AGENTES INFECCIOSOS

Estudo descobre 230 vírus marinhos gigantes que podem manipular hospedeiros

Agentes infecciosos controlam a forma com que hospedeiros, geralmente protistas unicelulares, se movem no oceano, usam a própria energia e adquirem comida, por meio da fotossíntese

Uma infecção viral gigante na alga unicelular 'Florenciella' -  (crédito: Grieg Steward/Universidade do Havaí em Manoa)
Uma infecção viral gigante na alga unicelular 'Florenciella' - (crédito: Grieg Steward/Universidade do Havaí em Manoa)

A descoberta de vírus gigantes que têm papel importante na sobrevivência de organismos marinhos como algas e amebas foi registrada em artigo publicado, no último 21 de abril, em periódico associado à Nature. De acordo com a pesquisa, esses agentes infecciosos, ao chegarem ao ser humano por meio da cadeia alimentar, podem ser responsáveis por riscos à saúde pública.

A partir de métodos de computação de alto desempenho, foram identificados, no estudo, 230 desses novos seresmuitos dos quais os genomas eram até então desconhecidos pela literatura científica. Dentro deles, foram caracterizadas 530 novas proteínas funcionais, das quais nove estão envolvidas em processos como fotossíntese e metabolismo de carbono.

De acordo com a pesquisa, essas funções — tradicionalmente encontradas apenas em organismos celulares, não em acelulares — fazem com que os vírus gigantes sejam capazes de manipular o hospedeiro, geralmente protistas unicelulares, bem como os processos dele, durante a infecção. Assim, até mesmo a forma como os hospedeiros, que são a base de cadeias alimentares em oceanos, se movem no ambiente, usam a própria energia e adquirem comida é modificada pelo invasor.

Embora isso pareça algo essencialmente ruim, é importante também o papel deles, portanto, na “balança” de comida nos oceanos e na forma como nutrientes são reciclados.

No que diz respeito ao ser humano, esses vírus podem ser responsáveis por proliferação de algas nocivas e outros riscos àqueles que vivem próximos a litorais, baías, rios ou lagos, uma vez que podem ser encontrados em diversos cursos d’água por se adaptarem facilmente a diferentes condições.

“Ao compreender melhor a diversidade e o papel dos vírus gigantes no oceano e como eles interagem com algas e outros micróbios oceânicos, podemos prever e possivelmente controlar a proliferação de algas nocivas, que representam riscos à saúde humana na Flórida, bem como em todo o mundo”, disse ao portal de divulgação científica EurekAlert! um dos responsáveis pelo estudo, o professor Mohammad Moniruzzaman.

De acordo com ele, os agentes infecciosos “são frequentemente a principal causa de morte de muitos fitoplânctons, que servem como base da teia alimentar que sustenta os ecossistemas oceânicos e as fontes de alimento”.

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A identificação dos vírus foi possível a partir de novas ferramentas tecnológicas disponíveis no âmbito da bioinformática — projetadas justamente para reconhecer genomas desses seres gigantes em meio a conjuntos de dados públicos de sequenciamento de DNA de amostragem oceânica. Os genomas foram comparados com os de outros vírus gigantes que já eram conhecidos, com o objetivo de encontrar novas funções.

Com a identificação e recriação de “bibliotecas de comunidades microbianas”, portanto, os pesquisadores conseguiram criar estruturas para melhorar ferramentas existentes para detectar novos vírus. Assim, será possível ajudar a monitorar a presença desses seres em cursos d’água utilizados por humanos, a fim de evitar poluição e doenças.

postado em 06/06/2025 22:01 / atualizado em 06/06/2025 22:51
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