
O Bolsa Família foi responsável por prevenir ao menos 713 mil mortes e mais de 8,2 milhões de hospitalizações no Brasil de 2004 a 2019. Os números são de um estudo publicado ontem na revista científica britânica The Lancet Public Health, uma das mais influentes do mundo. O trabalho foi coordenado pelo Barcelona Institute for Global Health (ISGlobal) em colaboração com o Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (UFBA).
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Os pesquisadores apontaram que os benefícios do programa foram maiores em comunidades com maior incidência de doenças. Os dados mostraram que, além de contribuir para a redução da pobreza, o Bolsa Família permitiu a diminuição das desigualdades territoriais de saúde. "A alta cobertura do programa foi associada a reduções significativas tanto nas taxas de mortalidade quanto nas taxas de hospitalização em toda a população. Os maiores benefícios foram observados no enfrentamento da mortalidade infantil — especialmente entre crianças menores de cinco anos, com uma redução de 33% — e nas hospitalizações entre pessoas com mais de 70 anos, com uma redução de 48%", conclui o estudo.
Os pesquisadores também apontaram, utilizando um modelo de microssimulação preditiva, que se o programa for estendido até 2030, será possível evitar outras 684 mil mortes. Por outro lado, se o governo optar por reduzir a cobertura, a medida poderá resultar no significativo aumento da mortalidade e pressionar o sistema de saúde.
O Bolsa Família, criado ainda no primeiro governo Lula, completou 20 anos em 2024. Ele unificou outros programas de transferência de renda já existentes, como o Bolsa-Escola, que começou no Distrito Federal em 1995, no governo de Cristovam Buarque (à época no PT). Segundo o governo federal, o programa tem mais de 50 milhões de beneficiários. "O Programa Bolsa Família contribuiu não apenas para reduzir a pobreza, mas também para diminuir as desigualdades territoriais de saúde", disse Davide Rasella, pesquisador do ISGlobal e coordenador do estudo. Para Rasella, a experiência do Brasil é importante para os princípios da Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza.
Já Daniella Cavalcanti, uma das autoras do estudo, disse que o modelo brasileiro se destaca em um contexto global em que os Estados estão diminuindo a ajuda aos mais necessitados por questões fiscais. "No contexto atual de declínio da ajuda humanitária global e pressões fiscais, é particularmente oportuno destacar o impacto positivo de um dos maiores programas de transferência condicional de renda do mundo", afirmou.