Entrevista exclusiva

Embaixador palestino na ONU cobra volta de colonos a Israel

Depois de chorar pelas crianças de Gaza, no Conselho de Segurança, Riyad Mansour cobrou a prisão do premiê israelense, Benjamin Netanyahu, e acusou Israel de planejar a expulsão de 2 milhões de palestinos do território ocupado

Riyad Mansour, embaixador palestino na Organização das Nações Unidas -  (crédito: Eskinder Debebe/ONU)
Riyad Mansour, embaixador palestino na Organização das Nações Unidas - (crédito: Eskinder Debebe/ONU)

Riyad Mansour, embaixador palestino na Organização das Nações Unidas (ONU), foi às lágrimas, na quarta-feira (28/5), ao denunciar as mortes de crianças na Faixa de Gaza. O vídeo do desabafo e do choro do diplomata viralizou nas redes sociais. Nesta quinta-feira, Mansour falou ao Correio, por telefone, de Nova York, e condenou a manobra israelense na Cisjordânia, ao anunciar a construção de 22 assentamentos — a maior expansão de colônias judaicas em décadas. "Esses assentamentos, que são ilegais, têm que ser desmantelados e removidos, junto com os colonos que os habitam. Tenho confiança de que a comunidade internacional conseguirá, um dia, com a luta e a firmeza do povo palestino, cumprir com esse objetivo", disse. Ele também reforçou as acusações de genocídio contra Israel e cobrou ação da comunidade internacional.  

Como o senhor vê a decisão de Israel de construir mais 22 assentamentos na Cisjordânia?

Não cabe a Israel continuar violando o direito internacional, especialmente o direito humanitário internacional, além das decisões da Corte Internacional de Justiça (CIJ), da comunidade internacional, da Assembleia Geral e do Conselho de Segurança da ONU. Sob o ponto de vista do direito internacional, assentamentos são ilegais. Portanto, como a CIJ estipulou, Israel tem não apenas que interromper as atividades em assentamentos, mas deve desmantelá-los. Os colonos têm que retornar para Israel. Eles estão ilegalmente no terra do estado da Palestina. Essa é a posição da comunidade internacional e da mais alta autoridade legal da ONU, a CIJ. Israel não pode impor suas próprias regras sobre a comunidade internacional. Essa é a lei da selva. É nosso dever coletivo impedi-los de fazer isso e responsabilizá-los por violar tais leis internacionais.

Na quarta-feira, o senhor chorou ao falar sobre as crianças em Gaza. Por que a comunidade internacional não faz o bastante para salvar vidas palestinas?

Acredito que os que cometem crimes contra crianças palestinas deveriam enfrentar a Justiça internacional. Nós, sinceramente, esperamos que os países-membros do Tribunal Penal Internacional (TPI) consigam prender (Benjamin) Netanyahu e Yoav Gallant (ex-ministro da Defesa) e enviá-los para a Corte Internacional de Justiça, a fim de que tenham a justiça e sejam responsabilizados pelos crimes cometidos contra o povo palestino, especialmente as crianças. 

A Rússia declarou que Israel comete punição coletiva em Gaza, enquanto outras nações acusam, mas não impõem sanções. O que pensa disso?

Acredito que a comunidade internacional está começando a impor sanções e a tomar medidas. Há poucos dias, durante uma reunião de alto nível, em Madri, um número de países, incluindo a Espanha, decidiu parar de enviar armamentos para Israel. Isso é uma sanção formal, de modo que Israel não tenha as ferramentas para continuar a impor punição coletiva ao povo palestino. Acho que haverá mais os a serem dados. Uma vez que nações corajosas comecem a impor sanções, elas serão seguidas por outras. 

Qual é a intenção de Israel com os bombardeios em Gaza?

O plano real de Israel é expulsar 2 milhões de palestinos da Faixa de Gaza. Eles querem corrigir os erros que cometeram por sua opinião em 1948, ao não expulsarem todos os palestinos da Palestina histórica. O objetivo real desse genocídio contra o povo palestino, na Faixa de Gaza, é colocá-lo na posição de que não há opção, exceto ser expulso e abandonar Gaza, para que eles cumpram com o sonho do sionismo, de que a Palestina é um país sem povo e que os judeus são um povo sem país. Temos que impedi-los de cometerem esse crime de guerra e esse crime contra a humanidade. Temos que manter o nosso povo em Gaza. Podemos realizar isso tendo um cessar-fogo, enviando ajuda humanitária e começando planos de reconstrução da Faixa de Gaza.

De que modo o Brasil pode auxiliar nesse processo?

Nós concordamos com o presidente Lula de que Israel comete genocídio contra o povo palestino. A CIJ está lidando com esse tema. Eles emitiram três ordens temporárias, determinando que Israel pare com esse genocídio, envie ajuda humanitária e abra as fronteiras. Como podemos parar isso? Todos temos que assumir responsabilidades coletivas. O Brasil e todos os países, precisam se preparar para essa conferência, entre 17 e 20 de junho, na ONU. Durante o evento, cada nação pode se comprometer com um conjunto de medidas práticas que serão implementadas para responsabilizar Israel e forçá-lo a parar com esses crimes, além de acelerar o fim dessa ocupação ilegal. 

postado em 30/05/2025 05:57
x