
Na última semana, nos dias, 13, 14 e 15 de outubro a capital federal recebeu a primeira edição do K-Festival, que celebra a cultura sul-coreana. Em três dias de festival, o evento serviu para fortalecer os laços entre a Coreia do Sul e o Brasil, onde os participantes puderam curtir essa imersão entre as culturas.
Os brasilienses assim como o mundo se depararam com um fenômeno cultural chamado de Hallyu. O aumento no consumo de produções leste asiáticas e em principal as sul coreana tem crescido cada vez mais no mercado. E com isso cresceu o interesse dos streamings nessas produções. Mas o que vem a ser essa Hallyu em si e o que explica essa febre mundial pelas produções sul-coreanas?
O fenômeno da Onda Coreana
A Hallyu, também conhecida como Onda Coreana, refere-se ao aumento global da popularidade da cultura sul-coreana nas últimas décadas. Inicialmente, o termo foi usado para descrever o crescimento do interesse em músicas pop sul-coreanas (K-pop) em todo o mundo. No entanto, desde então, a Hallyu expandiu-se para incluir não apenas a música, mas também dramas televisivos (K-dramas), filmes, moda, comida e jogos, entre outros aspectos da cultura sul-coreana.
A pesquisadora da Hallyu, Gabi Guimel conta que, após períodos de tormento, a Hallyu veio como uma válvula de escape. “A Hallyu surgiu então como uma forma de e para um país que havia ado por um regime militar intenso, foi uma economia criativa criada para exportar em massa todos os seus produtos culturais,onde entra os filmes, doramas e a indústria musical K-pop.”, explica a especialista.
A popularidade da Hallyu começou a se expandir na Ásia no final dos anos 1980 e no início dos anos 2000, e posteriormente se espalhou para outras partes do mundo, como América do Norte, América do Sul, Europa e Oriente Médio. Os grupos de K-pop, como BTS, BlackPink, EXO,TXT, Stray Kids e muitos outros, tiveram um papel significativo na popularização da Hallyu globalmente.
Não só com a música, mas os dramas televisivos sul-coreanos também desempenharam um papel importante na disseminação da Hallyu. K-dramas (doramas) bem-sucedidos, como Meninos antes de Flores, Descendentes do Sol, Pousando no amor e Goblin, ganharam uma boa base de fãs pelo mundo, contribuindo para a disseminação da cultura e da língua coreana em diferentes partes do mundo.
Gabi Guimel ainda diz que os fãs são os principais difusores e impulsionadores da Hallyu pelo mundo. “É importante valorizar a figura dos fãs quando se fala na difusão da onda coreana, por que são eles que vão sempre atrás demais e também compartilham com suas redes de amigos.Eles são a maior voz ativa que a gente tem em relação a propagação da cultura coreana".
A pesquisadora ainda compartilha que acredita que a cultura sul coreana tem fortes chances de se fortalecer cada vez mais no Brasil e ainda falou como acha incrível a imersão entre e a união entre as culturas brasileira e coreana.
MustB foi a maior atração do K-Festival
Na 1ª edição do K-Festival, os fãs e apreciadores da cultura coreana tiveram a honra de curtir um show gratuito com o grupo de K-pop sul coreano MustB. O quinteto que conta com Taegeon, Wooyeon, Doha, Soohyun e Sihoo, pertence à empresa MustM e debutou em 2018, mas só em 2019 lançou o primeiro single: I want U. MustB que significa "We Must believe in you" se apresentou no último sábado, 14 de outubro.
Na sexta-feira, 13 de outubro, os membros do grupo de k-pop, MustB, deram entrevista à imprensa na Churrascaria Nativas. O ambiente estava cheio de expectativa, tanto dos artistas quanto dos jornalistas presentes. O encontro com os jornalistas brasileiros não só antecipou o que estava por vir, mas também proporcionou um vislumbre das personalidades e percepções dos membros sobre o Brasil.
Durante a coletiva, os membros partilharam um pouco de conhecimento prévio que tiveram com o Brasil. O integrante Sihoo falou sobre o futebol brasileiro que era o principal que ele conhecia. Wooyeon, falou da beleza dos brasileiros e como o deixou encantado. Taegeon falou da culinária brasileira, e citou o churrasco e o cuscuz como um dos seus favoritos. SooHyun, disse saber que a língua portuguesa é nosso idioma nativo, enquanto Doha comentou que já tinha ouvido sobre a Amazônia.
O integrante Doha revelou conhecer um pouco do cantor brasileiro Jão, quando foi questionado ao grupo se eles tinham tido contato com música nacional, e mencionou ainda que seria incrível colaborar com ele em algum momento. O clima alegre continuou com uma pergunta sobre a emoção dos membros ao estar no Brasil pela primeira vez, onde Doha compartilhou que achou as pessoas muito amorosas e expressou sua apreciação pelo churrasco que teve a oportunidade de provar um pouco mais cedo naquele mesmo dia.
Taegeon, ao ser questionado sobre o sucesso do grupo além da Coreia, falou do sentimento de gratidão do grupo, “Estamos muito agradecidos porque treinamos muito para sermos um grupo de K-pop. Nós não sabíamos que teríamos essa dimensão, e estamos felizes de termos alcançado isso e de termos vindo para o Brasil. Era um sonho nosso estar aqui!”, comentou ele em agradecimento ao carinho dos fãs brasileiros.
Unindo culturas através da música
O segundo dia de evento no sábado, 14 de outubro, foi marcado pela apresentação aguardada do MustB no K-Festival em Brasília. A partir do momento que os membros subiram no palco, o ambiente se encheu de euforia e expectativa. A abertura com a música Realize estabeleceu a expectativa de que seria uma apresentação repleta de músicas diversificadas.
Além das músicas autorais, o grupo surpreendeu com a apresentação do cover de Permission to Dance do grupo BTS, uma escolha que agradou bastante o público, evidenciada pelos aplausos e cantoria em uníssono. O setlist continuou a explorar diferentes emoções com “Diamond”, uma faixa que mostrou a coesão vocal do grupo e a coreografia sincronizada.
Rush, o mais recente single da banda, veio a seguir, uma música intensa e animada,com uma coreografia mais desafiadora com movimentos mais precisos e acelerados. A performance energética foi complementada pelo visual e energia dos membros.
A setlist escolhida representou toda a energia musical do MustB, e as interações com o público reforçou a conexão entre os artistas e os Muffin’s (fã clube do MustB). Os membros aproveitaram a oportunidade para comunicar-se com os fãs, com tentativas de diálogo em português, com algumas palavras aprendidas por eles, que foram recebidas com euforia pelo público presente no festival.
A fã Alice Rodrigues veio de Minas Gerais somente para ver o MustB, ela conta que fez de tudo para vir para o show e que curtiu o festival ao máximo. “Eu amei o evento, achei que além de ser ível (por ter sido entrada franca) foi uma experiência incrível ter o a cultura coreana a culinária e é claro ter conhecido os meninos do MustB ao vivo que além de talentosos são muito fofos e simpáticos e incríveis”, contou Alice animada.
K-Festival traz um pouco da Coreia para Brasília
O K-Festival não só trouxe uma banda de K-pop internacional, com também contou com atividades e outras atrações que permitiu com que os participantes pudessem conhecer mais a fundo a cultura sul coreana. Foram atividades, bate-papos com convidados e influencers e também uma decoração digna da cultura coreana. E o melhor é que tudo gratuito.
Um ponto forte do festival sem dúvidas era a gastronomia típica da Coreia presente ali. Entre os estabelecimentos estava o restaurante Soban, conhecido por ser referência na culinária coreana na capital. No cardápio os famosos, kimchi, bulgogi e bibimbap era, algumas das opções. Além do Soban, outras barracas também serviam comidas tradicionais do país leste asiático.
Além do show de um grupo de K-pop, os covers também marcaram presença no evento. Amanda Franco, Isadora Lelis, Luma Romeiro e Jhordana Gomes, integrantes do grupo cover Aurora, contam da experiência de participar do festival: “Gostamos de K-pop a muito tempo já, e quando vimos que ia ter um festival grande em Brasília resolvemos que queríamos participar. Ensaiamos desde julho, para poder participar e estamos nos divertindo muito, comentou Luma.
O grupo cover Aurora, existe desde 2017 e as meninas apresentaram a performance da música Bang do grupo de k-pop After School.
Ainda nas atrações musicais, além do K-pop, artistas de canto lírico participaram de competições no festival. Angélica Lhyra, cantora popular, foi a vencedora da competição de canto no festival e conta que isso foi impulso para ela acreditar sempre nos sonhos. “Vencer a competição provou para mim que tudo é possível para aqueles que acreditam e se capacitam para seus sonhos! E eu espero que a minha vitória também transmita essa fé e força às pessoas para que sigam seus sonhos”, comentou emocionada.
O Instituto Rei Sejong, de língua coreana da Universidade de Brasília(UnB) também marcou presença no evento. Fundado em 2018, a instituição tem a missão de divulgar a língua e a cultura sul coreana no Distrito Federal. “Nós ficamos felizes de ver essa receptividade positiva da cultura coreana aqui no Brasil .Tem muitas coisas que pode-se aprender com a cultura coreana que cada dia está sendo mais reconhecida pelo mundo”, comenta Marcus Tanaka diretor do Instituto.
A moda coreana também marcou presença no festival. A influencer Keli, de consultoria de imagem, estilo e moda dos doramas conta que é o primeiro festival de cultura coreana que participa e que quer participar de outros festivais nos próximos anos para levar mais da moda dos doramas para os brasileiros.
“Eu sou apaixonada por moda, então juntei minhas duas paixões, moda e cultura coreana e resolvi dar dicas de modas dos doramas, o que tem sido bem recebido pelos meus seguidores. Finalmente um Festival dessa grandeza veio até Brasília e eu espero que venham ainda mais, para que eu divulgue ainda mais meu trabalho”. Contou eufórica Keli em entrevista ao Correio.
Lojinhas com lembrancinhas, artes e artesanatos estavam em peso no evento. Formada em Artes Visuais pela Universidade de Brasília (UnB), Mathê Avellar vende chaveiros, broches, cadernos e adesivos que ela mesma desenhou. A maioria dos produtos eram de dramas (séries de TV asiáticas) e ela explica que começou a vender para atingir um público que não tem o a isso.
“Eu sempre gostei de dramas, e aí ano ado eu resolvi que eu ia fazer fanart de dorama e eu percebi que esse não era um meio explorado no mundo dos artistas nem nas lojinhas”. Mathê ainda falou sobre como acredita e espera que aconteçam cada vez mais festivais da cultura coreana.
“Eu acredito que seja o início de algo muito maior. Aqui em Brasília tem muitos festivais relacionados à cultura japonesa, e então estava esperando um que fosse total de cultura coreana.Qualquer evento de anime que eu vou sempre eu sou a única barraca de cultura coreana, eu sou a única barraca que fala de dorama e o k-pop no geral e ter um evento só para isso é muito bacana, espero que cresça ainda mais e que Brasília abra cada vez mais espaço para a cultura coreana nos eventos”, finaliza.
Estagiária sob a supervisão de Nahima Maciel*