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O objetivo &eacute; garantir espa&ccedil;o e visibilizar o di&aacute;logo a respeito das mazelas sociais vivenciadas por mais da metade da popula&ccedil;&atilde;o do pa&iacute;s (54%), de acordo com levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estat&iacute;stica (IBGE). Al&eacute;m disso, o m&ecirc;s inteiro tamb&eacute;m &eacute; dedicado a debater quest&otilde;es ligadas &agrave; pauta racial.</p> <p class="texto">Estudo intitulado Jovens Negros e o Mercado de Trabalho, realizado pelo Instituto de Refer&ecirc;ncia Negra Peregum, em parceria com o N&uacute;cleo de Pesquisa e Forma&ccedil;&atilde;o em Ra&ccedil;a, G&ecirc;nero e Justi&ccedil;a Racial (Afro-Cebrap) e com apoio do Banco Mundial, apresenta recomenda&ccedil;&otilde;es para inserir esse grupo no mercado de trabalho. 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Ao contr&aacute;rio da m&eacute;dia nacional, a renda m&eacute;dia das mulheres brancas &eacute; maior do que a dos homens negros.</p> <p class="texto">Entre as principais solu&ccedil;&otilde;es apresentadas por especialistas, o fomento de pol&iacute;ticas p&uacute;blicas, distribui&ccedil;&atilde;o de renda e a valoriza&ccedil;&atilde;o do sal&aacute;rio m&iacute;nimo s&atilde;o fatores fundamentais para estimular a conclus&atilde;o escolar. Al&eacute;m disso, eles apontam como fator preponderante a&ccedil;&otilde;es afirmativas do setor privado que garantam a entrada e perman&ecirc;ncia de jovens negros no mercado de trabalho.</p> <p class="texto">Atualmente em tramita&ccedil;&atilde;o na C&acirc;mara dos Deputados, o Projeto de Lei 2067/21, de autoria da deputada federal Benedita da Silva (PT), determina que empresas contratadas pela istra&ccedil;&atilde;o p&uacute;blica para realiza&ccedil;&atilde;o de servi&ccedil;os reservem pelo menos 30% dos postos de trabalho a profissionais negros.</p> <p class="texto">O PL altera a nova Lei de Licita&ccedil;&otilde;es. Se aprovada, as empresas dever&atilde;o adotar medidas de promo&ccedil;&atilde;o da igualdade racial como capacita&ccedil;&atilde;o e cria&ccedil;&atilde;o de ouvidorias ou equipes especializadas em diversidade</p> <h3>Preconceito ainda impera no pa&iacute;s</h3> <p class="texto"><div> <amp-img src="https://midias.correiobraziliense.com.br/_midias/jpg/2022/11/18/400x526/1_sonia_lesse_direitora_de_experiencias_na_profissas__especialista_em_diversidade_e_inclusao__26870446-26880308.jpeg" width="399" height="526" layout="responsive" alt="S&ocirc;nia Lesse: &quot;No Brasil n&atilde;o h&aacute; uma empresa de inclus&atilde;o org&acirc;nica&quot;"></amp-img> <figcaption>Arquivo Pessoal - <b>S&ocirc;nia Lesse: &quot;No Brasil n&atilde;o h&aacute; uma empresa de inclus&atilde;o org&acirc;nica&quot;</b></figcaption> </div></p> <p class="texto">Para a especialista em diversidade e inclus&atilde;o e diretora de experi&ecirc;ncias na Profissas, S&ocirc;nia Lesse, ainda existe uma tend&ecirc;ncia entre as corpora&ccedil;&otilde;es de contratar profissionais negros e pardos como "estrat&eacute;gia de marketing". Ela critica essa postura, ponderando que um ambiente diverso e inclusivo deve ser, necessariamente, fomentado na pr&oacute;pria empresa.</p> <p class="texto">De acordo com ela, casos como os assassinatos do estadunidense George Floyd e do brasileiro Jo&atilde;o Alberto na rede Carrefour provocaram uma mobiliza&ccedil;&atilde;o social que implicou na a&ccedil;&atilde;o de empresas que, agora, "precisam correr atr&aacute;s do preju&iacute;zo".</p> <p class="texto">Essas movimenta&ccedil;&otilde;es, conhecidas como a&ccedil;&otilde;es afirmativas &mdash; processos estruturantes pontuais no qual a cada vaga ofertada uma porcentagem &eacute; destinada para a inclus&atilde;o de minorias sociais &mdash;, come&ccedil;am, na maioria das vezes, por etapas. Mesmo com essa demanda e preocupa&ccedil;&atilde;o social, ela analisa que, atualmente, os ambientes de trabalho ainda enfrentam muita resist&ecirc;ncia para a inclus&atilde;o de funcion&aacute;rios negros e, consequentemente, implica na aus&ecirc;ncia dessas pessoas em cargos de lideran&ccedil;a.</p> <p class="texto">"No Brasil n&atilde;o h&aacute; uma empresa sequer de inclus&atilde;o org&acirc;nica. Temos casos muito positivos, como a Natura, mas ainda estamos distantes de conseguir alcan&ccedil;ar um ponto ideal", diz Lesse, observando que o maior erro das empresas n&atilde;o letradas na pauta racial &eacute; replicar m&eacute;todos e estrat&eacute;gias utilizadas por outras corpora&ccedil;&otilde;es. "&Eacute; um o que prioriza mais os resultados do que a estrutura", diz.</p> <p class="texto">Lesse afirma, ainda, que investimentos na &aacute;rea de diversidade e inclus&atilde;o n&atilde;o s&atilde;o comuns nas empresas brasileiras. De acordo com levantamento realizado por ela, a maioria destina menos de 10% do capital para a&ccedil;&otilde;es afirmativas. "Trata-se de um or&ccedil;amento irris&oacute;rio, que limita a atua&ccedil;&atilde;o do RH e &aacute;reas de diversidade e inclus&atilde;o. Nada mais do que uma forma de garantir o racismo", afirma.</p> <p class="texto">Para a especialista, os processos seletivos e programas de trainee exclusivos para jovens negros s&atilde;o a&ccedil;&otilde;es v&aacute;lidas, por&eacute;m n&atilde;o podem ser "soltas". Lesse defende que haja uma an&aacute;lise cr&iacute;tica e respons&aacute;vel do mercado por parte das empresas. "Elas n&atilde;o podem se isentar da discuss&atilde;o da isen&ccedil;&atilde;o do racismo, precisam debater a responsabilidade branca", diz.</p> <p class="texto">"Sem diversidade n&atilde;o tem mercado. Se as empresas olharem estrategicamente para o mercado como um todo, &eacute; poss&iacute;vel pensar na continuidade do neg&oacute;cio no &acirc;mbito da inova&ccedil;&atilde;o", afirma. "N&atilde;o criar um produto ou oferecer um servi&ccedil;o que sirva para a maioria da popula&ccedil;&atilde;o, que &eacute; negra, vai culminar em fracasso", critica."Temos que reverberar a quest&atilde;o o ano inteiro porque o racismo &eacute; um problema de toda a sociedade brasileira", finaliza.</p> <h3>Caminho at&eacute; o mercado</h3> <p class="texto"><div> <amp-img src="https://midias.correiobraziliense.com.br/_midias/jpg/2022/11/18/400x526/1_img_8947_26867210-26880174.jpg" width="400" height="526" layout="responsive" alt="J&uacute;lia Silva: &quot;Barreiras contra os negros s&atilde;o n&iacute;tidas em todas as camadas da sociedade&quot;"></amp-img> <figcaption>Luciano Marcos/Arquivo Pessoal - <b>J&uacute;lia Silva: &quot;Barreiras contra os negros s&atilde;o n&iacute;tidas em todas as camadas da sociedade&quot;</b></figcaption> </div></p> <p class="texto">A analista cont&aacute;bil J&uacute;lia Silva, 23, acredita que, se fosse branca, teria mais oportunidade no mercado de trabalho. "Apesar de nunca ter sofrido qualquer tipo de descrimina&ccedil;&atilde;o nos processos seletivos, as barreiras contra pessoas negras s&atilde;o n&iacute;tidas e existem em todas as camadas da sociedade", afirma.</p> <p class="texto">Formada em ci&ecirc;ncias cont&aacute;beis pela Universidade de Bras&iacute;lia (UnB), J&uacute;lia &eacute; a primeira da fam&iacute;lia a ingressar em uma universidade p&uacute;blica. Ela atribui parte dessa conquista ao esfor&ccedil;o dos pais. "Empenhei-me muito para entrar na UnB porque sabia, desde cedo, que isso daria um peso muito maior quando procurasse emprego", diz.</p> <p class="texto">Antes de ocupar o cargo que exerce na Confedera&ccedil;&atilde;o Nacional da Ind&uacute;stria (CNI), a J&uacute;lia Silva participou de processos seletivos e programas de trainee exclusivos para pessoas negras em outras corpora&ccedil;&otilde;es. "S&atilde;o diversas etapas nesse processo, com entrevistas e din&acirc;micas de grupo que chegam a ser desgastantes. Muitas vezes, pessoas brancas assumem o papel de recrutadores. Para n&oacute;s, enxergar um rosto de algu&eacute;m preto d&aacute; uma sensa&ccedil;&atilde;o de conforto e conseguimos nos abrir com mais seguran&ccedil;a", desabafa.</p> <p class="texto">J&uacute;lia considera importante os processos seletivos exclusivos para funcion&aacute;rios negros, por&eacute;m, analisa que apenas a garantia da porta de entrada n&atilde;o &eacute; suficiente solucionar o racismo. "Alguns treinamentos sobre como lidar com a diversidade devem ser incorporados &agrave; viv&ecirc;ncia empresarial. Em outras ocasi&otilde;es, presenciei como eles geram debates e questionamentos necess&aacute;rios entre pessoas brancas", conta.</p> <p class="texto">"Ainda vivemos em situa&ccedil;&atilde;o de muita vulnerabilidade. Ent&atilde;o, na maioria das vezes, n&atilde;o conseguimos escolher trabalhar por prazer. Temos que levar em considera&ccedil;&atilde;o o sal&aacute;rio e benef&iacute;cios oferecidos", diz.</p> <p class="texto"><div> <amp-img src="https://midias.correiobraziliense.com.br/_midias/jpg/2022/11/18/400x526/1_brenna_26867348-26880191.jpeg" width="400" height="526" layout="responsive" alt="Brenna Vilanova: &quot;Ainda vivemos em situa&ccedil;&atilde;o de muita vulnerabilidade&quot; "></amp-img> <figcaption>Arquivo Pessoal - <b>Brenna Vilanova: &quot;Ainda vivemos em situa&ccedil;&atilde;o de muita vulnerabilidade&quot; </b></figcaption> </div></p> <p class="texto">A estagi&aacute;ria de pesquisa tradicional no Instituto Brasileiro de Pesquisa e An&aacute;lise de Dados (IBPAD), Brenna Araujo Vilanova, 23, reflete que a entrada de jovens no mercado deve ir al&eacute;m das cotas em processos seletivos. "A popula&ccedil;&atilde;o negra descende de um hist&oacute;rico marginalizado, e esse &eacute; um dos motivos pelo qual existe uma forte baixa autoestima profissional entre n&oacute;s", afirma.</p> <p class="texto">Os pr&eacute;-requisitos e caracter&iacute;sticas exigidos por empresas, segundo ela, s&atilde;o um dos fatores que fecham as portas do mercado de trabalho para jovens negros. "O modo como voc&ecirc; &eacute; contratado tamb&eacute;m influencia. &Eacute; necess&aacute;rio abolir esse pensamento elitista que cobra diversos conhecimentos t&eacute;cnicos, equipamentos e idiomas", conta. 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Eu, Estudante 445c6h

CONSCIÊNCIA NEGRA

Inclusão de jovens negros no mercado ainda é um desafio 3e3l41

Pesquisa mostra que inserção e permanência desse grupo constitui um processo desafiador a ser equacionado com a implementação de políticas públicas 4z4y4a

Desde 2011, o 20 de novembro é a data oficial do Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra instituído pela lei 12.519. O objetivo é garantir espaço e visibilizar o diálogo a respeito das mazelas sociais vivenciadas por mais da metade da população do país (54%), de acordo com levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Além disso, o mês inteiro também é dedicado a debater questões ligadas à pauta racial.

Estudo intitulado Jovens Negros e o Mercado de Trabalho, realizado pelo Instituto de Referência Negra Peregum, em parceria com o Núcleo de Pesquisa e Formação em Raça, Gênero e Justiça Racial (Afro-Cebrap) e com apoio do Banco Mundial, apresenta recomendações para inserir esse grupo no mercado de trabalho. A pesquisa conclui que, para a maioria dos jovens negros brasileiros, a inserção e permanência no mercado são um processo desafiador que pode ser equacionado com a implementação de políticas públicas.

Entre as histórias de superação, figura a dos gêmeos João Guilherme e Júlio César Valentino, 19 anos. Em meio a um momento turbulento na vida, com a mãe desempregada e contas a pagar, os dois decidiram que o próximo o após a formação no ensino médio seria ingressar no mercado de trabalho para ajudar com as contas da casa.

"Começar a trabalhar era o que a gente queria", diz Júlio César, lembrando que a mãe, Valeria Sérgio, nunca deixou de priorizar a educação dos filhos. "Sempre fomos dedicados na escola porque ela pegava no nosso pé. A gente é que não enxergava motivo para estudar as matérias", conta João Guilherme. Ainda assim, completa, nas horas vagas tentava cultivar o hábito da leitura.

Acatando os conselhos da mãe, no entanto, os gêmeos despertaram a vontade de aprender cada vez mais. "Entendemos que, com conhecimento e informação, poderíamos ir longe, mas nos deparamos com a falta de qualificação, que dificulta muito a entrada no mercado de trabalho", diz João.

Com o apoio de um amigo próximo, os irmãos retomaram os estudos. Foi o padrinho João Soares o responsável por financiar as despesas do curso preparatório para o vestibular da Escola Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx).

Foram oito meses de uma rotina de 14 horas de estudos por dia. "O fato de compartilharmos praticamente os mesmo objetivos e o companheirismo nos ajudou a superar o cansaço e a realizar os sonhos", afirma Júlio César.

Minervino Junior/CB/D.A. Press - Os gêmeos Júlio César (E) e João Guilherme (D) conciliam trabalho e estudo, mas não abrem mão da decisão de ingressar em uma universidade

Conectados pelo mesmo objetivo, os irmãos dividem a mesa de estudos e a função no trabalho de meio período, três dias por semana, como atendentes de uma rede de fast-food de um shopping de Brasília, mas em lojas diferentes. De acordo com eles, a escolha por um emprego com carga horária flexível possibilitou que ambos prosseguissem nos estudos.

Para os gêmeos, além do apoio financeiro do padrinho, a figura materna foi e continua sendo a principal razão para vislumbrar um futuro melhor. "Minha mãe sempre esteve muito presente e participou do nosso crescimento. O sentimento que fica é de eterna gratidão por tudo", diz Júlio César.

"É só depois que a gente cresce que notamos que a insistência dela era fundamental", completa João Guilherme. Para o futuro, os dois almejam ingressar no Exército e também no ensino superior. Júlio César pretende cursar educação física, enquanto o irmão está dividido entre física, história e geografia.

No estudo Jovens Negros e o Mercado de Trabalho, foram analisados, além da falta de estímulos e condições sociais — como a dificuldade ao o à internet —, educação de qualidade e ausência de benefícios oferecidos pelas próprias empresas, fatores que podem afetar sobremaneira a inserção de jovens negros no mercado de trabalho. Na pesquisa foram colhidos 81 depoimentos em Belém, Recife, Brasília, Belo Horizonte e Porto Alegre.

Um dos obstáculos na vida profissional de jovens negros é escolher entre o trabalho e os estudos, ou mesmo não conseguir nenhum dos dois por "não cumprir" os requisitos exigidos para a ocupação da vaga. Nesse contexto, destacam-se os "nem-nem" — que não estudam nem trabalham.

Transcorridos quase 135 anos da abolição da escravatura no Brasil, a realidade discrepante entre brancos e negros no mercado de trabalho continua sendo um grande problema ainda longe de ser solucionado. Dados da Pnad Contínua 2019 mostram que mais de 60% dos profissionais de serviço braçal são negros e que, na mesma proporção, os empregadores são brancos.

grafico genero raca - .

O estudo constata que, nas regiões metropolitanas, os salários são maiores, mas, ao mesmo tempo, imperam as desigualdades entre os trabalhadores negros. A remuneração recebida por homens brancos também é maior em relação a homens e mulheres negros, evidenciando a histórica desigualdade racial de renda. Ao contrário da média nacional, a renda média das mulheres brancas é maior do que a dos homens negros.

Entre as principais soluções apresentadas por especialistas, o fomento de políticas públicas, distribuição de renda e a valorização do salário mínimo são fatores fundamentais para estimular a conclusão escolar. Além disso, eles apontam como fator preponderante ações afirmativas do setor privado que garantam a entrada e permanência de jovens negros no mercado de trabalho.

Atualmente em tramitação na Câmara dos Deputados, o Projeto de Lei 2067/21, de autoria da deputada federal Benedita da Silva (PT), determina que empresas contratadas pela istração pública para realização de serviços reservem pelo menos 30% dos postos de trabalho a profissionais negros.

O PL altera a nova Lei de Licitações. Se aprovada, as empresas deverão adotar medidas de promoção da igualdade racial como capacitação e criação de ouvidorias ou equipes especializadas em diversidade

Preconceito ainda impera no país z361a

Arquivo Pessoal - Sônia Lesse: "No Brasil não há uma empresa de inclusão orgânica"

Para a especialista em diversidade e inclusão e diretora de experiências na Profissas, Sônia Lesse, ainda existe uma tendência entre as corporações de contratar profissionais negros e pardos como "estratégia de marketing". Ela critica essa postura, ponderando que um ambiente diverso e inclusivo deve ser, necessariamente, fomentado na própria empresa.

De acordo com ela, casos como os assassinatos do estadunidense George Floyd e do brasileiro João Alberto na rede Carrefour provocaram uma mobilização social que implicou na ação de empresas que, agora, "precisam correr atrás do prejuízo".

Essas movimentações, conhecidas como ações afirmativas — processos estruturantes pontuais no qual a cada vaga ofertada uma porcentagem é destinada para a inclusão de minorias sociais —, começam, na maioria das vezes, por etapas. Mesmo com essa demanda e preocupação social, ela analisa que, atualmente, os ambientes de trabalho ainda enfrentam muita resistência para a inclusão de funcionários negros e, consequentemente, implica na ausência dessas pessoas em cargos de liderança.

"No Brasil não há uma empresa sequer de inclusão orgânica. Temos casos muito positivos, como a Natura, mas ainda estamos distantes de conseguir alcançar um ponto ideal", diz Lesse, observando que o maior erro das empresas não letradas na pauta racial é replicar métodos e estratégias utilizadas por outras corporações. "É um o que prioriza mais os resultados do que a estrutura", diz.

Lesse afirma, ainda, que investimentos na área de diversidade e inclusão não são comuns nas empresas brasileiras. De acordo com levantamento realizado por ela, a maioria destina menos de 10% do capital para ações afirmativas. "Trata-se de um orçamento irrisório, que limita a atuação do RH e áreas de diversidade e inclusão. Nada mais do que uma forma de garantir o racismo", afirma.

Para a especialista, os processos seletivos e programas de trainee exclusivos para jovens negros são ações válidas, porém não podem ser "soltas". Lesse defende que haja uma análise crítica e responsável do mercado por parte das empresas. "Elas não podem se isentar da discussão da isenção do racismo, precisam debater a responsabilidade branca", diz.

"Sem diversidade não tem mercado. Se as empresas olharem estrategicamente para o mercado como um todo, é possível pensar na continuidade do negócio no âmbito da inovação", afirma. "Não criar um produto ou oferecer um serviço que sirva para a maioria da população, que é negra, vai culminar em fracasso", critica."Temos que reverberar a questão o ano inteiro porque o racismo é um problema de toda a sociedade brasileira", finaliza.

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Luciano Marcos/Arquivo Pessoal - Júlia Silva: "Barreiras contra os negros são nítidas em todas as camadas da sociedade"

A analista contábil Júlia Silva, 23, acredita que, se fosse branca, teria mais oportunidade no mercado de trabalho. "Apesar de nunca ter sofrido qualquer tipo de descriminação nos processos seletivos, as barreiras contra pessoas negras são nítidas e existem em todas as camadas da sociedade", afirma.

Formada em ciências contábeis pela Universidade de Brasília (UnB), Júlia é a primeira da família a ingressar em uma universidade pública. Ela atribui parte dessa conquista ao esforço dos pais. "Empenhei-me muito para entrar na UnB porque sabia, desde cedo, que isso daria um peso muito maior quando procurasse emprego", diz.

Antes de ocupar o cargo que exerce na Confederação Nacional da Indústria (CNI), a Júlia Silva participou de processos seletivos e programas de trainee exclusivos para pessoas negras em outras corporações. "São diversas etapas nesse processo, com entrevistas e dinâmicas de grupo que chegam a ser desgastantes. Muitas vezes, pessoas brancas assumem o papel de recrutadores. Para nós, enxergar um rosto de alguém preto dá uma sensação de conforto e conseguimos nos abrir com mais segurança", desabafa.

Júlia considera importante os processos seletivos exclusivos para funcionários negros, porém, analisa que apenas a garantia da porta de entrada não é suficiente solucionar o racismo. "Alguns treinamentos sobre como lidar com a diversidade devem ser incorporados à vivência empresarial. Em outras ocasiões, presenciei como eles geram debates e questionamentos necessários entre pessoas brancas", conta.

"Ainda vivemos em situação de muita vulnerabilidade. Então, na maioria das vezes, não conseguimos escolher trabalhar por prazer. Temos que levar em consideração o salário e benefícios oferecidos", diz.

Arquivo Pessoal - Brenna Vilanova: "Ainda vivemos em situação de muita vulnerabilidade"

A estagiária de pesquisa tradicional no Instituto Brasileiro de Pesquisa e Análise de Dados (IBPAD), Brenna Araujo Vilanova, 23, reflete que a entrada de jovens no mercado deve ir além das cotas em processos seletivos. "A população negra descende de um histórico marginalizado, e esse é um dos motivos pelo qual existe uma forte baixa autoestima profissional entre nós", afirma.

Os pré-requisitos e características exigidos por empresas, segundo ela, são um dos fatores que fecham as portas do mercado de trabalho para jovens negros. "O modo como você é contratado também influencia. É necessário abolir esse pensamento elitista que cobra diversos conhecimentos técnicos, equipamentos e idiomas", conta. "Precisamos aumentar a preocupação na qualificação ível para todos" completa.

Estagiária sob a supervisão
de Jáder Rezende

 

 

Estagiária sob a supervisão
de Jáder Rezende