
Ponto de encontro e descobertas para os estudantes, professores e artistas de Brasília, a mostra Cometa Cenas é mais do que um projeto de extensão do curso de artes cênicas da Universidade de Brasília (UnB), é um espaço consolidado de intercâmbio cultural aberto para quem quer explorar tudo que a cidade tem a oferecer em termos de produção cultural, teatro e vivências artísticas. Em 2025, a mostra semestral chega à sua 77ª edição e acontecerá entre os dias 16 e 24 de julho.
O projeto é coordenado por alunos de diferentes regiões istrativas do DF, o que gera possibilidades e visões múltiplas de Brasília na exploração das inúmeras linguagens artísticas. Todos os semestres, é escolhido um recorte temático ou uma pessoa para homenagear. Geralmente, são pessoas e temas relacionados à efervescência cultural de Brasília.
Em uma das edições do ano ado, o tema foi Mulheres da cena candanga, um salve às que vieram, estão e virão. "Celebramos as mulheres da cidade que estão envolvidas com as artes cênicas de modo geral. Atrizes, dramaturgas, diretoras, jornalistas, costureiras, camareiras, maquiadoras, figurinistas, entre outras", conta a coordenadora docente do Cometa Cenas, professora Kenia Dias.
Todos os aspectos que impactam na vida em Brasília refletem diretamente na exploração das temáticas do Cometa Cenas. A 75ª edição, realizada em 2024, precisou ser interrompida por conta das queimadas que assolaram Brasília e interferiram na qualidade do ar. Para alertar sobre a crise climática, na edição seguinte, o grupo escolheu o tema Ideias para cultivar o amanhã.
"A relação do Cometa Cenas com Brasília é direta. Entramos no calendário da cidade. Recebemos trabalhos de vários grupos do DF, não somente da UnB. Abrimos para coletivos e artistas que, muitas vezes, começaram aqui, montaram os próprios grupos e estão fazendo arte em Brasília", destaca a professora Kenia Dias. "O Cometa Cenas é um celeiro de formação de artistas. É uma experiência agregadora, forte e encorajadora", completa.
Espetáculos teatrais, aulas abertas, seminários, performances, exibição de filmes, entre outros produtos apresentados se transformam em um universo de possibilidades de conexões e aprendizado entre artistas, pesquisadores, estudantes e amantes das artes cênicas em todas as suas formas.
"É um evento da UnB, mas ele se expande para outros espaços de Brasília. É um espaço de compartilhamento de pesquisas, cenas, debates e reflexões. Isso é de muita valia para o processo artístico e pedagógico do artista e do público", explica Kenia.
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Vivências artísticas
Moradora de Ceilândia, Luana Parreiras, 20 anos, faz parte da coordenação técnica do Cometa Cenas e celebra a mostra por ser uma oportunidade de se conectar com todas as possibilidades artísticas dentro do fazer teatral. "Estou no quinto semestre e, desde o primeiro, me encontrei na iluminação. Hoje, trabalho na equipe de iluminação do grupo de comédia G7, um grande nome do teatro em Brasília", compartilha. "A mostra me ajuda a me conectar também com outros grupos e multiplicar as possibilidades de exercer essa função de que tanto gosto, que também é uma linguagem artística", acrescenta.
Larissa Fernandes, 20, é da equipe de produção da mostra e enxerga a oportunidade como um caminho para se aperfeiçoar na produção teatral, um ofício que faz parte de várias atividades artísticas e de economia criativa, mercado que vem crescendo em Brasília. "Me encontrei aqui, é uma área que quero seguir dentro das artes cênicas", comenta a moradora de Brazlândia.
"Trabalhar com artes cênicas não é só estar no palco, então, o Cometa Cenas, assim como outras disciplinas do curso, ajuda a desenvolver outras áreas de atuação que não seja só a performance no palco. Entender produção cultural é fundamental para quem quer ser artista hoje. A mostra é um laboratório vivo do ofício teatral", completa a professora Kenia Dias.
Outra aluna que faz parte da produção do Cometa Cenas e enaltece a importância da mostra para o seu aprendizado é Yasmin de Cássia, 19 anos, moradora do Gama. "Receber o público e lidar com todas as situações decorrentes da logística de uma mostra deste tamanho é um desafio engrandecedor. Mas a bagagem de aprendizado que levamos é imensa", destaca.
Coordenador de comunicação da mostra, Mateus Cyerre, 20, ressalta a relevância do Cometa Cenas para o nerworking entre os artistas e estudantes que fazem arte em Brasília. "Antes de entrar na equipe, não tinha uma visão tão clara de como funciona o trabalho do artista cênico. Aqui, temos a chance de construir pontes com os mais diversos artistas e grupos e entender melhor como a nossa carreira vai crescer a partir disso", disse.
Legado
Agente multicultural e mestre em artes cênicas pela UnB, Ava Scherdien fez sua dissertação de mestrado com base na mostra Cometa Cenas. "É o evento mais antigo da UnB, é o evento mais antigo de teatro da cidade, ele é mais antigo do que o coral da UnB, que é um patrimônio", comenta. "Nós queremos que o Cometa também vire patrimônio e estamos lutando para isso", afirma. "A grande maioria das pessoas que tem uma carreira e um currículo artístico em Brasília hoje já aram pelo Cometa Cenas. A mostra abraçou também muitos jovens que estavam fora da universidade", completa.
Agraciada com o Prêmio Jorge Laffond de Arte e cultura LGBTQIA na categoria Produção Cultural pelo Distrito Drag (2025), Ava atribui parte do sucesso ao início de sua carreira, no Cometa Cenas. "Foi a mostra que me fez ter prazer em fazer produção cultural em Brasília e que fez muita gente criar paixão pela iluminação, atuação, figurino, etc", salienta.
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