
Nos últimos anos, logo após a pandemia arrefecer, a artista Cíntia Falkenbach mergulhou em um projeto que envolveu o ambiente silencioso e rico de um povoado do interior de Goiás e a vontade de olhar para um universo tão brasileiro quanto pessoal. Em uma casa próximo a Pirenópolis (GO), Cíntia começou a coletar materiais para uma série de assemblages cujo primeiro lote ela apresenta agora em Ritualística brasiliana, em cartaz a partir de amanhã na galeria Matéria Plástica.
Com um total de 25 assemblages e um conjunto de 30 peças pequenas em cerâmica, uma nova incursão da artista, ela se propõe a falar do que chama de "visão imagética de ícones culturais pessoais e brasileiros". "É uma série de materiais que fui juntando e que começaram a conversar entre si", explica. Madeira, pena, palha, ex-votos, pastilhas de cerâmicas, os materiais utilizados nas assemblages são bastante variados e resultam nas mais diversas composições.
Em comum, há sempre a vontade da artista em colocar em um mesmo conjunto referências das três culturas que formam a base da sociedade brasileira: a africana, a indígena e a portuguesa. "Fui usando muita pena como se fosse um couro. Assemblage é uma técnica bastante rica, porque você pode fazer quase tudo. São materiais bem naturais. Trabalhei em cima de pastilha de cerâmica tentando trazer um pouco da azulejaria portuguesa e usei alguns símbolos dos orixás", avisa.
Três cores — branco, preto e marrom — são dominantes nas obras, uma escolha que também remete às origens de um povo miscigenado. "Entre os materiais, foi muito interessante o que rolou com a comunidade: ganhei bastante pena de bicho, porque aqui tem bastante bicho. A coisa foi para esse lado e acabou que o trabalho caiu nessa temática. É uma temática tradicional brasileira, intrínseca, que compreendo muito bem e que acho que qualquer brasileiro compreende muito bem", conta a artista.
O trabalho também é fruto das circunstâncias. Cíntia acredita que o mote de tudo foi o local. "É uma vilinha bem pequenina, com uns 200 habitantes, meia dúzia de casas, uma igreja, muito tranquilo. E aqui comecei a ler Jung e a fazer um trabalho de arqueologia de mim mesma", explica. No interior do Brasil, em lugar pequeno, com um cristianismo atuante e toda a vida social em torno da igreja, Cíntia começou a colecionar penas, peças de madeira e objetos bem brasileiros. "E acabei caindo num ponto que é meu, mas é de qualquer brasileiro, que é essa coisa de ter uma parte de cultura indígena, portuguesa e africana", diz.
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