
A temporada da NBA ainda está decidindo o campeão, com Thunder, Timberwolves, Knicks e Pacers vivos nos playoffs, mas um dos vencedores não declarados é Gui Santos. Único brasileiro em ação na principal competição do basquete mundial, o ala de 22 anos viveu um período de consolidação no Golden State Warriors, ao lado de estrelas como Stephen Curry, Jimmy Butler e Draymond Green, e virou peça importante no elenco do técnico Steve Kerr. Depois de chegar nas semifinais de conferência e entrar em quadra nos playoffs, o jogador aproveitou as férias para voltar a Brasília, a cidade natal, e curtir a família, mas sem perder o foco na preparação para a próxima edição da liga.
Gui deixou a vista da Ponte JK para ter por perto um cartão postal semelhante em São Francisco, a ponte Golden Gate. O processo de adaptação levou tempo, precisando lidar com a nova cultura, o idioma diferente e até a saudade de casa. No entanto, agora a vida nos Estados Unidos está mais tranquila e o desempenho em quadra foi reflexo disso. Foram 56 partidas na temporada regular, além de outras 10 nos playoffs. Apesar do número de pontos ser modesto, com 4,1 de média, o brasiliense ajudou principalmente com a energia, os rebotes, a defesa e o aproveitamento nos arremessos, com índice de acerto acima de 45%.
“Foi uma temporada boa, especialmente para ganhar espaço no time, mas também um pouco de respeito no vestiário. Antes eu entrava em um jogo ou outro, mas esse ano estive mais presente na rotação todos os dias, mostrando no que eu podia ajudar a equipe, que poderíamos jogar bem comigo dentro da escalação. Foi importante ar essa visão e a qualidade que eu tenho, não só para o Golden State, mas para toda a NBA”, contou ao Correio.
“Quando eu entrava no jogo, sabia que tinha que fazer a diferença de alguma forma e muitas vezes não é fazendo cesta. Encontrei outras maneiras, pegando rebote, marcando e criando impacto mesmo sem tocar muito na bola”, completou.
ageiro de primeira viagem nos playoffs, Gui pôde ter minutos de ação mesmo como estreante em mata-mata, fase em que os técnicos costumam usar rotações mais curtas. Apesar de ter vivido este cenário no Brasil, ele se deparou com um novo desafio, mas se saiu bem e teve partidas com 7 pontos nas séries contra Houston Rockets e Minnesota Timberwolves. O Warriors foi eliminado no segundo confronto.
“É uma experiência totalmente diferente, o basquete nos Estados Unidos é outro. Na série contra Houston, foi um nível muito mais físico e eu nunca tinha visto isso em um jogo de temporada regular. Tem toda a questão física e tática por jogar contra o mesmo time várias vezes, então você precisa se preparar muito bem. Foi uma experiência muito boa”, analisou.
A intensidade do jogo na NBA fez com que o candango aumentasse ainda mais a preocupação com o próprio corpo. De férias, Gui manteve a rotina de treinos para poder manter o bom preparo, especialmente planejando o ano seguinte e os demais que virão pela frente.
“A temporada para mim e para o meu time já acabou, então já pensamos no próximo o. O foco é treinar mais e mais, evoluir no que posso para ter um salto ainda maior na próxima temporada. Enquanto isso, vou aproveitar com a família e comer a comida da mamãe, mas já me preparando. Não posso parar, porque penso muito no futuro da minha família, com a minha esposa e filhos, então a força vem daí”, explicou.
Apesar de ter se despedido nas semifinais de conferência com o Warriors, o ala acredita que a janela para o time ser campeão ainda está aberta, principalmente enquanto Curry seguir no elenco. Para este ano, porém, ele aposta as fichas no Oklahoma City Thunder, na frente do Timberwolves por 3 x 1 na série melhor de sete.
“Acho que o Thunder vai para a final e eles devem ser campeões. Acredito que eles sejam melhores do que o Knicks ou o Pacers. O time é muito bom, difícil de jogar contra, então tem tudo para ficarem com o troféu”,
Raízes no NBB
Antes de chegar na NBA, Gui primeiro construiu uma carreira sólida no Novo Basquete Brasil (NBB). Em quatro temporadas pelo Minas, o ala levou para casa os prêmios de destaque jovem (20/21), maior evolução (20/21) e melhor sexto homem (21/22) e moldou o currículo que o levou a ser escolhido pelo Warriors com a 55ª seleção do draft de 2022. O período no basquete nacional, inclusive, foi ao lado de muitos nomes renomados da modalidade e que fizeram parte da caminhada até a liga norte-americana.
“O Leandrinho foi um cara que me ajudou muito, porque ela falava tudo sobre a NBA, sobre como funcionava. O Alex Garcia foi importante nesse processo e eu também conversava com o JP Batista sobre jogar na Europa. Cada um que ou contribuiu um pouco. Poder ver e conviver com esses atletas de elite é uma experiência muito importante para um jogador jovem. Ter esse aprendizado com eles ajudou muito para minha chegada na NBA”, relembrou.
Mesmo sendo parte da nova geração, o ala do Warriors pavimentou o caminho para que outros nomes da garotada sigam um rumo parecido e se tornou referência para muitos. Apesar de assumir ainda não ter noção do papel de inspiração que ele exerce em jovens talentos do basquete brasileiro, a crença é de que outros jogadores alcancem o mesmo patamar e aumentem o número de brasileiros na liga.
“Sempre surgem bons jogadores. Tem o Reynan dos Santos, que é muito novo e está no NBB, pelo Pinheiros, o Samis Calderón e o Du Klafke, no basquete universitário dos Estados Unidos. São todos ótimos e que tem muita chance de ir para a NBA, é só continuar trabalhando e fazendo as coisas do jeito certo. É muito difícil chegar lá, mas é ainda mais difícil se manter”, opinou no papel de veterano.
Enquanto isso, Gui segue de olho nos playoffs do NBB. Um dos finalistas será definido no duelo entre Minas contra Bauru e o outro sairá da chave entre Flamengo e Franca. Criado com as cores do time mineiro, o ala assumiu a torcida por outro time, mas se justificou.
“Acompanho muito o NBB, tenho vários amigos que jogam, então vejo sempre que posso. No momento, estou torcendo para o Flamengo, porque tem muitos amigos meus lá, então é pela questão da amizade. O basquete está crescendo cada vez mais no Brasil, tem sido um momento muito legal”, encerrou.