Artes visuais

Exposição celebra artista de Bezerros que levou o sertão ao Brasil inteiro

Mostra no Congresso Nacional reúne xilogravuras, cordéis, matrizes e vídeos de J. Borges

J. Borges — poesia e arte Curadoria: Romildo Gastão. Visitação até 6 de junho, no Salão Negro do Congresso Nacional  -  (crédito: J.Borges)
J. Borges — poesia e arte Curadoria: Romildo Gastão. Visitação até 6 de junho, no Salão Negro do Congresso Nacional - (crédito: J.Borges)

J. Borges sempre quis ver a própria obra ganhar o gosto do povo. Gostava da ideia de fazer xilogravuras populares e gostava mais ainda do fato de que, a preços extremamente íveis, as obras  circulavam o Brasil inteiro com bastante facilidade. Quando o amigo Romildo Gastão argumentava que, mesmo a preços baixos — durante muito tempo era possível comprar um J. Borges por menos de R$ 100 —, quem ostentava a obra do mestre de Bezerros (Ceará) era a classe média alta estudada, J. Borges não dava muita bola. 

O artista morreu em julho de 2024, aos 88 anos, e, pouco tempo depois, ficou quase impossível comprar uma xilo assinada por ele. "Sumiram do mercado", conta Gastão. "Acho que houve um ataque especulativo e colecionadores e galeristas compraram tudo que tinha no mercado. E hoje não está fácil encontrar uma xilo dele. As pessoas compraram e estão esperando para ver como se comporta a obra dele no mercado." Por isso, ele colocou tanto carinho e esmero na organização de J. Borges — poesia e arte, em cartaz no Salão Negro do Congresso Nacional até 6 de junho.  

Romildo Gastão conseguiu reunir 50 xilogravuras coloridas e em preto e branco, 65 cordéis uma coleção de matrizes que contam a trajetória de J.Borges, um dos nomes mais produtivos e importantes da produção e ilustração de cordel do Brasil. "É a primeira exposição depois da morte dele e está sendo feita aqui", repara o curador. O artista chegou a participar da organização da mostra, gravou vídeos nos quais fala sobre a relação com Brasília e sobre o próprio processo de criação e planejava estar presente na abertura.  "Transformamos a exposição em um recorte da obra dele", conta Gastão.

Dividida em três núcleos, a mostra explora os diversos universos pelos quais J.Borges transitava para criar as cenas das xilos e as histórias dos cordeis. Em Religiosidade, o destaque é para os santos do imaginário popular nordestino. Sertão convida o público a explorar as particularidades de uma geografia muito própria. É, segundo o curador, a faceta mais comercial de J. Borges, aquela mais difundida e mais vendida Brasil afora. "Não pode falar de J.Borges e ignorar essa parte comercial, isso estava na natureza dele. Lula levou para o papa a xilo da Sagrada Família. Ele ou a chamar a obra de Xilo do Papa", conta o curador, que conseguiu um exemplar do trabalho para a exposição. Um terceiro núcleo, Povo nordestino, se debruça sobre os costumes e tradições da região.

  • J. Borges — poesia e arte
    J. Borges — poesia e arte J.Borges
  • J. Borges — poesia e arte Curadoria: Romildo Gastão. Visitação até 6 de junho, no Salão Negro do Congresso Nacional
    J. Borges — poesia e arte Curadoria: Romildo Gastão. Visitação até 6 de junho, no Salão Negro do Congresso Nacional J.Borges
  • J. Borges — poesia e arte Curadoria: Romildo Gastão. Visitação até 6 de junho, no Salão Negro do Congresso Nacional
    J. Borges — poesia e arte Curadoria: Romildo Gastão. Visitação até 6 de junho, no Salão Negro do Congresso Nacional J.Borges
  • J. Borges — poesia e arte Curadoria: Romildo Gastão. Visitação até 6 de junho, no Salão Negro do Congresso Nacional
    J. Borges — poesia e arte Curadoria: Romildo Gastão. Visitação até 6 de junho, no Salão Negro do Congresso Nacional J.Borges
  • J. Borges â?? poesia e arte Curadoria: Romildo Gastão. Visitação até 6 de junho, no Salão Negro do Congresso Nacional
    J. Borges â?? poesia e arte Curadoria: Romildo Gastão. Visitação até 6 de junho, no Salão Negro do Congresso Nacional J.Borges
  • J. Borges — poesia e arte Curadoria: Romildo Gastão. Visitação até 6 de junho, no Salão Negro do Congresso Nacional
    J. Borges — poesia e arte Curadoria: Romildo Gastão. Visitação até 6 de junho, no Salão Negro do Congresso Nacional J.Borges
  • J. Borges — poesia e arte Curadoria: Romildo Gastão. Visitação até 6 de junho, no Salão Negro do Congresso Nacional
    J. Borges — poesia e arte Curadoria: Romildo Gastão. Visitação até 6 de junho, no Salão Negro do Congresso Nacional J.Borges
  • J. Borges â?? poesia e arte Curadoria: Romildo Gastão. Visitação até 6 de junho, no Salão Negro do Congresso Nacional
    J. Borges â?? poesia e arte Curadoria: Romildo Gastão. Visitação até 6 de junho, no Salão Negro do Congresso Nacional J.Borges
  • J. Borges — poesia e arte Curadoria: Romildo Gastão. Visitação até 6 de junho, no Salão Negro do Congresso Nacional
    J. Borges — poesia e arte Curadoria: Romildo Gastão. Visitação até 6 de junho, no Salão Negro do Congresso Nacional J.Borges
  • J. Borges — poesia e arte Curadoria: Romildo Gastão. Visitação até 6 de junho, no Salão Negro do Congresso Nacional
    J. Borges — poesia e arte Curadoria: Romildo Gastão. Visitação até 6 de junho, no Salão Negro do Congresso Nacional J.Borges
  • J. Borges — poesia e arte Curadoria: Romildo Gastão. Visitação até 6 de junho, no Salão Negro do Congresso Nacional
    J. Borges — poesia e arte Curadoria: Romildo Gastão. Visitação até 6 de junho, no Salão Negro do Congresso Nacional J.Borges
  • J. Borges — poesia e arte Curadoria: Romildo Gastão. Visitação até 6 de junho, no Salão Negro do Congresso Nacional
    J. Borges — poesia e arte Curadoria: Romildo Gastão. Visitação até 6 de junho, no Salão Negro do Congresso Nacional J.Borges

Além das obras assinadas pelo próprio artista, a exposição também reúne publicações de autoria de pesquisadores de arte popular, como Sílvia Coimbra, Clodo Ferreira e Jeová Franklin. Uma linha do tempo com os fatos mais importantes da vida do artista também faz parte da mostra, que tem  ainda um espaço especialmente pensado pela curadoria para fotografias do público tendo como fundo figuras e cenas típicas da produção de J. Borges. A intenção do curador é que as pessoas se fotografem e postem nas redes sociais para incentivar o público a visitar a exposição. Um catálogo bilíngue com textos do curador e do artista Bené Fonteles também integra a exposição. "Ele tinha uma visão diferente, queria que o trabalho dele rodasse o mundo, circulasse, e isso fez ele estar em todo lugar. Ele não tinha essa fome por dinheiro, mas tinha essa pegada comercial. E ele nunca saiu de Bezerros..Borges tinha esse amor pela terra dele que também era fonte do processo criativo dele", lembra Gastão. Ele conta ainda que, durante décadas, todos os sábados, J.Borges recebia ônibus de crianças de instituições públicas que visitavam o ateliê para conhecer o artista. "Ele fazia tudo isso com muita humildade, paciência e perseverança E nunca se deixou contaminar, embriagar pelo sucesso", garante o curador. 

A exposição no Congresso Nacional é a primeira de uma série que Gastão planeja para este ano. Uma individual está programada para o Museu e Arte de Brasília (MAB) para a segunda quinzena de julho, com projeto expográfico e conceito próprios e um número maior de obras. Será a primeira vez que o cordelista vai ter o trabalho exposto em um equipamento museológico tradicional. Além disso, haverá mais duas exposições na Caixa Cultural, programadas para o próximo ano. 


J. Borges — poesia e arte

Curadoria: Romildo Gastão. Visitação até 6 de junho, no Salão Negro do Congresso Nacional

 


postado em 22/04/2025 06:01
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