
O cortejo espontâneo carnavalesco A Vida Presta, bloco que celebrou as indicações de Fernanda Torres e Ainda Estou Aqui ao Oscar, foi multado pela Prefeitura de São Paulo em R$ 15.401,51. De acordo com a idealizadora do evento, Clara Novais, essa foi a resposta do governo que se orgulha de ter o maior carnaval do Brasil.
“Multaram a gente por ocupar a rua com alegria, com cultura livre, responsável, afetuosa e espontânea. Sem bloquear vias importantes, sem sujeira, só música, dança e gente feliz”, disse Clara em publicação nas redes sociais.
A idealizadora destacou que tentou recorrer duas vezes à medida a partir de diálogos com representantes da prefeitura. "Tentamos explicar, argumentar, abrir uma escuta, nada adiantou." Clara acrescentou que a prefeitura agiu no evento por meio de patrulhamento da Polícia Militar e funcionários de limpeza.
“Intervimos para tentar evitar uma injustiça, acarretando na multa em nome de uma das participantes do bloco, no caso no meu, Clara Novais”, afirmou a idealizadora. Clara abriu uma vaquinha para custear a multa, que, caso não seja paga até a primeira semana de junho, terá o valor aumentado.
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De acordo com a Prefeitura de São Paulo, “o carnaval de rua de SP foi aprovado por 99% dos entrevistados, conforme pesquisa Datafolha. Sobre o evento A Vida Presta, a Subprefeitura Lapa autuou a responsável em 26/01/2025 devido à falta de autorização, o que é obrigatório para eventos em espaços públicos. A multa aplicada foi no valor de R$ 15.401,51.”
“A Vida Presta não é nem oficialmente um bloco. Foi tudo no improviso para trazer um pouco de alegria para São Paulo. Todo mundo que tocou e organizou tá no corre para tentar fechar as contas e ninguém tem R$ 15 mil sobrando no fim do mês”, disse Clara. “É um valor altíssimo, mas dividido por muitas pessoas não pesa para ninguém. Se você esteve lá, se acredita no carnaval de rua, se defende a cultura que nasce do povo, a gente precisa de você. Prometemos total transparência com as doações e assim que atingirmos a meta, encerramos a arrecadação", afirmou.
Ao Correio, Clara declarou que a Prefeitura insiste em chamar de evento os blocos de carnaval, sendo que a Lei nº 14.845, sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 24 de abril de 2024, reconhece oficialmente os blocos de carnaval como manifestação da cultura nacional. "Mais do que isso, a lei estabelece que o poder público deve garantir a livre atividade dos blocos. A gente não tinha trio elétrico, estrutura, ingresso etc. Então, isso não configura um evento. Foi uma roda de músicos, um encontro popular, legítimo, como sempre foi o carnaval de rua. Essa multa afere também a Constituição, que no artigo 5 garante a liberdade de expressão e manifestação artística."
Para Clara, para driblar os fatores mencionados, a PM registrou a manifestação espontânea como um evento com o tema bloco de carnaval. "Multar uma iniciativa não é só um desrespeito à lei, como também uma tentativa de criminalizar a cultura popular. E a gente não vai aceitar isso calado. A gente não perturbou a ordem pública, não causou nenhum dano, a gente cuidou da limpeza da área que a gente estava. Acho que a intenção da prefeitura é faturar com blocos enormes e sufocar essa manifestação artística espontânea do povo", concluiu.