#organization", "name": "Correio Braziliense", "url": "/", "logo": { "@type": "ImageObject", "url": "/_conteudo/logo_correo-600x60.png", "@id": "/#organizationLogo" }, "sameAs": [ "https://www.facebook.com/correiobraziliense", "https://twitter.com/correiobraziliense.com.br", "https://instagram.com/correio.braziliense", "https://www.youtube.com/@correio.braziliense" ], "Point": { "@type": "Point", "telephone": "+556132141100", "Type": "office" } } ] } { "@context": "http://schema.org", "@graph": [{ "@type": "SiteNavigationElement", "name": "Início", "url": "/" }, { "@type": "SiteNavigationElement", "name": "Cidades DF", "url": "/cidades-df/" }, { "@type": "SiteNavigationElement", "name": "Politica", "url": "/politica/" }, { "@type": "SiteNavigationElement", "name": "Brasil", "url": "/brasil/" }, { "@type": "SiteNavigationElement", "name": "Economia", "url": "/economia/" }, { "@type": "SiteNavigationElement", "name": "Mundo", "url": "/mundo/" }, { "@type": "SiteNavigationElement", "name": "Diversão e Arte", "url": "/diversao-e-arte/" }, { "@type": "SiteNavigationElement", "name": "Ciência e Saúde", "url": "/ciencia-e-saude/" }, { "@type": "SiteNavigationElement", "name": "Eu Estudante", "url": "/euestudante/" }, { "@type": "SiteNavigationElement", "name": "Concursos", "url": "/euestudante/concursos/" }, { "@type": "SiteNavigationElement", "name": "Esportes", "url": "/esportes/" } ] } 1i2p3z

A democracia deixou o tempo da brilhantina? 464i45
40 anos da redemocratização

A democracia deixou o tempo da brilhantina? 4vc3m

Já não podemos, ados cerca de 300 anos da Revolução sa, considerar a democracia ainda na sua fase "adolescente". Hoje, sabemos não ser ela perfeita nem nos levar à felicidade plena 225q5u

Sebastião Gilberto Mota TavaresProcurador da Fazenda Nacional, autor e mestre em direito

Foi em Kish… Foi em Kish (Quis ou, ainda, Quixe), segundo as tabuletas cuneiformes da Antiga Suméria, que a realeza — o que poderíamos chamar de governo ou, mais amplamente, de estado — foi dada à humanidade. O sítio arqueológico de Kish está, atualmente, a cerca de 25 km a oeste da cidade iraquiana de Al-Hilla, e foi lá, de fato, que Ninurta, representando os demais deuses, teria constituído uma realeza para que servisse de intermediária entre os deuses e os homens. Aparentemente, os deuses não queriam mais governar as coisas corriqueiras das cidades e aram essa tarefa para a humanidade através, precisamente, de um "governo" real.

O sangue da realeza era igual ao dos demais homens, mas, como os reis aram a servir de porta-voz da humanidade, não foi demais dizer que eles também, eventualmente, poderiam ter alguma "gota" do sangue dos deuses. A partir daí, a lei da linhagem real, a lei da semente, jamais seria abandonada: o herdeiro seria aquele que descendesse do sangue real, preferindo-se o que tivesse mais "sangue puro". Posteriormente, tal lei seria levemente alterada, pois deu lugar à lei da primogenitura: o rei seria o(a) filho(a) mais velho(a), sendo desimportante o quão perto ou longe estivessem os demais filhos em relação à pureza do sangue. Nesse sentido, o(a) filho(a) mais velho(a) de um rei com a sua rainha plebeia, por exemplo, herdaria o trono, preferindo ao(à) filho(a) que esse rei, eventualmente, tivesse tido com a sua irmã…

E, assim, pelos séculos, foi ocorrendo, até que os gregos, utilizando-se do ferramental que tinham acabado de aprimorar — a filosofia —, disseram não à lei da linhagem/primogenitura e desenvolveram o conceito político de democracia. Políbio, que era historiador e, por isso, talvez tenha ado um pouco indiferente à filosofia política, comentando as formas puras e impuras de Aristóteles, dizia que, na realidade, tais formas seguiriam um ritmo "natural", começando com a monarquia e terminando com a democracia. O perigo não era a democracia, mas a "oclocracia", termo que significa, basicamente, um desgoverno provocado pelo furor e irracionalidade das multidões, que agiriam fora do direito — e, colocaríamos nós, fora da Justiça.

No final das contas, o que temos é o que, séculos depois, Maquiavel diria: "Ou temos uma monarquia ou temos uma república", que ariam a ser movimentadas pela democracia. De fato, a monarquia se tornaria uma monarquia constitucional e a república, uma república federalista. Em ambos os casos, a democracia teria chegado à sua "adolescência", na qual nutríamos expectativas louváveis e altivas de que ela ajudaria a humanidade a chegar à liberdade, igualdade, fraternidade e à felicidade.

Falar de adolescência lembra-nos a brilhantina, como em Grease. Um tempo de alegrias, de forças explodindo, de saúde, de belezas, de vigor e de buscas de aventuras, mas um tempo também de inconsequência e de ausência, senão completa, quase completa, de experiência da vida — ou seja, de saber como a vida realmente é. Já não podemos, ados cerca de 300 anos da Revolução sa, considerar a democracia ainda na sua fase "adolescente". Olhando para o ado, podemos verificar que, por ela, não foram eleitos apenas regimes sóbrios e comprometidos, mas também regimes tirânicos e ditatoriais — e o caso de Hitler é só um exemplo. Isso nos leva a abandonar uma visão lúdica ou adolescente da democracia, na qual tudo é puro, para considerá-la adentrando a sua fase adulta, pois, hoje, sabemos não ser ela perfeita nem nos levar à felicidade plena.

Contudo, ela é o melhor que o ser humano pôde conceber sem a ajuda não dos deuses, mas de Deus. Sem a ajuda de Deus, a democracia é o melhor que pudemos criar. Ela se opõe, diametralmente, à ideia de que existem homens "divinos", "predestinados" a governar — ou a massacrar — e nos coloca diante da evidência inexorável de que quem nos governa nada mais é do que um de nós mesmos. Sem ela, haveríamos de continuar esperando um sinal dos céus, como outrora ocorria em Kish. Por isso, devemos olhar para a democracia do jeito que a vida impõe, sem as expectativas e inconsequências dos tempos da brilhantina, mas com a esperança firme — aproveitando o ano jubilar — de que continuaremos a aprimorá-la cada vez mais.

Somos, nesse sentido, mais "polibianos" do que aristotélicos, pois não tememos a democracia, que preferimos quanto a qualquer outro regime, inclusive, àqueles que pretendam se basear em "mitologias celestiais". Aliás, no caso brasileiro, onde, em tempos recentes, amos a duvidar da lisura dos pleitos eleitorais, o que significa duvidar da própria democracia, inclusive, em janeiro, o que pode ser atribuído, salvo melhor juízo, a uma possível mentalidade adolescente, sem muita consequência e experiência de vida, mais se torna necessário indagar: será que a democracia brasileira, ao invés de seguir firme e forte à fase adulta, está voltando mesmo aos tempos da brilhantina?

 

Mais Lidas 2f4e64