ARTES CÊNICAS

Musical 'Chatô e os Diários Associados' traz mais que um espetáculo para Brasília

Peça arrebatou o público ao mostrar a grandeza do jornalista paraibano, para além das contradições e dos estereótipos

 Peça Musica em comemoração dos 100 anos de Assis Chateaubriand no Centro de Convenções Ulysses Guimarães. -  (crédito:  MINERVINO JUNIOR                    )
Peça Musica em comemoração dos 100 anos de Assis Chateaubriand no Centro de Convenções Ulysses Guimarães. - (crédito: MINERVINO JUNIOR )

Na noite da última terça-feira (10/6), artistas locais e representantes culturais do Distrito Federal prestigiaram a sessão especial do bem-humorado musical Chatô e os Diários Associados — 100 anos de paixão, espetáculo que exalta a história do jornalista Assis Chateaubriand e o centenário do grupo de comunicação do qual o Correio faz parte. Nesta quarta (11/6), a peça é exibida ao público, com tradução simultânea para libras, em sessões às 16h e às 20h, no Ulysses Guimarães.

Sob direção de Tadeu Aguiar, o musical é baseado na biografia Chatô: O rei do Brasil, de Fernando Morais, lançada em 1994 — o autor, ao lado de Eduardo Bakr, foi o responsável por adaptar o texto da obra para o teatro. Ao longo de duas horas e 20 minutos, divididos em dois atos, rádio e televisão, o espetáculo leva os espectadores em uma viagem ao século ado, entre os anos de 1920 e 1980, relembrando as agens mais relevantes da trajetória do jornalista, vivido por Stepan Nercessian.

A veia cômica do ator traz leveza para a figura controversa de Assis Chateaubriand. "Ele era um visionário que não media consequências para fazer aquilo que lhe desse na cabeça. Isso fica muito bem claro no espetáculo, apesar de ser colocado de uma maneira bem-humorada e leve", disse Stepan em entrevista previamente concedida ao Correio. Era um cara futurista, visionário", acrescentou.

A peça, no entanto, foca no verdadeiro amor do paraibano. "Eu sou um apaixonado pela notícia", declara o personagem de Chatô em determinado momento da peça. "No espetáculo, dizemos que o coração de Assis pulsa fora do peito desde antes dele comprar o primeiro jornal. E é isso que o espetáculo mostra: um jornalista apaixonado pela cultura, pela arte e pela informação", define o roteirista Edu Bakr.

Apesar de baseada no livro biográfico, a história da peça é contada a partir de um fundo ficcional, que envolve o romance entre os jornalistas Fabiano e Juliana, papéis de Claudio Lins e Patrícia França. Ele, ao lado de Chatô, viaja de 2024 em direção ao ado para registrar a história de amor entre o paraibano e a notícia — os diálogos entre os dois trazem à superfície a paixão e motivações de Chatô.

Em meio a questionamentos sobre as decisões do magnata da comunicação, Fabiano se apaixona pela funcionária da Rádio Tupi. "Juliana e Fabiano cumprem esse papel de trazer uma leveza para a peça e até mesmo uma certa ingenuidade que vai de encontro ao lado ácido de Chatô", descreveu Patrícia.

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Um verdadeiro musical

Contar a história de Assis Chateaubriand por meio de um espetáculo musical faz jus à trajetória de um dos pioneiros da radiofonia no Brasil. De Ademilde Fonseca, Jamelão e Lolita Rodrigues a Caetano Veloso, Gal Costa e Ivan Lins, a história da música brasileira é contada na peça por meio dos encontros dos artistas com a figura do jornalista paraibano. Faixas como Brasileirinho, Amor, amor, Apanhei-te cavaquinho e Eu sonhei que tu estavas tão linda mexeram com a memória afetiva do público, que se emociona ao relembrar sucessos das décadas adas.

São, ao todo, 50 canções, todas coerentes e pertencentes à era em que são citadas, garante o roteirista Eduardo Bakr. "Assim, o espectador pode entender qual é o tipo de música que se ouvia — se era de protesto, se estava mandando um recado, se era uma briga musical", explicou o roteirista Edu Bakr. A narrativa se estende até a chegada da música estrangeira ao país, também impulsionada por Chatô.

No total, são 20 atores que dão vida a grandes nomes da cultura brasileira, como Carmem Miranda, Dorival Caymmi, Lolita Rodrigues e Hebe Camargo. Todos os artistas, com exceção de Stepan, têm ao menos um solo durante a peça, uma exigência do diretor Tadeu Aguiar. Ao longo da peça, Chatô dá apenas uma palhinha de Alô, alô à capela, momento em que Carmem Miranda vai ao escritório do jornalista.

A artista, representada pela atriz Giselle de Prattes, tem destaque na peça e é representada pelas performances únicas e figurinos extravagantes. Ela arrebatou a plateia ao cantar Alô, alô ou O que que a baiana tem. Outro momento que empolgou o público foram as canções de Noel Rosa, tais como O orvalho vem caindo. O espetáculo mexe com a memória afetiva das pessoas e convida o público a cantar junto com os personagens em cena.

*Estagiária sob a supervisão de Severino Francisco

Chatô e os Diários Associados — 100 anos de paixão

Quarta-feira (11/6), no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, com sessões às 16h e às 20h. Entradas podem ser adquiridas por meio da plataforma Ingresso Digital, a partir de R$ 80 (meia-entrada). Classificação indicativa livre.

postado em 11/06/2025 06:00
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