
O diretor de ajuda humanitária das Nações Unidas (ONU), Tom Fletcher, disse à BBC na terça-feira (20/05) temer que 14 mil bebês poderiam morrer nas 48 horas seguintes se a ajuda humanitária não chegar a Gaza.
Questionado sobre como havia chegado a esse número, Fletcher afirmou que havia "equipes em campo" operando em centros médicos e escolas, mas não forneceu mais detalhes.
Depois, ao ser procurado pela BBC, o Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU (Unocha) respondeu: "Estamos apontando para a necessidade urgente de enviar suprimentos para salvar cerca de 14.000 bebês que sofrem de desnutrição aguda grave em Gaza, conforme alertado pelo parceiro IPC. Precisamos enviar suprimentos o mais rápido possível, idealmente nas próximas 48 horas."
O IPC, sigla em inglês para Classificação Integrada de Fases da Segurança Alimentar, é uma iniciativa que trabalha e produz dados sobre nutrição.
Um comunicado do IPC, datado de 12 de maio, afirmou que 14.100 casos graves de desnutrição aguda devem ocorrer em crianças com menos de 6 anos entre abril de 2025 e março de 2026 na Faixa de Gaza.
Ou seja, o relatório do IPC afirma que isso pode ocorrer ao longo de quase um ano — não em 48 horas.
Perguntado sobre esses dados em uma entrevista coletiva, o porta-voz do Unocha, Jens Laerke, disse: "Por enquanto, deixe-me apenas dizer que sabemos com certeza que há bebês que precisam urgentemente desses suplementos para salvar suas vidas, e que precisam ser utilizados porque suas mães não conseguem se alimentar sozinhas."
"Se eles não os receberem, estarão em perigo de morte", disse ele.
Israel está promovendo um bloqueio a Gaza. Nenhum alimento, combustível ou remédio estava sendo autorizado a entrar em Gaza desde 2 de março — uma situação que a ONU já descreveu como um "preço desastroso" a ser pago pela população palestina.
No domingo (18/05), Israel ou a autorizar a entrada de ajuda humanitária, mas em pequena quantidade.
Fletcher, que é secretário-geral-adjunto para Assuntos Humanitários das Nações Unidas, disse que os cinco caminhões de ajuda chegaram a Gaza na segunda-feira (19) eram apenas uma "gota no oceano" comparado ao que seria necessário.
É preciso "inundar a Faixa de Gaza com ajuda humanitária", afirmou.
Fletcher elogiou uma declaração conjunta de Reino Unido, França e Canadá criticando Israel. Ele disse que o "verdadeiro teste" da intenção de Israel de facilitar o o a ajuda humanitária está acontecendo agora.
O diretor acrescentou que a ONU está "exigindo" que o mundo a apoie na pressão para que Israel permita a entrada de mais ajuda e alcance pessoas que estão "morrendo de fome".

Na segunda-feira, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, afirmou que a decisão de permitir a entrada de uma quantia "mínima" de ajuda, após 11 semanas de bloqueio a Gaza, foi consequência da pressão de aliados.
"Não devemos chegar a uma situação de fome, tanto do ponto de vista prático quanto diplomático", disse Netanyahu.
Ele acrescentou que os "maiores amigos de Israel no mundo" expressaram preocupação com "imagens de fome em massa".
Israel afirma que o bloqueio visa pressionar o Hamas, que ainda mantém 58 reféns — acredita-se que até 23 deles estejam vivos.
Israel acusa o Hamas de roubar ajuda humanitária — algo que o grupo nega.
Netanyahu afirma que, até que Israel consiga estabelecer "uma área estéril sob controle das Forças de Defesa de Israel (IDF) para distribuição de alimentos e medicamentos", permitirá apenas uma quantia "mínima e básica" para evitar a fome.
Palestinos no norte de Gaza disseram à BBC que estão com dificuldades para encontrar comida – e temem que a ajuda limitada que agora está sendo permitida não chegará até eles.
"Não conseguimos encontrar um pedaço de pão para alimentar nossos filhos... como conseguiremos ajuda do sul? Será difícil para nós irmos para lá. Estamos vivendo uma tragédia", diz um homem na Cidade de Gaza.
"As pessoas começaram a desmaiar por falta de comida e fome. Não sabemos o que dar para alimentar nossos filhos. Não há lentilhas, arroz ou farinha disponíveis, nem qualquer outro tipo de alimento. Não há legumes disponíveis. Ninguém tem dinheiro para comprar um tomate. Ninguém consegue comprar um saco de farinha."
Outro homem, Abu Salem, está desesperado por "[suprimentos] básicos como petróleo, açúcar e gasolina".
"Precisamos de comida para as crianças", diz ele.
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