Entrevista exclusiva

"Há um genocídio em andamento", afirma a ativista Greta Thunberg ao Correio

Ativista ambiental e uma das 12 tripulantes do Madleen, o veleiro da Flotilha da Liberdade que tenta romper o bloqueio à Faixa de Gaza, acusa o mundo de um "silêncio mortal" sobre a matança de palestinos e avisa: "Não recuaremos"

Greta Thunberg a bordo do veleiro Madleen, ao lado da bandeira da Palestina:
Greta Thunberg a bordo do veleiro Madleen, ao lado da bandeira da Palestina: "Sou um ser humano e não posso me permitir ver o que acontece em Gaza e na Palestina, e não fazer nada" - (crédito: Arquivo pessoal)

Entre os 12 tripulantes do Madleen — o veleiro da coalizão da Flotilha da Liberdade que se aproxima da Faixa de Gaza com ajuda humanitária e tenta romper o bloqueio —, está a ativista ambiental Greta Thunberg. A sueca de 22 anos tornou-se um símbolo mundial da luta contra as mudanças climáticas. Em entrevista exclusiva ao Correio Braziliense, por meio do Telegram, Greta falou sobre o que motivou-a a fazer parte da missão humanitária, acusou Israel de cometer um "genocídio em andamento" e a "política de Estado de apartheid", e itiu que a tripulação do Madleen está preparada para uma invasão ou um ataque das Forças de Defesa de Israel (IDF). Ela também assegurou que o Brasil e outros países do Ocidente não fazem o suficiente para deter a matança em Gaza. "Eu vejo um silêncio mortal, ividade e ignorância sobre o que está acontecendo em Gaza", disse. 

Você se tornou símbolo da luta contra o aquecimento mundial. Por que decidiu integrar a tripulação do Madleen e fazer parte da Flotilha da Liberdade?

Porque, por alguma razão, tenho uma plataforma que posso utilizar para ampliar a conscientização sobre a situação na Faixa de Gaza. E, o mais importante: sou um ser humano e não posso me permitir ver o que acontece em Gaza e na Palestina, e não fazer nada. Se minha presença nesse barco pode fazer a diferença, então, estou disposta a fazer isso. 

Que mensagem você gostaria de enviar ao mundo sobre o que acontece em Gaza?

Há um genocídio em andamento, há uma fome sistemática de mais de 2 milhões de palestinos. Israel está bloqueando ajuda humanitária, como medicamentos de alimentos, impedindo-a de entrar em Gaza. Dessa forma, está assassinando pessoas. Isso depois de décadas de uma sufocante política de apartheid de Estado, de limpeza étnica, de ecocidios e de ocupação. É por isso que estamos navegando novamente. Desde 2008, a Flotilha da Liberdade tem tentado romper, de forma contínua, o cerco ilegal imposto a Gaza; e abrir um corredor humanitário. É isso que estamos tentando fazer novamente.

O barco Madleen teve 12 ativistas, entre eles Greta Thunberg e o brasiliense Thiago Ávila
O barco Madleen leva 12 ativistas, entre eles Greta Thunberg e o brasiliense Thiago Ávila (foto: Instagram)

Você está preocupada com uma possível interceptação do barco pelas forças israelenses?

Estamos nos preparando para cenários sobre como agir de forma não violenta durante um possível ataque em uma interceptação. De uma forma para maximizar a segurança, mas também o sucesso da missão. Estamos pretendendo ir a Gaza e seguimos neste rumo, mesmo que Israel tente ou não nos impedir. Nós sabemos que o que estamos fazendo é o certo. Este é um barco civil carregando ajuda humanitária, com 12 voluntários pacifistas a bordo, que não transportam armas, mas alimentos e medicamentos. Estamos navegando em águas internacionais, com a intenção de chegar a águas do território palestino. Deveria ser direito dos palestinos decidirem quem navega por suas águas ou não. 

O que a comunidade internacional deve fazer para responder ao massacre em Gaza? Há uma falta de vontade?

Eu vejo um silêncio mortal, ividade e ignorância sobre o que está acontecendo em Gaza. As pessoas sabem o que está acontecendo. As pessoas fizeram uma escolha por não agir e fazer tudo em seu poder para deter essa cumplicidade. Vejo uma falta de vontade imensa. 

O presidente Lula chamou a guerra em Gaza de "genocídio". Como você vê a influência do Brasil na tentativa de se alcançar um cessar-fogo?

O Brasil, assim como outras nações... Não acho que estejam fazendo o bastante. Os governos podem fazer muito mais, especialmente os governos do Ocidente, que têm enviado ajuda militar, financeira e midiática para Israel. Estão apoiando esse genocídio e, por isso, são cúmplices.

Como inspiração para tantos jovens no mundo, o que você sente vendo tantas crianças serem atingidas pela campanha militar de Israel?

Eu me sinto absolutamente com o coração partido todas as vezes que penso nessa situação e em quantas crianças têm que ar por esse inferno. Não se trata de meus sentimentos ou emoções sobre isso, mas eu me sinto inconsolável todas as vezes que penso nisso. Essa é uma das razões pelas quais estou aqui. Essa é uma das razões pelas quais nós estamos aqui e não recuaremos. 

postado em 08/06/2025 15:51
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