
O lançamento do livro Cerrado: Caixa-D'Água do Brasil, foi tema do Podcast do Correio de ontem. No bate papo, Atanagildo Brandolt, presidente do Instituto Latinoamerica e coordenador-geral do livro, e Wilson Vieira Junior, doutor em história que participou da obra, destacaram aos jornalistas Severino Francisco e Mila Ferreira a importância da educação na preservação do bioma que abriga as nascentes de bacias hidrográficas importantes do Brasil. O livro será lançado às 17h desta quarta-feira (12/3), em evento aberto ao público, na Biblioteca Nacional de Brasília.
Atanagildo Brandolt contou que o projeto nasceu quando ele descobriu, por acaso, entrevistando o professor Braulio Ferreira de Sousa, um dos especialista que participou do livro, que o Cerrado é a caixa d'água do Brasil.
Entre 2018 e 2019, os dois produziram uma série televisiva chamada Memória Viva: Eco História do Planalto Central, tratando apenas da história do bioma. "Durante a entrevista, ele disse: 'Aqui é a cumeeira, é a caixa d'água'. Aquilo ficou martelando na minha cabeça. Comecei a ler, estudar e conversar com algumas pessoas até concluir que, diante dos desastres ambientais recentes, seria importante levar esse conhecimento às futuras gerações", lembrou.
Brandolt salientou a importância de mostrar a riqueza do Cerrado. "O professor Adão Taís Salles Barbosa, que também participa do livro, explica que essa formação geológica começou há cerca de 60 milhões de anos. As fendas no subsolo, aliadas ao Cerrado stricto sensu — levou milhões de anos para se constituir o Cerrado original —, ajudam a captar a água da chuva e alimentar aquíferos que abastecem grandes bacias hidrográficas", explicou.
Ele destacou que do Cerrado nascem rios fundamentais para o equilíbrio do continente. "O São Bartolomeu, por exemplo, nasce nas Águas Emendadas e, junto com outros rios, integra a bacia do Paraná até desaguar no Rio da Prata, em Montevidéu e Buenos Aires. O outro extremo das Águas Emendadas dá origem ao rio Maranhão, que compõe a bacia do Araguaia-Tocantins. Além disso, o Cerrado também abriga as nascentes do rio São Francisco, que percorre o país até desaguar no Nordeste", ressaltou.
O presidente do Instituto Latinoamerica disse que a legislação de proteção ambiental existe, mas o grande desafio não é a regulamentação, e sim a conscientização da sociedade. "Nosso objetivo com esse livro é mostrar às pessoas que essa riqueza natural é finita e que estamos destruindo algo fundamental. O governo, sozinho, não conseguirá resolver esse problema, pois o poder econômico e político de quem explora o meio ambiente de forma irresponsável é enorme", alertou.
Na opinião de Brandolt, a sociedade precisa se envolver nessa luta, especialmente os jovens, que herdarão os problemas ambientais que estão sendo criados agora. "Eu tenho 70 anos, mas meus filhos e netos enfrentarão sérias dificuldades se nada for feito. O livro busca despertar essa consciência, alertando sobre os riscos e a urgência da preservação do Cerrado. A educação ambiental é o caminho, pois só se protege aquilo que se conhece. Por isso, é essencial que as novas gerações compreendam a importância desse bioma e os impactos de sua destruição."
O doutor em história afirmou que já foi feita uma audiência com a Secretaria de Educação do DF para a distribuição do livro nas escolas públicas da capital, "Queremos que esse conhecimento chegue ao maior número possível de estudantes, pois a esperança de um futuro sustentável está na educação das novas gerações", enfatizou.
Ocupação
Para Wilson Vieira Junior, o crescimento desordenado das cidades, especialmente no século 20, gerou grandes problemas estruturais. "Brasília, apesar de planejada, não se preparou para a rápida ocupação. Hoje, com muitos habitantes, a cidade consome água de uma estrutura que não foi atualizada para essa demanda. Além disso, a extração de água pelo agronegócio ocorre sem controle adequado, aumentando a pressão sobre os recursos hídricos", argumentou.
O doutor em história enfatizou que a expansão de novas regiões istrativas e construções voltadas para especulação imobiliária agravam a falta de infraestrutura. "Há alguns anos, Brasília enfrentou sua primeira restrição no consumo de água, pois os reservatórios de Santa Maria e do Descoberto não conseguiam mais abastecer a cidade. O Cerrado, que é essencial para a manutenção hídrica, sofre com os rios secos e a redução no volume de água", explicou.
De acordo com Vieira, a pesquisa exige continuidade e financiamento regular. "O bolsista depende dessa bolsa para trabalhar, e pesquisa não é um atempo. É um trabalho que exige planejamento, dedicação, compra de materiais e execução de projetos relevantes. Interromper esse financiamento compromete a qualidade da produção científica e desvaloriza o esforço dos pesquisadores", destacou.
Ele relatou que o livro aborda o processo de ocupação do Cerrado, desde os séculos 16 e 17, quando os bandeirantes chegaram à região. "O território brasileiro era visto como uma extensão da coroa portuguesa, e seu interesse inicial estava no aprisionamento de indígenas e, posteriormente, na mineração de ouro, especialmente no Centro-Oeste, em áreas como Goiás", ressaltou.
Vieira ressaltou que a água teve papel fundamental na ocupação do interior do Brasil, primeiro como elemento motivador para a exploração e, depois, como parte essencial da atividade mineradora. "Os rios, onde o ouro era facilmente encontrado, impulsionaram a criação de arraiais, que deram origem a cidades como Luziânia e Corumbá de Goiás", disse.
Confira o episódio completo do Podcast do Correio
*Estagiário sob a supervisão de Eduardo Pinho
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