Câncer

Estudo com participação de brasileiros aumenta sobrevida de pacientes com câncer gástrico avançado

Apresentado no encontro anual da Sociedade Norte-Americana de Oncologia Clínica (Asco), estudo de fase 3 de um anticorpo conjugado mostrou redução do risco de mortalidade e aumento da sobrevida livre de progressão da doença

 Oncologista Fábio Franke, líder nacional de pesquisa clínica da Oncoclínicas -  (crédito: Oncoclínicas/Divulgação )
Oncologista Fábio Franke, líder nacional de pesquisa clínica da Oncoclínicas - (crédito: Oncoclínicas/Divulgação )

Os resultados de um estudo internacional de fase três apresentado neste sábado, 31 de maio, no encontro anual da Sociedade Norte-Americana de Oncologia Clínica (Asco), em Chicago, nos Estados Unidos, oferece esperança a pacientes com câncer gástrico avançado, do tipo HER2-positivo. Pessoas com esse tipo de tumor, que voltou a crescer após a primeira opção de tratamento, tiveram um aumento de 3,3 meses de sobrevida com o medicamento trastuzumabe deruxtecano, comparado à quimioterapia padrão. 

 

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O estudo DESTINY-Gastric04 de fase 3 teve participação de 494 pacientes de câncer gástrico metastático ou irressecável, que já haviam sido tratados com o medicamento de primeira linha, o trastuzumabe. Os participantes, incluindo do Brasil, foram distribuídos aleatoriamente entre dois grupos: um recebeu o novo medicamento, e o outro, o tratamento padrão com paclitaxel e ramucirumabe.  Além da sobrevida maior, houve melhora em outros desfechos importantes, como controle da doença e resposta ao tratamento (leia mais abaixo).

Novo padrão 

“Esses resultados consolidam o trastuzumabe deruxtecana como o novo padrão ouro de tratamento em segunda linha para pacientes com câncer gástrico metastático HER2-positivo”, afirma o oncologista Fábio Franke, líder nacional de pesquisa clínica da Oncoclínicas. “É um avanço expressivo para uma doença que, infelizmente, ainda tem prognóstico bastante reservado em estágio avançado”.

Franke, que participou do comitê científico do estudo e é coautor da publicação, destaca a importância da presença brasileira em pesquisas que definem o futuro da oncologia no mundo. “Participar da condução e publicação desse estudo mostra a força da pesquisa clínica nacional e o impacto direto que isso pode ter na vida de pacientes aqui no Brasil”, acredita. 

Direcionamento

Em nota, o oncologista Kohei Shitara, do Centro Nacional do Japão e principal autor do estudo, explicou que, quando há progressão da doença após a primeira linha de tratamento, até hoje nenhum medicamento direcionado ao HER2 havia demonstrado benefício claro de sobrevida em estudos clínicos de fase 3. “Agora temos essa evidência com o trastuzumabe deruxtecano”, comemorou. 

O câncer gástrico metastático tem um dos piores prognósticos entre os tumores sólidos. A taxa de sobrevida em cinco anos varia de 5% a 10%. Entre 5% e 17% desses casos são HER2-positivos, ou seja, apresentam superexpressão da proteína HER2, que estimula o crescimento das células tumorais.

"Cavalo de Troia"

O trastuzumabe deruxtecana é um anticorpo conjugado: uma espécie de “cavalo de Troia” da medicina. Ele se liga à proteína HER2 na superfície das células tumorais e libera diretamente um quimioterápico potente no interior dessas células, aumentando a eficácia e reduzindo os danos aos tecidos saudáveis.

Com base no resultados apresentados no congresso da Asco, o uso de trastuzumabe deruxtecana deve ser incorporado em diretrizes internacionais como segunda linha preferencial para pacientes com câncer gástrico HER2-positivo metastático. Novos estudos estão em andamento para avaliar o medicamento como tratamento de primeira linha, o que pode trazer ainda mais esperança para esses pacientes. “A oncologia vem avançando de forma acelerada graças à pesquisa clínica. Esse estudo é mais uma prova de como a ciência pode mudar a vida dos pacientes”, conclui Fábio Franke, da Oncoclínicas. 

Principais resultados do estudo:

  • Sobrevida global: os pacientes tratados com trastuzumabe deruxtecano viveram em média 14,7 meses, contra 11,4 meses no grupo de tratamento padrão — uma diferença de 3,3 meses.

  • O novo tratamento reduziu o risco de morte em 30%.

  • A sobrevida livre de progressão (tempo até a doença voltar a crescer) foi de 6,7 meses no grupo do trastuzumabe deruxtecano, frente a 5,6 meses no grupo controle.

  • A taxa de resposta objetiva (percentual de tumores que encolheram) foi de 44,3%, contra 29,1% no grupo controle.

  • O controle da doença (tumor estável ou em regressão) foi alcançado por 91,9% dos pacientes tratados com trastuzumabe deruxtecano, frente a 75,9% dos que receberam o tratamento padrão.

 

 

postado em 31/05/2025 18:01
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