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Conheça Eliot Tosta, ator paulista que trabalha entre o Brasil e a Espanha

O artista de 36 anos e 16 de carreira tem feito muitos trabalhos lá e cá desde 2019, como as séries "Santo", da Netflix, gravada em Madri e estrelada por Bruno Gagliasso, e "Arcanjo renegado", do Globoplay, filmada no Brasil. Em todas ela fala espanhol

Eliot Tosta, ator -  (crédito: Carmen Campos/Divulgação)
Eliot Tosta, ator - (crédito: Carmen Campos/Divulgação)

Quem está com tudo do outro lado do Atlântico é Eliot Tosta, ator brasileiro que mora em Madri. O artista de 36 anos e 16 de carreira tem feito muitos trabalhos lá e cá desde 2019, como as séries Santo, da Netflix, estrelada por Bruno Gagliasso, filmada na Espanha, e Los años nuevos, lançada em 2024 no Festival de Veneza.

Por aqui, Eliot filmou vários projetos nos últimos meses, como os longas Por um fio, sobre Drauzio Varela, e Asa Branca, além das novas temporadas de Arcanjo renegado, do Globoplay, e de Impuros, na Disney, nas quais fala em espanhol em cena. O trabalho de Eliot também pode ser visto na websérie Célia & César, da qual fez o roteiro, a direção e a produção. O projeto, aliás, está disponível no @celiaycesar e recebeu três indicações para o Rio Web Festival 2024.

Eliot Tosta, ator
Eliot Tosta, ator (foto: Carmen Campos/Divulgação)

ENTREVISTA | Eliot Tosta

Você já trabalhava como ator no Brasil quando se mudou para a Espanha em 2019. Por que fez essa mudança e como foi começar a trabalhar como artista por lá? 
Desde 2009, grande parte da minha carreira foi construída no teatro. Em 2019, estava em cartaz com a peça Depois daquela viagem, para um público jovem, de temas extremamente importantes, mas o governo da época não parecia interessado em incentivar a arte. Vi as oportunidades de trabalho desaparecerem para todos. Eis que decido ar um tempo fora do país. Primeiro, fui estudar inglês no Canadá. Como tenho cidadania europeia, poderia trabalhar por lá e, então, fui para a Espanha. Assim que cheguei, assinei com uma agência para fazer publicidade, mas ainda não tinha um espanhol fluente e isso parecia dificultar trabalhar com arte. Assim, comecei a estudar espanhol e a trabalhar como garçom. A ideia era ficar três meses, mas veio a pandemia e fui obrigado a ficar em casa como todos. Aí criei projetos on-line, atuando em espanhol, para poder aplicar para o mercado local. Idealizei com parceiros o #InstaTeatro, Mi Tío Paula, que foi uma temporada de lives no Instagram e que depois levamos aos palcos de um festival de teatro em Madri. Com a vacinação, as coisas começando a voltar ao normal — e um espanhol melhor — recebi uma consulta para a série Elite, da Netflix, da qual era muito fã. Logo depois, veio a oportunidade pra fazer Santo, dirigida por Vicente Amorim, e em cena com os queridos Bruno Gagliasso e Victoria Guerra.
Tem alguma curiosidade para contar sobre viver de arte na Espanha? 
Ah, e na minha primeira semana em Madri fui pessoalmente na El Deso, produtora do Pedro Almodóvar, na desculpa de levar um currículo, mas o que eu queria mesmo era conhecer aquele ambiente de onde saíram filmes que me inspiram tanto. 
Como é atuar em outro idioma? Em que momento se sentiu seguro para tal? E o que aprendeu de diferente trabalhando fora do Brasil?
Memorizar o texto é apenas o primeiro degrau de muitos outros para chegar a uma entrega justa. Pois atuar em outro idioma não é só isso... é também internalizar o contexto do seu personagem e obra num todo, o soar e as vibrações das palavras que são diferentes, como elas saem da sua boca, o vocabulário, a segurança na escuta daqueles que estão trocando contigo. É um desafio e tanto, principalmente se é permitido improviso. Acredito que minha segurança se fez primeiro nas inúmeras aulas de espanhol, exercícios de leitura, escuta, criar raciocínios defendendo temas, muitas tarefas de casa. E trabalhar fora do Brasil me fez enxergar o processo criativo de outra forma. Cada país tem sua própria dinâmica de set, seu ritmo de produção e sua abordagem artística. Aprendi a me adaptar a novas formas de direção, a diferentes estilos de atuação e, principalmente, a trabalhar com equipes multiculturais e percebi como a diversidade de experiências enriquece um personagem e como o olhar estrangeiro sobre a minha arte pode ser surpreendente. E também ei a ter uma consciência maior sobre o meu próprio valor profissional.
Estamos vendo, infelizmente, muitas pessoas sofrendo com xenofobia pelo mundo. Você já ou por algum problema desse tipo por viver de arte na Espanha?
Felizmente, na Espanha, não ei por nenhum constrangimento xenofóbico que me afetou diretamente. Não sou julgado pelo meu physique du rôle. Diferentemente de outros companheiros que possuem os traços mais marcados de outros países latino-americanos, que recebem, sim, esse olhar preconceituoso. 
Em recente agem pelo Brasil, você rodou participação falando em espanhol nas próximas temporadas de Impuros e Arcanjo renegado. Como é para um artista brasileiro ser escalado pra trabalhar em seu país em outro idioma?  
Foi maravilhoso! Vi como uma oportunidade de mostrar o meu trabalho no Brasil e me conectar com pessoas. Até brinquei com a minha irmã que “meu melhor investimento como ator foi aprender um idioma!”. (risos) Não que isso seja decisivo na escalação de um personagem e que agora no Brasil só vá fazer personagens falando espanhol — assim espero — mas vejo mais como uma qualidade que disponho ao meu favor na hora de atuar. Eu quis muito fazer estes dois trabalhos. Acredito que com essa globalização das plataformas os personagens vão poder transitar ainda mais. Isso é mais trabalho e oportunidades para atores de fora adentrar ao nosso mercado quanto para nós brasileiros ganharmos espaço fora. Se o Ainda estou aqui e a Fernanda Torres forem premiados no Oscar, então, teremos mais visibilidade sobre os nossos produtos, que, modéstia à parte, são bem bons.
Atualmente, você está aguardando também a estreia dos filmes Por um fio e Asa Branca, que fez no Brasil. Quais seus sonhos profissionais?  O que ainda não realizou nem aqui nem na Espanha?
Sim, aguardo a estreia destes dois filmes com bastante entusiasmo. Em Por um fio por voltar a trabalhar com o David Schurmann, que é um amigo de longa data e um diretor supersensível. E Asa Branca, por se tratar de um universo no qual vivi e porque conheci o personagem protagonista na infância. Agora, o que quero realizar, além de atuar, e muito, no Brasil ou na Espanha, é colocar em marcha, fazer acontecer, os projetos pessoais que tenho, e outros com amigos, como o projeto de um faroeste brasileiro. Além de atuar, quero também estar na produção e parte criativa para acompanhar todo o desenvolvimento. 

Patrick Selvatti
postado em 19/02/2025 17:58
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