A recente cruzada da Conmebol contra o racismo — forçada principalmente pela comoção após o episódio de injúria de torcedores do Cerro Porteño contra o atacante Luighi, do Palmeiras, na Libertadores Sub-20 — contrasta com o número de técnicos negros empregados na versão adulta do principal torneio da América do Sul. Dos 32 donos de pranchetas, apenas dois são pretos. Roger Machado comanda o Internacional, hoje, às 21h30, contra o Atlético Nacional-COL, em Medelín, mesmo horário em que o equatoriano Segundo Castillo orquestra o Barcelona de Guayaquil no duelo em casa diante do poderoso River Plate.
Roger Machado é um ativista racial no futebol. Não se esquiva sobre o assunto. Pelo contrário, alimenta o debate e pede constantes reflexões. No último Dia da Consciência Negra, aproveitou a coletiva pós-jogo contra o Fluminense para falar dos "pequenos avanços" do Brasil. "Penso que a gente fez muitas evoluções, o país começou a olhar de alguma forma para essa questão, porém vejo que os avanços são pequenos. Para mim o futebol ele amplifica e aponta como somos como sociedade", discursou o único treinador negro da Série A.
O racismo estrutural enfrentado por técnicos negros reflete na Seleção Brasileira. Desde a demissão de Dorival Júnior, nenhum preto foi sequer cogitado ao lado do italiano Carlo Ancelotti e dos portugueses Jorge Jesus e Abel Ferreira. Detalhe: Roger Machado chegou ostentar 17 de partidas de invencibilidade até a derrota para o Palmeiras em 16 de abril.
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Há um simbolismo na presença de Roger Machado à frente do Internacional contra o Atlético Nacional na Colômbia. O país tem o único treinador negro campeão da Libertadores. Em 1989, Francisco Maturana ensaiou o próprio Atlético Nacional ao primeiro título continental ao desbancar o Olimpia-PAR nos pênaltis, por 5 x 4. Em 2001, tornou-se pioneiro em outro torneio da Conmebol, ao brindar Los Cafeteros com o título da Copa América em casa.
Em 2016, Maturana falou ao Correio e revelou surpresa ao ser lembrado de que é o único técnico negro campeão da Libertadores e da Copa América: "Não sabia, fico honrado". O sentimento foi o mesmo quando a reportagem lembrou que, naquele ano, Roger Machado vivia a mesma situação de 2025. "Era o único? Assustador. Precisamos superar isso. Nunca (sofreu racismo), nem na América nem em canto algum. Mas não posso afirmar que isso não existe", ponderou.
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Aliado de Roger Machado na cruzada contra o racismo estrutural, Segundo Castillo é um novato à beira do gramado. Jogador de uma Copa do Mundo (2006) e de duas Copas Américas (2007 e 2011) com a seleção equatoriana, Castillo completará contra o River Plate o 24º jogo como treinador profissional. Chegou ao Barcelona de Guayaquil em outubro do ano ado e tem 68% de aproveitamento, com 14 vitórias. Nesta temporada, levou um dos clubes mais populares do país à fase de grupos ao desbancar o Corinthians de Memphis Depay, Yuri Alberto e companhia na fase prévia.
Foi justamente nos jogos contra o alvinegro do Parque São Jorge que Castillo ganhou popularidade. Motivo: a maneira como se veste. O treinador costuma chamar a atenção com looks. Dificilmente abre mão dos ternos e das gravatas borboletas em cores ousadas. Há relatos de que os trajes são guardados a sete chaves antes das partidas. Chegam em malas e são revelados apenas na hora de subir ao gramado. Com a bola rolando na Libertadores, o Barcelona segue com chances de classificação. Com quatro pontos, tem a chance de fechar a rodada na liderança em caso de vitória contra o tetracampeão River Plate.
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