
A onda de calor que tem elevado a temperatura nos termômetros em praticamente todo o Brasil chegou ao Distrito Federal e derrubou a umidade relativa do ar. Desde a última segunda-feira, a Secretaria de Segurança Pública do DF (SSP-DF) tem emitido alertas, orientando que se evitem atividades físicas entre 10h e 16h. Quem trabalha sob o Sol não consegue evitar a exposição e o problema se agrava para as pessoas em situação de rua, que não tem onde se abrigar.
Mesmo com 10 anos de experiência como motorista de ônibus, o calor acentuado dificulta as atividades de Antônio Vicente, de 60 anos. "Até trabalhar está difícil para a gente. Muita 'quentura'", revela. O morador de Samambaia conta que a lotação de ageiros dentro dos carros piora a sensação de sufoco que o clima quente traz. "Eu, graças a Deus, nunca ei mal, mas teve ageiro que já. A gente teve que chamar um socorro, o Samu (Serviço de Atendimento Médico de Urgência) e os bombeiros", relata Antônio.
João Paulo da Silva Barbosa, 32, lida com altas temperaturas em sua profissão, e explica que precisa de muita hidratação para realizar suas atividades de forma correta. "Está bem difícil trabalhar nesses dias, calor muito desgastante, e a tendência é piorar", conta. O técnico em telecomunicações sobe em poste para realizar manutenção necessária nos fios de conexão de internet. "É preciso tomar muita água, protetor praticamente a cada vinte minutos. Com a temperatura alta, nós ficamos até mais lentos na tomada de decisões", frisa.
Especialista em treino ao ar livre, Julio Cesar, 53, diz estar preocupado com a onda de calor que está chegando. "Alguns cuidados devem ser tomados antes mesmo da atividade física. A hidratação é o fator principal para uma boa performance neste momento", conta. O morador de Taguatinga disse que precisou mudar o horário dos treinos para períodos com temperatura mais amena. "A temperatura está muito alta, e umidade muito baixa e quem não se preparar, pode ter problemas", lembra. Lorena Prado, 27, é aluna de Júlio, e sempre teve um bom condicionamento físico. Ela começou há pouco tempo a realizar exercícios ao ar livre. "Faço uso de protetor solar, me hidrato bastante e faço dieta. Isso me ajuda a enfrentar meus treinos e esse tempo seco", pontua.
Atenção
Para o membro da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), Ricardo Luiz de Melo Martins, os cuidados necessários para evitar desidratação devem ser redobrados pelos brasilienses. A baixa umidade é responsável por reduzir as gotículas de água presentes no ar e o clima quente influencia a perda de líquido do corpo pelo suor. "Você perde líquido sem perceber", explica o professor de medicina da UnB.
A baixa quantidade de água é logo sinalizada pelo corpo. "A pessoa começa a ter alterações no organismo, como tontura, fraqueza, sonolência, letargia. Até o ponto de desmaio", detalha. De acordo com Ricardo, pais devem garantir a hidratação das crianças, que costumam gastar em brincadeiras e outras atividades. Essa atenção também deve ser reforçada com idosos, grupo que o profissional recebe com frequência nos consultórios durante o período de seca. "Os órgãos vitais estão menos rígidos e com mais propensão a desenvolverem problemas de saúde", justifica.
Dentre as medidas de cuidado, Martins indica o consumo de frutas, verduras e legumes, o uso de roupas leves, e manter os ambientes arejados. Também é importante evitar o consumo de bebidas alcoólicas, pois a propriedade diurética expele mais água para fora do corpo.
Saiba Mais
Invisibilizados
Pessoas em situação de rua são outro grupo frágil diante do clima extremo. Segundo o presidente do Instituto Barba na Rua, Rogério Barba, muitos desabrigados dependem da ajuda de comerciantes para ter o a água e mantimentos. "Tenho orientado outras instituições para que façam campanhas pedindo que as pessoas levem garrafa de água no seu carro. Assim, quando você parar no sinaleiro e ver alguém, entregar essas garrafas", ele comenta.
Rogério também cita que a preocupação com o calor sofrido por quem vive na rua não recebe tanta atenção quanto é observado em época de frio. "Em Brasília, não temos muitos banheiros públicos onde essa população poderia fazer um uso. Na Praça do Relógio (Taguatinga) o banheiro que tinha foi tirado, se ainda estivesse lá a pessoa poderia ir e tomar um banho", cita. "Se algum morador de rua precisar entrar no Hospital de Base para beber água, eles não permitem."
Hoje, um ônibus com chuveiro embutido a pelas cidades oferecendo o espaço do veículo para higienização, principalmente aos finais de semana. Por volta de 30 a 50 pessoas em situação de rua são beneficiadas, número que é maior quando a Instituição tem o a alguma torneira capaz de carregar de água os tambores dentro do carro.
*Estagiários sob supervisão de Suzano Almeida
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