{ "@context": "http://www.schema.org", "@graph": [{ "@type": "BreadcrumbList", "@id": "", "itemListElement": [{ "@type": "ListItem", "@id": "/#listItem", "position": 1, "item": { "@type": "WebPage", "@id": "/", "name": "In\u00edcio", "description": "O Correio Braziliense (CB) é o mais importante canal de notícias de Brasília. Aqui você encontra as últimas notícias do DF, do Brasil e do mundo.", "url": "/" }, "nextItem": "/mundo/#listItem" }, { "@type": "ListItem", "@id": "/mundo/#listItem", "position": 2, "item": { "@type": "WebPage", "@id": "/mundo/", "name": "Mundo", "description": "Fique por dentro sobre o que acontece no mundo. 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Os panamenhos comemoraram com alegria.</p> <p class="texto">O fim do milênio se aproximava, e a cena marcava o fim de uma era que causou protestos, tensões e mortes. Era a resolução do acordo assinado em 1977 entre o então presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter, e o líder panamenho, o general Omar Torrijos Herrera.</p> <p class="texto">O pacto abriu caminho para devolver o controle do canal estratégico ao país <a href="https://correiobraziliense-br.informativocarioca.com/portuguese/geral-58582209?xtor=AL-73-%5Bpartner%5D-%5Bcorreiobraziliense.com.br%5D-%5Blink%5D-%5Bbrazil%5D-%5Bbizdev%5D-%5Bisapi%5D">centro-americano</a>.</p> <p class="texto">"Foi impressionante ver a reação do povo do Panamá. Foi um momento muito delicado e realmente muito bonito na história moderna", disse Alberto Aleman Zubieta, que foi do canal durante vários anos, à reportagem.</p> <p class="texto">Hoje, a soberania da hidrovia interoceânica está mais uma vez no centro das notícias após as promessas de Trump.</p> <p class="texto">Em 7 de janeiro, Trump já havia tratado do assunto e deu sinais de que não vai desistir da ambição de obter o controle da Groelândia e do Canal do Panamá, classificando ambos como essenciais para a segurança nacional americana.</p> <p class="texto">Questionado por jornalistas se descartava o uso de força militar ou econômica para assumir o controle do território autônomo dinamarquês ou do canal, ele respondeu: "não, não posso garantir nada em relação a nenhum dos dois".</p> <p class="texto">Em dezembro, o então presidente eleito fez alusão às taxas cobradas aos navios americanos. "Estamos sendo enganados no Canal do Panamá", <a href="https://correiobraziliense-br.informativocarioca.com/portuguese/articles/cje9zzv01peo?xtor=AL-73-%5Bpartner%5D-%5Bcorreiobraziliense.com.br%5D-%5Blink%5D-%5Bbrazil%5D-%5Bbizdev%5D-%5Bisapi%5D">disse</a>.</p> <p class="texto">O político republicano sugeriu que, se isso não mudar, "exigiremos que o Canal do Panamá seja devolvido na íntegra aos Estados Unidos, rapidamente e sem perguntas". Não disse, no entanto, como pretende fazê-lo.</p> <p class="texto">Por sua vez, o presidente panamenho, José Raúl Mulino, respondeu contundentemente num comunicado publicado na rede social X: "Cada metro quadrado do Canal continuará pertencendo ao Panamá".</p> <p class="texto">Mas, voltando ao ado, como os Estados Unidos se apropriaram da Zona do Canal e o Panamá conseguiu recuperá-la há 25 anos?</p> <p class="texto">A BBC News Mundo, serviço em espanhol da BBC, relembra os acontecimentos que levaram ambas as nações a um acordo sem precedentes sobre a rota interoceânica que reconfigurou os padrões do comércio regional e global.</p> <figure><img src="https://ichef.bbci.co.uk/news/raw/sprodpb/1d03/live/b1e1cb80-bbbe-11ef-9dde-6380fe4ea45e.jpg" alt="Foto em preto e branco, com estudantes segurando bandeira panamenha " width="945" height="531" /><footer>Getty Images</footer> <figcaption>Estudantes panamenhos protestam na capital do país</figcaption> </figure> <h2>Uma guerra civil e uma oportunidade</h2> <p class="texto">A necessidade de construir uma agem que ligasse o Oceano Pacífico ao Oceano Atlântico era algo que preocupava os colonizadores europeus desde o século 16.</p> <p class="texto">Naquela época, o único o que tinham aos mares do sul era o Estreito de Magalhães, no sul do Chile, o que significava navegar enormes distâncias e enfrentar o perigoso clima do Cabo Horn.</p> <p class="texto">Foram avaliadas inúmeras ideias: um canal na Nicarágua, um em Tehuantepec (México), outro em <a href="https://correiobraziliense-br.informativocarioca.com/portuguese/internacional-62686752?xtor=AL-73-%5Bpartner%5D-%5Bcorreiobraziliense.com.br%5D-%5Blink%5D-%5Bbrazil%5D-%5Bbizdev%5D-%5Bisapi%5D">Darién</a>, na fronteira do Panamá com a Colômbia, e uma agem pelo istmo panamenho, que na época era território colombiano.</p> <p class="texto">Mas nenhuma dessas ideias se concretizaria até o século 19. A primeira grande aposta ocorreu em 1880, quando a Colômbia concedeu a concessão para a construção do canal a Fernando de Lesseps, engenheiro francês que havia construído o <a href="https://correiobraziliense-br.informativocarioca.com/portuguese/internacional-56601306?xtor=AL-73-%5Bpartner%5D-%5Bcorreiobraziliense.com.br%5D-%5Blink%5D-%5Bbrazil%5D-%5Bbizdev%5D-%5Bisapi%5D">Canal de Suez</a>, no Egito.</p> <p class="texto">Mas as doenças dos trabalhadores, muitos deles africanos escravizados, a umidade do território e as chuvas constantes levaram o projeto à falência.</p> <p class="texto">É aí que o interesse dos Estados Unidos por essa rota marítima se junta à dificuldade do Estado colombiano em ter o controle do seu território.</p> <p class="texto">A Colômbia emergia de uma guerra civil que havia deixado milhares de mortos e enfrentava elevados níveis de tensão política, o que acabaria por abrir caminho à <a href="https://correiobraziliense-br.informativocarioca.com/portuguese/articles/c6perxnj2kro?xtor=AL-73-%5Bpartner%5D-%5Bcorreiobraziliense.com.br%5D-%5Blink%5D-%5Bbrazil%5D-%5Bbizdev%5D-%5Bisapi%5D">independência do Panamá</a>.</p> <figure><img src="https://ichef.bbci.co.uk/news/raw/sprodpb/e5db/live/d719ae20-b963-11ef-a76e-4d65d4c6203f.jpg" alt="Foto aérea mostra navio ando no Canal de Panamá" width="1675" height="943" /><footer>Getty Images</footer> <figcaption>O Canal do Panamá é um ponto estratégico que permitiu abrir uma agem entre os oceanos Pacífico e Atlântico.</figcaption> </figure> <p class="texto">Naquela época, os Estados Unidos eram uma potência emergente que mantinha o controle de <a href="https://correiobraziliense-br.informativocarioca.com/portuguese/internacional-62819136?xtor=AL-73-%5Bpartner%5D-%5Bcorreiobraziliense.com.br%5D-%5Blink%5D-%5Bbrazil%5D-%5Bbizdev%5D-%5Bisapi%5D">Porto Rico</a> e Cuba - e souberam ler a crise interna colombiana como uma grande oportunidade: propam pagar 40 milhões de dólares para ter a concessão para a construção do canal.</p> <p class="texto">Esse acordo materializou-se com o tratado Herrán-Hay entre a Colômbia e os Estados Unidos, que estabeleceu as diretrizes da licitação e foi acordado entre o secretário de Estado norte-americano, John Hay, e o ministro colombiano Tomás Herrán.</p> <p class="texto">Foi uma negociação complexa na qual cogitaram construir o canal na Nicarágua, mas também tinham que levar em consideração que os ses já haviam feito um investimento inicial no Panamá.</p> <p class="texto">Por fim, ficou decidido que o canal seria construído no Panamá com capital dos Estados Unidos, que, por sua vez, pagariam à Colômbia e à empresa sa.</p> <p class="texto">Mas, no dia 5 de agosto de 1903, o governo colombiano, depois que o Congresso se opôs a vários pontos do acordo, alegando que o texto violava a soberania do país, informou que o rejeitava.</p> <p class="texto">Esta última decisão da Colômbia levou à separação do Panamá.</p> <figure><img src="https://ichef.bbci.co.uk/news/raw/sprodpb/1d87/live/dd98b920-b95f-11ef-aff0-072ce821b6ab.jpg" alt="Bandeira dos Estados Unidos na Zona do Canal do Panamá. " width="1024" height="704" /><footer>Getty Images</footer> <figcaption>Bandeira dos Estados Unidos na Zona do Canal do Panamá.</figcaption> </figure> <p class="texto">"Quando a Colômbia rejeita o tratado Herrán-Hay, e havia boas razões para rejeitá-lo, vários fatores se combinam a favor da independência do Panamá da Colômbia", disse a historiadora panamenha Marixa Lasso à BBC Mundo.</p> <p class="texto">Finalmente, os Estados Unidos encontraram neste descontentamento panamenho "uma excelente oportunidade para obter o tratado que desejavam sem a interferência da Colômbia".</p> <p class="texto">E foi então que o Panamá ignorou a rejeição do tratado e, em aliança com os Estados Unidos — que disseram que iriam intervir se houvesse retaliação militar da Colômbia — declarou sua independência no dia 3 de novembro de 1903.</p> <h2>Um país dividido e o início das tensões</h2> <p class="texto">Após a independência do Panamá, ambas as nações am o tratado Hay-Bunau Varilla durante a presidência de Theodore Roosevelt, nos Estados Unidos.</p> <p class="texto">Nesse pacto, os Estados Unidos garantiam que manteriam a independência do Panamá desde que o país concedesse a concessão perpétua do canal, além do domínio da chamada Zona do Canal, que incluía 8 km de cada lado da via estratégica.</p> <p class="texto">O Panamá receberia US$ 10 milhões como compensação.</p> <p class="texto">Concluída a obra, em 1913, o barco a vapor Ancón tornou-se a primeira embarcação do tipo a cruzar as suas águas, constituindo-se como um símbolo da sua abertura ao mundo.</p> <p class="texto">Mas as tensões não demorariam a aparecer.</p> <p class="texto">Na prática, o país estava fisicamente dividido em dois. Milhares de americanos e suas famílias viviam na área sob suas próprias leis e costumes enquanto trabalhavam no canal, que foi formalmente inaugurado em 1914.</p> <p class="texto">Os "<em>zoneítas</em>" (de <em>zonians</em>, em inglês) viviam praticamente isolados e sem contato com a população panamenha, que não podia ar aquele território sem autorização especial.</p> <p class="texto">O ressentimento dos panamenhos contra os privilégios dos zoneítas aumentou ao longo dos anos, até que décadas mais tarde começaram os protestos para recuperar o controle do seu território.</p> <figure><img src="https://ichef.bbci.co.uk/news/raw/sprodpb/b953/live/088837e0-bbbe-11ef-a2ca-e99d0c9a24e3.jpg" alt="Manifestação de estudantes no Panamá" width="1024" height="663" /><footer>Getty Images</footer> <figcaption>Estudantes fizeram manifestações para pedir retirada dos EUA</figcaption> </figure> <p class="texto">E há dois marcos que seus protagonistas lembram como fundamentais.</p> <p class="texto">Uma delas é a "Operação Soberania" de 1958, na qual um grupo de estudantes universitários surpreendeu a polícia da Zona do Canal ao entrar para "plantar" pacificamente 75 bandeiras panamenhas.</p> <p class="texto">"Isso marcou o novo rumo das negociações do canal, porque a partir daquele momento derrotamos a agressão psicológica que os EUA realizavam no Panamá desde 1903", disse Ricardo Ríos Torres, um dos líderes dessa manifestação, à BBC Mundo em 2019.</p> <p class="texto">"Disseram-nos que este não era um território de o para os panamenhos. Naquele dia, dissemos que não tínhamos mais medo e que queríamos um novo tratado que acabasse com a perpetuidade da presença colonial."</p> <p class="texto">O outro acontecimento que influenciou o caminho para a recuperação da hidrovia interoceânica foi a Marcha Patriótica de 1959, na qual o povo panamenho foi convidado a entrar na Zona do Canal portando sua bandeira.</p> <p class="texto">Esta marcha também começou de forma pacífica, mas, quando o governador da Zona do Canal proibiu a entrada de manifestantes, ocorreram confrontos entre panamenhos e policiais - dezenas de pessoas ficaram feridas.</p> <p class="texto">Ambas as mobilizações foram a origem de uma frase que mais tarde se tornaria popular no Panamá: "Quem semeia bandeiras colhe soberania".</p> <h2>Dia dos Mártires</h2> <p class="texto">Esses acontecimentos históricos desencadearam mais mobilizações nos anos seguintes.</p> <p class="texto">A população panamenha não estava disposta a recuar nas suas exigências e era cada vez mais evidente que o governo dos EUA não podia fazer ouvidos de mercador aos protestos.</p> <p class="texto">Assim, as negociações lentas culminaram num acordo em 1962 entre o presidente panamenho Roberto Chiari e o americano John F. <a href="https://correiobraziliense-br.informativocarioca.com/portuguese/articles/cydv1846n94o?xtor=AL-73-%5Bpartner%5D-%5Bcorreiobraziliense.com.br%5D-%5Blink%5D-%5Bbrazil%5D-%5Bbizdev%5D-%5Bisapi%5D">Kennedy</a>, graças ao qual se estabeleceu que as bandeiras de ambos os países deveriam hastear nas áreas civis da Zona do Canal.</p> <p class="texto">Mas quando chegou o dia 1º de janeiro de 1964, data em que o acordo entraria em vigor, os zoneítas ignoraram as ordens do próprio governador da Zona do Canal e recusaram-se a hastear a bandeira do Panamá.</p> <p class="texto">As autoridades da região nada fizeram a respeito, e a notícia irritou os panamenhos.</p> <p class="texto">No dia 9 de janeiro daquele ano, dezenas de estudantes do Instituto Nacional do Panamá dirigiram-se à Zona do Canal carregando a bandeira de sua escola para que também pudesse ser hasteada no Colégio Balboa, instituição mantida pelos americanos.</p> <p class="texto">Mas alguns policiais americanos os impediram, e o confronto terminou na violação da bandeira panamenha. A atmosfera de tensão era total.</p> <figure><img src="https://ichef.bbci.co.uk/news/raw/sprodpb/20ee/live/542db570-b962-11ef-a2ca-e99d0c9a24e3.jpg" alt="Estudantes e policiais se enfrentam na Zona do Canal" width="1024" height="686" /><footer>Getty Images</footer> <figcaption>Estudantes e policiais se enfrentam na Zona do Canal</figcaption> </figure> <p class="texto">O dia terminou com mais de 20 manifestantes mortos e centenas de feridos no que é conhecido como "Dia dos Mártires".</p> <p class="texto">Esse fato, concordam todos os analistas, foi o grande gatilho para que o Canal do Panamá acabasse por ser transferido para mãos panamenhas mais de 35 anos depois.</p> <p class="texto">A dureza da resposta do Exército americano às mobilizações levou o então presidente do Panamá, Roberto Chiari, a anunciar que o país estava interrompendo as relações diplomáticas com Washington até que um novo tratado fosse assinado entre os dois países.</p> <p class="texto">Esta decisão - sem precedentes para um país onde os EUA estavam presentes - é o que fez com que, ainda hoje, muitos se refiram a Chiari no Panamá como "o presidente da dignidade".</p> <p class="texto">A pressão internacional foi decisiva para que os Estados Unidos concordassem em negociar.</p> <h2>O acordo Torrijos-Carter</h2> <p class="texto">Após aquele janeiro sombrio, em 3 de abril de 1964 começaram as conversas entre os Estados Unidos e o Panamá.</p> <p class="texto">Ambos países se comprometeram a nomear embaixadores especiais para conduzir um diálogo tenso.</p> <p class="texto">"Não havia volta atrás. O Panamá só aceitaria um novo tratado. O presidente Carter compreendeu isso, e foi assim que os Estados Unidos acabaram assinando o acordo. A população panamenha estava convencida de que era necessário eliminar aquele enclave colonial e reivindicar o que era nosso", disse o líder manifestante Ríos Torres à BBC Mundo em 2019.</p> <p class="texto">"Ou entregavam o canal, ou simplesmente desapareciam."</p> <p class="texto">No entanto, foi necessário esperar 10 anos até que, sob o governo de Richard Nixon, fosse assinada, na Cidade do Panamá, uma declaração conjunta entre o secretário de Estado dos EUA, Henry Kissinger, e o chanceler panamenho, Juan Antonio Tack.</p> <p class="texto">Naquele momento, já estava claro para ambas as partes que, antes de tudo, era preciso revogar o Tratado Hay-Bunau-Varilla, que havia concedido os direitos do canal aos Estados Unidos, além de encerrar sua jurisdição no país centro-americano.</p> <p class="texto">E essa seria a base para o acordo que, três anos depois, seria assinado por Jimmy Carter e Omar Torrijos.</p> <p class="texto">O tratado, firmado na sede da Organização dos Estados Americanos (OEA) em Washington, no dia 7 de setembro de 1977, contemplava a celebração de dois pactos: o Tratado de Neutralidade e o Tratado do Canal do Panamá.</p> <p class="texto">Em termos simples, neles ficou acordado que a soberania da Zona do Canal estaria sujeita à legislação panamenha e se estabeleceu uma data para a transferência do domínio da via interoceânica ao país centro-americano: 31 de dezembro de 1999.</p> <figure><img src="https://ichef.bbci.co.uk/news/raw/sprodpb/011d/live/e3bd43e0-b962-11ef-aff0-072ce821b6ab.jpg" alt="Jimmy Carter e Omar Torrijos se abraçam após firmarem o tratado de 7 de setembro de de 1977" width="1024" height="642" /><footer>Getty Images</footer> <figcaption>Jimmy Carter e Omar Torrijos se abraçam após firmarem o tratado de 7 de setembro de de 1977</figcaption> </figure> <p class="texto">Para Carter, com a devolução do canal aos panamenhos, os americanos demonstraram que "como um país grande e poderoso, somos capazes de tratar de forma justa e honrosa com uma nação soberana, orgulhosa, mas menor".</p> <p class="texto">Em sua opinião, esse marco selava "um novo sentimento de confiança mútua e respeito pelos Estados Unidos" entre os países latino-americanos, conforme informou, na época, o jornal The New York Times.</p> <p class="texto">Suas palavras, após a dos tratados Torrijos-Carter, também buscavam acalmar as águas internas. Nos Estados Unidos, principalmente entre os setores conservadores, havia uma forte resistência em ceder a jurisdição que o país exercera por quase um século.</p> <p class="texto">"Não somos proprietários da Zona do Canal do Panamá, nunca tivemos soberania sobre ela. Só tivemos o direito de utilizá-la", disse Carter.</p> <p class="texto">Suas palavras encontraram eco no Senado americano, que, posteriormente, ratificaria o pacto e selaria os destinos do canal.</p> <p class="texto">O mesmo fizeram os panamenhos. Torrijos submeteu os tratados a plebiscito e obteve amplo apoio.</p> <h2>A devolução</h2> <p class="texto">Após um período de transição, a poucos dias da virada do século, autoridades de todo o mundo chegaram ao Panamá para participar da cerimônia oficial do que já se tornara um sonho histórico para seus habitantes.</p> <p class="texto">No dia 14 de dezembro, realizou-se um primeiro evento, em Miraflores, uma das comportas do canal.</p> <p class="texto">A cerimônia, que reuniu cerca de 1,5 mil convidados, contou com a presença de mandatários e delegações de países como Colômbia, Equador, Costa Rica, México e Bolívia. A eles também se juntaram o rei Juan Carlos I da Espanha e o próprio Jimmy Carter.</p> <p class="texto">O porte da delegação americana — presidida pelo secretário de Comércio e Transporte, William Daley — e a ausência do presidente em exercício, Bill Clinton, no entanto, não aram despercebidos pelo governo panamenho, liderado na época pela presidente Mireya Moscoso.</p> <p class="texto">A líder inclusive transmitiu seu desconforto aos enviados especiais dos jornais mais importantes do mundo que foram cobrir o momento histórico.</p> <figure><img src="https://ichef.bbci.co.uk/news/raw/sprodpb/ec64/live/a6b07de0-b963-11ef-a0f2-fd81ae5962f4.jpg" alt="A então presidente do Panamá, Mireya Moscoso, e o ex-presidente americano Jimmy Carter, no centro da imagem, no dia da transferência definitiva " width="1024" height="702" /><footer>Getty Images</footer> <figcaption>A então presidente do Panamá, Mireya Moscoso, e o ex-presidente americano Jimmy Carter, no centro da imagem, no dia da transferência definitiva</figcaption> </figure> <p class="texto">Mas nada disso ofuscou o que seria vivido após o meio-dia do dia 31 de dezembro. Com telões em vários pontos da cidade e um relógio em contagem regressiva, os panamenhos acompanharam ao vivo a devolução definitiva da via interoceânica.</p> <p class="texto">Foi Mireya Moscoso quem hasteou a bandeira panamenha naquele dia no Edifício da istração do Canal, selando assim a transferência, que ratificou junto ao secretário do Exército dos Estados Unidos, Louis Caldera.</p> <p class="texto">"Panamá, o canal é dos panamenhos", disse a presidente naquele dia, conforme reportado pela agência Associated Press. "O Panamá finalmente alcança a plenitude de um Estado soberano".</p> <p class="texto">Cantou-se o hino nacional, houve celebração e até fogos de artifício.</p> <p class="texto">"Neste dia, atingimos a maioridade como nação", afirmou Moscoso em seu discurso, destacando que, a partir daquele momento, os panamenhos assumiam uma nova tarefa: gerenciar "de maneira eficiente, como uma questão de Estado e livre de interesses políticos" o Canal do Panamá.</p> <ul> <li><a href="https://correiobraziliense-br.informativocarioca.com/portuguese/articles/czdzeed3e08o?xtor=AL-73-%5Bpartner%5D-%5Bcorreiobraziliense.com.br%5D-%5Blink%5D-%5Bbrazil%5D-%5Bbizdev%5D-%5Bisapi%5D">O Canal do Panamá tem salvação?</a></li> <li><a href="https://correiobraziliense-br.informativocarioca.com/portuguese/articles/c6perxnj2kro?xtor=AL-73-%5Bpartner%5D-%5Bcorreiobraziliense.com.br%5D-%5Blink%5D-%5Bbrazil%5D-%5Bbizdev%5D-%5Bisapi%5D">Por que o Panamá se separou da Colômbia – e qual foi o papel dos EUA</a></li> <li><a href="https://correiobraziliense-br.informativocarioca.com/portuguese/internacional-50988193?xtor=AL-73-%5Bpartner%5D-%5Bcorreiobraziliense.com.br%5D-%5Blink%5D-%5Bbrazil%5D-%5Bbizdev%5D-%5Bisapi%5D">Quanto ganha o Panamá com seu famoso canal (e quem se beneficia desse lucro)</a></li> </ul> <p class="texto"><img src="https://a1.api.bbc.co.uk/hit.xiti/?s=598346&p=portuguese.articles.c4gl4qg0vpko.page&x1=%5Burn%3Abbc%3Aoptimo%3Aasset%3Ac4gl4qg0vpko%5D&x4=%5Bpt-br%5D&x5=%5Bhttps%3A%2F%2Fcorreiobraziliense-br.informativocarioca.com%2Fportuguese%2Farticles%2Fc4gl4qg0vpko%5D&x7=%5Barticle%5D&x8=%5Bsynd_nojs_ISAPI%5D&x9=%5BComo+os+EUA+se+apropriaram+do+Canal+do+Panam%C3%A1+e+por+que+tiveram+que+devolv%C3%AA-lo+nos+anos+1990%5D&x11=%5B2024-12-24T19%3A06%3A34.336Z%5D&x12=%5B2025-01-20T17%3A48%3A17.652Z%5D&x19=%5Bcorreiobraziliense.com.br%5D" /><div class="read-more"> <h4>Saiba Mais</h4> <ul> <li> <a 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Como os EUA se apropriaram do Canal do Panamá e por que tiveram que devolvê b4a69 lo nos anos 1990
ESTADOS UNIDOS

Como os EUA se apropriaram do Canal do Panamá e por que tiveram que devolvê-lo nos anos 1990 463i2w

agem estratégica entre Oceano Pacífico e Atlântico voltou ao noticiário com ameaça de Donald Trump, que prometeu reaver o canal em seu discurso de posse presidencial. 2k2c5d

O novo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou em seu discurso de posse nesta segunda-feira (20/01) que os EUA voltarão a operar o Canal do Panamá.

"Vamos tomá-lo de volta", disse o presidente ao divulgar as primeiras ações de seu mandato.

Trump se referiu ao papel dos EUA na construção do canal e sua entrega ao Panamá, em 31 de dezembro de 1999.

Na ocasição, a bandeira dos Estados Unidos desceu e a do Panamá subiu e tremulou como único emblema da Zona do Canal pela primeira vez. Os panamenhos comemoraram com alegria.

O fim do milênio se aproximava, e a cena marcava o fim de uma era que causou protestos, tensões e mortes. Era a resolução do acordo assinado em 1977 entre o então presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter, e o líder panamenho, o general Omar Torrijos Herrera.

O pacto abriu caminho para devolver o controle do canal estratégico ao país centro-americano.

"Foi impressionante ver a reação do povo do Panamá. Foi um momento muito delicado e realmente muito bonito na história moderna", disse Alberto Aleman Zubieta, que foi do canal durante vários anos, à reportagem.

Hoje, a soberania da hidrovia interoceânica está mais uma vez no centro das notícias após as promessas de Trump.

Em 7 de janeiro, Trump já havia tratado do assunto e deu sinais de que não vai desistir da ambição de obter o controle da Groelândia e do Canal do Panamá, classificando ambos como essenciais para a segurança nacional americana.

Questionado por jornalistas se descartava o uso de força militar ou econômica para assumir o controle do território autônomo dinamarquês ou do canal, ele respondeu: "não, não posso garantir nada em relação a nenhum dos dois".

Em dezembro, o então presidente eleito fez alusão às taxas cobradas aos navios americanos. "Estamos sendo enganados no Canal do Panamá", disse.

O político republicano sugeriu que, se isso não mudar, "exigiremos que o Canal do Panamá seja devolvido na íntegra aos Estados Unidos, rapidamente e sem perguntas". Não disse, no entanto, como pretende fazê-lo.

Por sua vez, o presidente panamenho, José Raúl Mulino, respondeu contundentemente num comunicado publicado na rede social X: "Cada metro quadrado do Canal continuará pertencendo ao Panamá".

Mas, voltando ao ado, como os Estados Unidos se apropriaram da Zona do Canal e o Panamá conseguiu recuperá-la há 25 anos?

A BBC News Mundo, serviço em espanhol da BBC, relembra os acontecimentos que levaram ambas as nações a um acordo sem precedentes sobre a rota interoceânica que reconfigurou os padrões do comércio regional e global.

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Estudantes panamenhos protestam na capital do país

Uma guerra civil e uma oportunidade 6i5h2v

A necessidade de construir uma agem que ligasse o Oceano Pacífico ao Oceano Atlântico era algo que preocupava os colonizadores europeus desde o século 16.

Naquela época, o único o que tinham aos mares do sul era o Estreito de Magalhães, no sul do Chile, o que significava navegar enormes distâncias e enfrentar o perigoso clima do Cabo Horn.

Foram avaliadas inúmeras ideias: um canal na Nicarágua, um em Tehuantepec (México), outro em Darién, na fronteira do Panamá com a Colômbia, e uma agem pelo istmo panamenho, que na época era território colombiano.

Mas nenhuma dessas ideias se concretizaria até o século 19. A primeira grande aposta ocorreu em 1880, quando a Colômbia concedeu a concessão para a construção do canal a Fernando de Lesseps, engenheiro francês que havia construído o Canal de Suez, no Egito.

Mas as doenças dos trabalhadores, muitos deles africanos escravizados, a umidade do território e as chuvas constantes levaram o projeto à falência.

É aí que o interesse dos Estados Unidos por essa rota marítima se junta à dificuldade do Estado colombiano em ter o controle do seu território.

A Colômbia emergia de uma guerra civil que havia deixado milhares de mortos e enfrentava elevados níveis de tensão política, o que acabaria por abrir caminho à independência do Panamá.

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O Canal do Panamá é um ponto estratégico que permitiu abrir uma agem entre os oceanos Pacífico e Atlântico.

Naquela época, os Estados Unidos eram uma potência emergente que mantinha o controle de Porto Rico e Cuba - e souberam ler a crise interna colombiana como uma grande oportunidade: propam pagar 40 milhões de dólares para ter a concessão para a construção do canal.

Esse acordo materializou-se com o tratado Herrán-Hay entre a Colômbia e os Estados Unidos, que estabeleceu as diretrizes da licitação e foi acordado entre o secretário de Estado norte-americano, John Hay, e o ministro colombiano Tomás Herrán.

Foi uma negociação complexa na qual cogitaram construir o canal na Nicarágua, mas também tinham que levar em consideração que os ses já haviam feito um investimento inicial no Panamá.

Por fim, ficou decidido que o canal seria construído no Panamá com capital dos Estados Unidos, que, por sua vez, pagariam à Colômbia e à empresa sa.

Mas, no dia 5 de agosto de 1903, o governo colombiano, depois que o Congresso se opôs a vários pontos do acordo, alegando que o texto violava a soberania do país, informou que o rejeitava.

Esta última decisão da Colômbia levou à separação do Panamá.

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Bandeira dos Estados Unidos na Zona do Canal do Panamá.

"Quando a Colômbia rejeita o tratado Herrán-Hay, e havia boas razões para rejeitá-lo, vários fatores se combinam a favor da independência do Panamá da Colômbia", disse a historiadora panamenha Marixa Lasso à BBC Mundo.

Finalmente, os Estados Unidos encontraram neste descontentamento panamenho "uma excelente oportunidade para obter o tratado que desejavam sem a interferência da Colômbia".

E foi então que o Panamá ignorou a rejeição do tratado e, em aliança com os Estados Unidos — que disseram que iriam intervir se houvesse retaliação militar da Colômbia — declarou sua independência no dia 3 de novembro de 1903.

Um país dividido e o início das tensões 5y4ca

Após a independência do Panamá, ambas as nações am o tratado Hay-Bunau Varilla durante a presidência de Theodore Roosevelt, nos Estados Unidos.

Nesse pacto, os Estados Unidos garantiam que manteriam a independência do Panamá desde que o país concedesse a concessão perpétua do canal, além do domínio da chamada Zona do Canal, que incluía 8 km de cada lado da via estratégica.

O Panamá receberia US$ 10 milhões como compensação.

Concluída a obra, em 1913, o barco a vapor Ancón tornou-se a primeira embarcação do tipo a cruzar as suas águas, constituindo-se como um símbolo da sua abertura ao mundo.

Mas as tensões não demorariam a aparecer.

Na prática, o país estava fisicamente dividido em dois. Milhares de americanos e suas famílias viviam na área sob suas próprias leis e costumes enquanto trabalhavam no canal, que foi formalmente inaugurado em 1914.

Os "zoneítas" (de zonians, em inglês) viviam praticamente isolados e sem contato com a população panamenha, que não podia ar aquele território sem autorização especial.

O ressentimento dos panamenhos contra os privilégios dos zoneítas aumentou ao longo dos anos, até que décadas mais tarde começaram os protestos para recuperar o controle do seu território.

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Estudantes fizeram manifestações para pedir retirada dos EUA

E há dois marcos que seus protagonistas lembram como fundamentais.

Uma delas é a "Operação Soberania" de 1958, na qual um grupo de estudantes universitários surpreendeu a polícia da Zona do Canal ao entrar para "plantar" pacificamente 75 bandeiras panamenhas.

"Isso marcou o novo rumo das negociações do canal, porque a partir daquele momento derrotamos a agressão psicológica que os EUA realizavam no Panamá desde 1903", disse Ricardo Ríos Torres, um dos líderes dessa manifestação, à BBC Mundo em 2019.

"Disseram-nos que este não era um território de o para os panamenhos. Naquele dia, dissemos que não tínhamos mais medo e que queríamos um novo tratado que acabasse com a perpetuidade da presença colonial."

O outro acontecimento que influenciou o caminho para a recuperação da hidrovia interoceânica foi a Marcha Patriótica de 1959, na qual o povo panamenho foi convidado a entrar na Zona do Canal portando sua bandeira.

Esta marcha também começou de forma pacífica, mas, quando o governador da Zona do Canal proibiu a entrada de manifestantes, ocorreram confrontos entre panamenhos e policiais - dezenas de pessoas ficaram feridas.

Ambas as mobilizações foram a origem de uma frase que mais tarde se tornaria popular no Panamá: "Quem semeia bandeiras colhe soberania".

Dia dos Mártires 4l4v60

Esses acontecimentos históricos desencadearam mais mobilizações nos anos seguintes.

A população panamenha não estava disposta a recuar nas suas exigências e era cada vez mais evidente que o governo dos EUA não podia fazer ouvidos de mercador aos protestos.

Assim, as negociações lentas culminaram num acordo em 1962 entre o presidente panamenho Roberto Chiari e o americano John F. Kennedy, graças ao qual se estabeleceu que as bandeiras de ambos os países deveriam hastear nas áreas civis da Zona do Canal.

Mas quando chegou o dia 1º de janeiro de 1964, data em que o acordo entraria em vigor, os zoneítas ignoraram as ordens do próprio governador da Zona do Canal e recusaram-se a hastear a bandeira do Panamá.

As autoridades da região nada fizeram a respeito, e a notícia irritou os panamenhos.

No dia 9 de janeiro daquele ano, dezenas de estudantes do Instituto Nacional do Panamá dirigiram-se à Zona do Canal carregando a bandeira de sua escola para que também pudesse ser hasteada no Colégio Balboa, instituição mantida pelos americanos.

Mas alguns policiais americanos os impediram, e o confronto terminou na violação da bandeira panamenha. A atmosfera de tensão era total.

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Estudantes e policiais se enfrentam na Zona do Canal

O dia terminou com mais de 20 manifestantes mortos e centenas de feridos no que é conhecido como "Dia dos Mártires".

Esse fato, concordam todos os analistas, foi o grande gatilho para que o Canal do Panamá acabasse por ser transferido para mãos panamenhas mais de 35 anos depois.

A dureza da resposta do Exército americano às mobilizações levou o então presidente do Panamá, Roberto Chiari, a anunciar que o país estava interrompendo as relações diplomáticas com Washington até que um novo tratado fosse assinado entre os dois países.

Esta decisão - sem precedentes para um país onde os EUA estavam presentes - é o que fez com que, ainda hoje, muitos se refiram a Chiari no Panamá como "o presidente da dignidade".

A pressão internacional foi decisiva para que os Estados Unidos concordassem em negociar.

O acordo Torrijos-Carter 4e3v37

Após aquele janeiro sombrio, em 3 de abril de 1964 começaram as conversas entre os Estados Unidos e o Panamá.

Ambos países se comprometeram a nomear embaixadores especiais para conduzir um diálogo tenso.

"Não havia volta atrás. O Panamá só aceitaria um novo tratado. O presidente Carter compreendeu isso, e foi assim que os Estados Unidos acabaram assinando o acordo. A população panamenha estava convencida de que era necessário eliminar aquele enclave colonial e reivindicar o que era nosso", disse o líder manifestante Ríos Torres à BBC Mundo em 2019.

"Ou entregavam o canal, ou simplesmente desapareciam."

No entanto, foi necessário esperar 10 anos até que, sob o governo de Richard Nixon, fosse assinada, na Cidade do Panamá, uma declaração conjunta entre o secretário de Estado dos EUA, Henry Kissinger, e o chanceler panamenho, Juan Antonio Tack.

Naquele momento, já estava claro para ambas as partes que, antes de tudo, era preciso revogar o Tratado Hay-Bunau-Varilla, que havia concedido os direitos do canal aos Estados Unidos, além de encerrar sua jurisdição no país centro-americano.

E essa seria a base para o acordo que, três anos depois, seria assinado por Jimmy Carter e Omar Torrijos.

O tratado, firmado na sede da Organização dos Estados Americanos (OEA) em Washington, no dia 7 de setembro de 1977, contemplava a celebração de dois pactos: o Tratado de Neutralidade e o Tratado do Canal do Panamá.

Em termos simples, neles ficou acordado que a soberania da Zona do Canal estaria sujeita à legislação panamenha e se estabeleceu uma data para a transferência do domínio da via interoceânica ao país centro-americano: 31 de dezembro de 1999.

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Jimmy Carter e Omar Torrijos se abraçam após firmarem o tratado de 7 de setembro de de 1977

Para Carter, com a devolução do canal aos panamenhos, os americanos demonstraram que "como um país grande e poderoso, somos capazes de tratar de forma justa e honrosa com uma nação soberana, orgulhosa, mas menor".

Em sua opinião, esse marco selava "um novo sentimento de confiança mútua e respeito pelos Estados Unidos" entre os países latino-americanos, conforme informou, na época, o jornal The New York Times.

Suas palavras, após a dos tratados Torrijos-Carter, também buscavam acalmar as águas internas. Nos Estados Unidos, principalmente entre os setores conservadores, havia uma forte resistência em ceder a jurisdição que o país exercera por quase um século.

"Não somos proprietários da Zona do Canal do Panamá, nunca tivemos soberania sobre ela. Só tivemos o direito de utilizá-la", disse Carter.

Suas palavras encontraram eco no Senado americano, que, posteriormente, ratificaria o pacto e selaria os destinos do canal.

O mesmo fizeram os panamenhos. Torrijos submeteu os tratados a plebiscito e obteve amplo apoio.

A devolução h6n6m

Após um período de transição, a poucos dias da virada do século, autoridades de todo o mundo chegaram ao Panamá para participar da cerimônia oficial do que já se tornara um sonho histórico para seus habitantes.

No dia 14 de dezembro, realizou-se um primeiro evento, em Miraflores, uma das comportas do canal.

A cerimônia, que reuniu cerca de 1,5 mil convidados, contou com a presença de mandatários e delegações de países como Colômbia, Equador, Costa Rica, México e Bolívia. A eles também se juntaram o rei Juan Carlos I da Espanha e o próprio Jimmy Carter.

O porte da delegação americana — presidida pelo secretário de Comércio e Transporte, William Daley — e a ausência do presidente em exercício, Bill Clinton, no entanto, não aram despercebidos pelo governo panamenho, liderado na época pela presidente Mireya Moscoso.

A líder inclusive transmitiu seu desconforto aos enviados especiais dos jornais mais importantes do mundo que foram cobrir o momento histórico.

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A então presidente do Panamá, Mireya Moscoso, e o ex-presidente americano Jimmy Carter, no centro da imagem, no dia da transferência definitiva

Mas nada disso ofuscou o que seria vivido após o meio-dia do dia 31 de dezembro. Com telões em vários pontos da cidade e um relógio em contagem regressiva, os panamenhos acompanharam ao vivo a devolução definitiva da via interoceânica.

Foi Mireya Moscoso quem hasteou a bandeira panamenha naquele dia no Edifício da istração do Canal, selando assim a transferência, que ratificou junto ao secretário do Exército dos Estados Unidos, Louis Caldera.

"Panamá, o canal é dos panamenhos", disse a presidente naquele dia, conforme reportado pela agência Associated Press. "O Panamá finalmente alcança a plenitude de um Estado soberano".

Cantou-se o hino nacional, houve celebração e até fogos de artifício.

"Neste dia, atingimos a maioridade como nação", afirmou Moscoso em seu discurso, destacando que, a partir daquele momento, os panamenhos assumiam uma nova tarefa: gerenciar "de maneira eficiente, como uma questão de Estado e livre de interesses políticos" o Canal do Panamá.

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