
"Queridos irmãos, se estão vendo este vídeo, é porque fui detido, sequestrado pela ditadura de Nicolás Maduro. Essa luta tem sido difícil e complexa, pois enfrentamos um regime autoritário que decidiu manter-se no poder, apesar da impressionante manifestação da vontade popular que deu o povo venezuelano em 28 de julho", afirma o ex-deputado e líder opositor Juan Pablo Guanipa na gravação difundida pouco depois de sua prisão, em Caracas, nesta sexta-feira. O regime de Maduro acusa o político de supostamente comandar uma organização terrorista que atentaria contra as eleições legislativas e de governadores deste domingo. "É um dos líderes desta rede terrorista. Quatro celulares foram apreendidos, além de um laptop. Aí está todo o plano", declarou o ministro do Interior da Venezuela, Diosdado Cabello. "Ele se gabava, zombava, acreditava ser intocável, invisível, mas os órgãos de segurança do Estado venezuelano demonstraram , com sua eficiência, que ninguém aqui é invisível. Não há ninguém invisível."
Guanipa não disputará nenhum cargo nas eleições deste domingo. Na clandestinidade desde julho de 2024, é um dos mais importantes aliados da deputada opositora cassada María Corina Machado, com quem apareceu durante uma manifestação em 9 de janeiro para protestar contra o terceiro mandato de Maduro. Ex-prefeito de Caracas, ex-preso politico e coordenador do Conselho Político Internacional de Machado, Antonio Ledezma classificou Guanipa como "um herói que luta pela liberdade na Venezuela". "É uma das peças-chaves da equipe que, na clandestinidade, acompanha María Corina Machado. O regime montou caçada contra ele. Mas, Guanipa estava preparado, moral e animicamente, para a prisão", afirmou ao Correio. Segundo Ledezma, Maduro realiza detenções arbitrárias. "Em 2014, ele foi denunciado como autor de crimes de lesa humanidade. Sob suas ordens, cerca de 30 mil cidadãos foram privados de liberdade. Maduro judicializa a política e criminaliza a oposição", acrescentou.
Para o ex-deputado opositor Julio Borges, hoje exilado na Espanha, a detenção de Guanipa foi uma espécie de vingança pela saída das pessoas abrigadas na Embaixada da Argentina, em Caracas. "Aqueles venezuelanos eram um troféu muito apreciado pela ditadura de Maduro. No episódio, Cabello saiu totalmente humilhado", explicou ao Correio. "No âmbito da vingança, a ditadura anunciou que levou à prisão mais de 70 pessoas. A essa ditadura, a única coisa que resta são a imposição do medo e da força bruta. Eles sabem que as eleições serão um fracasso. Por isso, proibiram os voos da Colômbia para a Venezuela, pois querem evitar que jornalistas, ativistas e observadores independentes testemunhem o fracasso dessa eleição, que considero uma farsa."