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Potyra Terena, 40 anos, &eacute; professora do Centro de Ensino Fundamental 13 de Ceil&acirc;ndia, onde leciona matem&aacute;tica, ci&ecirc;ncias e artes. As disciplinas no curr&iacute;culo s&atilde;o t&atilde;o ecl&eacute;ticas quanto sua experi&ecirc;ncia acad&ecirc;mica e de not&oacute;rio saber &mdash; aqueles t&atilde;o valorizados e cultivados entre seus ancestrais ind&iacute;genas.</p> <p class="texto">"Eu fui conquistando as coisas mesmo sem as pessoas apostarem em mim. Eu sou uma aposta de mim mesma e da minha fam&iacute;lia", atesta a profissional da educa&ccedil;&atilde;o. "Quando a gente n&atilde;o tem aquele fen&oacute;tipo que se criou de quem &eacute; o brasileiro, as pessoas n&atilde;o apostam na gente", continua.</p> <p class="texto">Nascida em Bras&iacute;lia, no Hospital Santa L&uacute;cia, foi registrada como Eliane Alves, mas &agrave;s vezes at&eacute; ela mesma se esquece. 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"Quando chegava na dire&ccedil;&atilde;o para falar, diziam que era s&oacute; brincadeira, para n&atilde;o levar para o lado pessoal. E quando a gente brigava, era sempre culpado", relembra a professora. Outros questionamentos pejorativos, como a pergunta "por que voc&ecirc; n&atilde;o est&aacute; na floresta?" eram frequentes. "Voc&ecirc; &eacute; mais cobrada, a todo o tempo."</p> <h3>Oportunidades e dedica&ccedil;&atilde;o</h3> <p class="texto"><div> <amp-img src="https://midias.correiobraziliense.com.br/_midias/jpg/2022/12/06/675x450/1_06122022mf03-26991601.jpg" width="675" height="450" layout="responsive" alt=" 06/12/2022 Cr&eacute;dito: Marcelo Ferreira/CB/D.A. Press Bras&iacute;lia- DF - Professora Potyra Terena para a coluna Nossos mestres, "></amp-img> <figcaption>Marcelo Ferreira/CB/D.A.Press - <b> 06/12/2022 Cr&eacute;dito: Marcelo Ferreira/CB/D.A. 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Eu, Estudante 445c6h

NOSSOS MESTRES

Saberes ancestrais nas escolas públicas do Distrito Federal 5b4w4w

Professora do ensino fundamental da rede pública do DF, Potyra Terena, leva o conhecimento e as vivências da própria comunidade indígena para se conectar com os estudantes. Valorização do diálogo é fundamental 4n633m

Ela tem nome de flor e exala força e perseverança no trabalho diário como educadora. Potyra Terena, 40 anos, é professora do Centro de Ensino Fundamental 13 de Ceilândia, onde leciona matemática, ciências e artes. As disciplinas no currículo são tão ecléticas quanto sua experiência acadêmica e de notório saber — aqueles tão valorizados e cultivados entre seus ancestrais indígenas.

"Eu fui conquistando as coisas mesmo sem as pessoas apostarem em mim. Eu sou uma aposta de mim mesma e da minha família", atesta a profissional da educação. "Quando a gente não tem aquele fenótipo que se criou de quem é o brasileiro, as pessoas não apostam na gente", continua.

Nascida em Brasília, no Hospital Santa Lúcia, foi registrada como Eliane Alves, mas às vezes até ela mesma se esquece. Potyra conta que, à época, não era permitido sequer incluir na certidão de nascimento o nome indígena. Hoje, essa possibilidade se abre, e ela avalia com carinho se fará a mudança no documento oficial. Em seu coração, o nome Potyra, que significa flor em tupi-guarani, é o que traz pertencimento. O que convencionou-se chamar "sobrenome" — Terena — indica sua origem, de etnia do Mato Grosso.

É de lá que Potyra carrega muito dos conhecimentos ancestrais que hoje a permitem reafirmar seus direitos e estabelecer um lugar no mundo. Mas se tem algo que os terena também a ensinaram é sobre diálogo, e isso a professora leva como experiência não só na sala de aula, mas por todos os cantos do Brasil e de Brasília, em caminhadas que evita chamar de militância. "Eu nasci fazendo parte da história e fazendo a história. E a todo o momento nós reconstruímos a história", defende. "É mais que uma militância. É uma vivência mesmo."

Arquivo pessoal - Com a ministra dos Povos Originários Sonia Guajajara, parceira na luta por respeito

Potyra estreou na escola, em Ceilândia, já alfabetizada. Aos 4 anos, sabia ler as primeiras palavras e escrever seu nome todo. Mérito do pai, que a ensinou ainda em casa. A trajetória escolar ela percorreu tanto em escolas particulares quanto nas públicas. Foi uma das últimas alunas da chamada Escola Normal, em 2004, de onde os estudantes saíam com diploma de ensino médio e de magistério, com autorização para lecionar. No contraturno, estudava inglês no Centro Interescolar de Línguas, ao lado do Elefante Branco, na 906 Sul.

O preconceito a seguiu durante todo o caminho. Vinha de alunos, de professores e de gestores, com diferentes nuances. Um dos casos ela lembra com detalhes. No início da década de 1990, ganhou notoriedade o caso do massacre de Haximu, comunidade indígena ianomâmi em Roraima. Dezesseis indígenas foram mortos por garimpeiros. "Eles me chamavam muito de ianomâmi. Eu era criança ainda. Teve o massacre e muitos estudantes da escola na época falavam para mim: 'Por que você não volta para lá?'", conta Potyra. "Quando chegava na direção para falar, diziam que era só brincadeira, para não levar para o lado pessoal. E quando a gente brigava, era sempre culpado", relembra a professora. Outros questionamentos pejorativos, como a pergunta "por que você não está na floresta?" eram frequentes. "Você é mais cobrada, a todo o tempo."

Oportunidades e dedicação 2yk18

Marcelo Ferreira/CB/D.A.Press - 06/12/2022 Crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A. Press Brasília- DF - Professora Potyra Terena para a coluna Nossos mestres,

A primeira oportunidade de emprego após terminar a formação no magistério foi na escola Gente que cresce, também em Ceilândia. Potyra ainda buscou formações complementares, em Letras – Libras (Língua Brasileira de Sinais); gestão ambiental; e o curso História de Brasília, da Universidade de Brasília (UnB). No ano ado, lançou o livro Mulherio das Letras Indígenas, com a participação de mulheres indígenas ou com ancestralidade indígena.

"Na pedagogia, eu tento não ser como meus professores foram comigo. Olho para qualquer estudante independentemente da cor, da raça", elenca. Ela diz ser bem recebida pelos estudantes. Chega como uma professora diferente, com adereços a que eles não estão acostumados e acaba cativando a todos. "Eu nunca sofri, por parte dos estudantes, nenhum tipo de preconceito ou desrespeito. Exerço a minha função feliz. Vejo que tenho retorno do trabalho que eu faço", avalia.

Como em qualquer sala repleta de adolescentes, a dela não está imune à bagunça, mas nada fora do "normal", garante Potyra. "Eu tenho esse diálogo (com eles), porque eu sou de um povo que gosta de dialogar, de tentar resolver conflitos. Tem coisas da minha vivência de indígena que eu levei para a sala de aula. Eles têm a liberdade de falar comigo, e o que estiver ao meu alcance, eu faço."

Conexão e saberes ancestrais m614l

Fotos: Arquivo pessoal - Registro dos avós, tios e pai da professora Potyra Terena

Nas viagens por terras indígenas, em Mato Grosso, Mato Grosso Sul e Minas Gerais para elencar alguns estados, Potyra mergulha nos saberes ancestrais e também curte as festividades tradicionais de diferentes comunidades indígenas. Uma das habilidades que descobriu e que aprendeu por meio da observação foi para o artesanato. Cerâmica, arte de plumagem e grafismo — que é a preparação do jenipapo e do urucum na pele. "Meus alunos acham legal. No Abril Indígena, peço autorização para os pais e pinto uma pequena coisa para eles verem, e eles acham muito massa", celebra.

Por incrível que pareça, as redes sociais, na avaliação da professora, tornaram a articulação entre os indígenas ainda maior, encurtando barreiras terrestres e permitindo articulações e até mesmo compartilhamento de vivências e de conhecimentos. Grupos de WhatsApp, por exemplo, são espaços para estudar a língua materna e escrever apenas nesses idiomas. No caso de Potyra, é a língua terena, do tronco aruak. "A rede social nos aproximou da nossa cultura", atesta.

Ensinamentos importantes, como a valorização das crianças e dos idosos — a quem os indígenas chamam de anciãos — estão também nesse rol de compartilhamentos. Além de encontrar ressonância entre pessoas da mesma origem, toda a sabedoria é levada também para casa, ao filho Lucas, 21 anos.

Arquivo pessoal - Com o filho, Lucas Alves de 21 anos

Conquistas recentes fazem Potyra se sentir mais esperançosa sobre a disseminação da cultura indígena e mais respeito pela diversidade. O fato de a primeira ministra indígena estar à frente do inédito Ministério dos Povos Indígenas é motivo de orgulho para Potyra, que conta com entusiasmo que Sonia Guajajara é uma antiga parceira de luta.

A mudança do nome da Funai para Fundação Nacional dos Povos Indígenas — a palavra índio é pejorativa — também é uma delas. "Estive na Funai. Fizemos um ritual de limpeza com os povos indígenas e fui lá prestigiar. Acreditamos que o ambiente lá estava muito carregado e tiramos isso através dos cantos e das danças. Queremos a Funai fazendo ações de cuidado mesmo, e não de tutela."