
Ao se reunir, em Londres, com o primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, reiterou ontem que o apoio dos Estados Unidos é fundamental. Também fez postagens elogiosas ao governo norte-americano, indicando que está disposto a o acordo das terras raras e o plano para encerrar os três anos de guerra. Para os britânicos e líderes europeus, o ucraniano ou a representar uma espécie de resistência. O agravamento da tensão provocou uma reunião de emergência hoje em que 15 líderes da Europa estarão presentes: Ucrânia, França, Alemanha, Itália, Países Baixos, Espanha, Finlândia, Suécia, Dinamarca, República Tcheca, Polônia, Romênia e Turquia, além de Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e União Europeia.
O jornal
The Guardian reproduziu na íntegra a declaração de Zelensky nas redes sociais. "Somos muito gratos aos Estados Unidos por todo o apoio. Sou grato ao presidente (Donald) Trump, ao Congresso, por seu apoio bipartidário, e ao povo americano. Os ucranianos sempre apreciaram esse apoio, especialmente durante esses três anos de invasão em larga escala. A ajuda da América foi vital para sobrevivermos, e eu quero reconhecer isso. Apesar do diálogo difícil, continuamos parceiros estratégicos. É crucial para nós termos o apoio do presidente Trump. Ele quer acabar com a guerra, mas ninguém quer a paz mais do que nós. Somos nós que vivemos esta guerra."
A afirmação de Zelensky ocorreu no dia seguinte à discussão televisionada que teve com o presidente norte-americano, Donald Trump, na Casa Branca, em que ele acabou expulso do local. No encontro, o norte-americano ameaçou deixá-lo "sozinho", se não alcançar a paz com a Rússia. Starmer garantiu "apoio inabalável" ao ucraniano, que hoje deve se reunir com o Rei Charles. "Você tem total apoio do Reino Unido e nós estamos com a Ucrânia pelo tempo que for preciso", afirmou o primeiro-ministro. Do lado de fora da residência do britânico, dezenas de pessoas esperavam o britânico e o aplaudiram.
"Infâmia"
Unidos, os europeus saíram em defesa de Zelensky e com críticas severas a Trump e ao presidente da Rússia, Vladimir Putin. A União Europeia discute a possibilidade de rear um total de US$ 20 bilhões, segundo o The Washington Post. O presidente francês, Emmanuel Macron, disse estar disposto a "abrir a discussão" hoje sobre o tema e acusou o russo de ser o maior interessado em manter a guerra. Para a diplomacia alemã, a reação do líder norte-americano é "inqualificável" e mostra ter começado "uma nova era de infâmia".
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"Está claro que o mundo livre precisa de um novo líder. Cabe a nós, os europeus, assumirmos este desafio", exortou a chefe da diplomacia da União Europeia, Kaja Kallas. O ministro das Relações Exteriores da Turquia, Hakan Fidan, disse que está disposto a retomar a mediação de um eventual acordo entre Rússia e Ucrânia, como houve há três anos. "(Reiterando apoio à) integridade territorial, soberania e independência (da Ucrânia)."
O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban, exortou a União Europeia a iniciar negociações com a Rússia, ameaçando bloquear a próxima cúpula em Bruxelas, em uma carta enviada neste sábado ao presidente do Conselho Europeu António Costa, à qual a AFP teve o.
Ato de coragem
O mundo assistiu perplexo ao embate entre os dois líderes, sobretudo pelo tom de agressividade. Na Ucrânia, compatriotas aplaudiram a atitude de Zelensky. "Não tenho palavras", afirmou Roman Shkanov."Ele defendeu totalmente os nossos interesses, não deixou que nos arrastassem para uma espécie de escravidão", acrescentou.
"Você não pode ficar calado" quando Trump e o vice-presidente J.D. Vance "dizem essas bobagens", observou Valentin Burianov. "(Ele) fez o que deveria." Há pessoas, como a médica Anna Plachkova, que se sentiram ofendidas pessoalmente. "Trump tocou em um ponto sensível aqui, é uma acusação muito grave dizer que somos ingratos."
Os Estados Unidos forneceram à Ucrânia mais de US$ 60 bilhões em ajuda militar desde o começo da invasão russa, segundo dados oficiais. "O apoio dos Estados Unidos é muito importante. A discussão pode ter um grande impacto na nossa situação e no curso da guerra", afirmou. A estudante Lilia Ivanova, de 22 anos, disse que: "Tínhamos alguma esperança com Trump, mas ela está se desfazendo".
Desastre completo
Para os russos, porém, o embate entre Trump e Zelensky enterrou qualquer tentativa de acordo. O encontro foi definido como "completo fracasso político e diplomático", segundo a porta-voz da diplomacia russa, Maria Zakharova, acusando o dirigente ucraniano de "rejeitar a paz" com Moscou. Ela acusou o ucraniano de "rechaçar a paz" e fazer uso de "mentiras e manipulações para justificar a continuidade das hostilidades e o recebimento da ajuda militar e financeira do Ocidente".
"Com seu comportamento excessivamente grosseiro durante sua visita a Washington, Zelensky confirmou que é a ameaça mais perigosa para a comunidade internacional como um belicista irresponsável", afirmou Zakharova. Ela acusou os dirigentes europeus de "debilidade política" e "pequenez" por terem apoiado Zelensky diante da "lição de moral" que teria recebido em Washington.
A Rússia, que lançou sua operação contra a Ucrânia em fevereiro de 2022, reivindica principalmente que a Ucrânia ceda quatro províncias do leste e do sul do país, além da península da Crimeia anexada em 2014, bem como sua renúncia a integrar a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), condições inaceitáveis, segundo Kiev.
O secretário-geral da Otan, Mark Rutte, disse que pediu a Zelensky para "retomar" sua relação com Trump. "Temos que nos manter unidos, Estados Unidos, Ucrânia e Europa, para levar a Ucrânia uma paz duradoura", insistiu ele, que participa do encontro hoje.