
As mensagens chegaram aos e-mails dos funcionários públicos federais dispensados ainda na madrugada. "Essa ação de Redução em Força (RIF, pela sigla em inglês) não reflete diretamente sobre seu serviço, desempenho ou conduta", afirmava o texto enviado pelo Departamento de Saúde e de Serviços Humanos (HHS), o equivalente ao Ministério da Saúde brasileiro, no dia em que começaram as 10 mil demissões anunciadas pelo governo Donald Trump. De acordo com o jornal The Washington Post, alguns dos servidores descobriram que estavam sem emprego quando foram impedidos de ar o local de trabalho com o crachá.
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Muitos tiveram que fazer uma fila, do lado de fora do prédio do HHS, para serem informados sobre o futuro profissional. Com um orçamento de US$ 1,8 trilhão (ou R$ 10,2 trilhões), o HHS possuía em seu quadro, até anteontem, 80 mil funcionários. Um comunicado da pasta assegura que as demissões representam uma economia estimada em US$ 1,8 bilhão (R$ 10,3 bilhões), apenas 0,1% do total reservado para o HHS.
Robert F. Kennedy Jr., secretário de Saúde e sobrinho do presidente John F. Kennedy, defendeu a medida, em comunicado divulgado em 27 de março. "Não estamos apenas reduzindo a expansão burocrática. Estamos realinhando a organização com sua missão principal e com nossas novas prioridades para reverter a epidemia de doenças crônicas", explicou. Ontem, ele celebrou as contratações de Jay Bhattacharya, para o cargo de diretor dos Institutos Nacional de Saúde, e de Martin Makary, o novo comissário da Food and Drug istration (FDA) — a agência norte-americana responsável pela regulação de alimentos e de medicamentos.
"Revolução"
"Vamos restaurar as agências de saúde do HHS à sua rica tradição de ciência padrão-ouro, baseada em evidências, para enfrentar a epidemia de doenças crônicas e tornar a América saudável novamente", escreveu Kennedy na rede social X, ao modificar o slogan de Trump. "A revolução começa hoje!".
A onda de demissões levantou preocupações em relação à perda de expertise em saúde na esfera do governo federal, no momento em que os EUA enfrentam um dos mais graves surtos de sarampo dos últimos anos e a ameaça de uma eventual pandemia humana da gripe aviária. Funcionários do alto escalão das agências ligadas ao HHS receberam propostas de transferência para locais isolados do Alasca ou de Oklahoma.
Nancy Pelosi, ex-presidente da Câmara dos Representantes, considerou "irresponsáveis e perigosos" os cortes no setor da saúde. A deputada alertou que a decisão de Robert F. Kennedy Jr. e de Donald Trump prejudicará diretamente as comunidades mais vulneráveis dos Estados Unidos e tornará o país "mais doente". "Eu trabalharei com meus colegas no Congresso para lutar contra esses cortes míopes e irresponsáveis", prometeu.
Robert Califf, ex-comissário da FDA durante os governos de Barack Obama e de Joe Biden, traçou um diagnóstico catastrófico. "A FDA, tal como a conhecíamos, acabou, pois a maioria dos líderes com conhecimento institucional e uma compreensão profunda do desenvolvimento e segurança de produtos não está empregada", lamentou. A própria nomeação de Robert F. Kennedy Jr. para a chefia do HHS provocou cizânia.
"Um perigo"
Em 9 de dezembro, 77 laureados com o Nobel am uma carta em que externavam oposição à indicação, ante a visão negacionista de Kennedy e sua inexperiência como gestor de saúde. Durante entrevista ao Correio, em 29 de janeiro, Randy Schekman, ganhador do Nobel de Medicina em 2013 e professor de biologia molecular e celular na Universidade da Califórnia, Berkeley, afirmou que o julgamento de Kennedy sobre questões médicas é "profundamente falho". "Ele representa um perigo", alertou o médico.
Ele subiu à tribuna e discursou — por 24 horas!
O senador democrata Cory Booker não levou ao pé da letra o ditado "Para bom entendedor, meia palavra basta". Visivelmente irritado, ele subiu à tribuna do Senado às 19h de segunda-feira (20h pelo horário de Brasília). Até às 19h desta terça-feira, ele prosseguia com o discurso contra as "ações inconstitucionais" do presidente republicano, Donald Trump. Nas 24 horas de pronunciamento, Booker se abdicou de ir ao banheiro e mesclou críticas, poesia e esportes. Também respondeu às perguntas dos colegas. "Levanto-me esta noite porque sinceramente acredito que nosso país está em crise", disse o legislador por Nova Jersey no início do discurso. "Estes não são tempos normais nos Estados Unidos", acrescentou Booker, de 55 anos, com a voz embargada. O senador queixou-se do fato de que "americanos de todas as origentes am por dificuldades desnecessárias" e lembrou que algumas instituições, "que são únicas em nosso país", são atacadas "de maneira imprudente, e eu diria até inconstitucional".
Conta do Gmail para assuntos do governo
O assessor de segurança nacional do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e um membro de sua equipe utilizaram suas respectivas contas no Gmail para o trabalho, informou o jornal The Washington Post, que cita documentos e entrevistas com funcionários. Segundo a publicação, um alto cargo da equipe do assessor de segurança nacional Michael Waltz utilizou o Gmail para falar sobre posições militares e sistemas de armas, e o próprio Waltz recebeu sua agenda e outros documentos de trabalho em sua conta pessoal de e-mail. Waltz é alvo de críticas por ter incluído por engano o redator-chefe da revista The Atlantic em um chat, no mês ado, no aplicativo de mensagens Signal, para falar de ataques aéreos contra os rebeldes huthis no Iêmen.