Os tubarões-da-Groenlândia, conhecidos cientificamente como Somniosus microcephalus, são criaturas que despertam grande interesse devido à sua impressionante longevidade. Com uma expectativa de vida que pode ultraar os 400 anos, esses gigantes do Ártico e do Atlântico Norte intrigam cientistas e curiosos. Recentemente, novas pesquisas trouxeram à tona informações surpreendentes sobre a visão desses animais, desafiando a ideia de que a idade avançada comprometeria suas capacidades visuais.
Habitando águas profundas e frias, os tubarões-da-Groenlândia enfrentam condições extremas, com temperaturas que podem chegar a -1,1°C e profundidades de até 3.000 metros. Além disso, muitos deles são afetados por parasitas que se fixam em suas córneas. No entanto, estudos recentes revelam que, apesar desses desafios, a visão desses tubarões é bem preservada, mesmo em indivíduos com séculos de idade.
Como os Tubarões-da-Groenlândia mantêm a visão?
Pesquisas conduzidas por uma equipe da Universidade de Basel, na Suíça, utilizaram sequenciamento genômico, imagens retinais e análise molecular para investigar a visão dos tubarões-da-Groenlândia. Os resultados foram surpreendentes: esses tubarões possuem uma retina rica em bastonetes, estruturas especializadas para visão em baixa luminosidade. Diferente de animais que evoluíram em escuridão total e perderam a visão, os tubarões-da-Groenlândia mantêm uma gama completa de estruturas retinais.
Os bastonetes, responsáveis pela visão escotópica, são altamente sensíveis e capazes de detectar luz mínima, ideal para a vida nas profundezas escuras do oceano. A análise genética confirmou que os genes específicos para visão em bastonetes estão intactos e ativos, enquanto os genes para visão em cones, responsáveis pela visão em luz brilhante e cores, são raros ou não funcionais.

Qual é o segredo da longevidade visual dos Tubarões-da-Groenlândia?
Uma das descobertas mais intrigantes foi a manutenção das estruturas celulares ao longo do tempo. Através do sequenciamento de RNA da retina, verificou-se que os genes essenciais para a visão continuam ativos e que as células retinais permanecem estruturalmente íntegras. Essa preservação pode estar relacionada à capacidade dos tubarões em manter a estabilidade genômica ao longo dos séculos, com mecanismos robustos de reparo de DNA desempenhando um papel crucial.
Além disso, o ambiente frio das águas profundas pode contribuir para a longevidade visual, ao desacelerar processos metabólicos e reduzir o desgaste celular. É provável que uma combinação de fatores genéticos e ambientais permita que os olhos dos tubarões-da-Groenlândia permaneçam funcionais por tanto tempo.
Os Tubarões-da-Groenlândia ainda dependem da visão?
Embora a visão dos tubarões-da-Groenlândia não seja perfeita, especialmente devido à presença de parasitas, ela ainda desempenha um papel relevante. O tectum óptico, uma região do cérebro envolvida no processamento de informações visuais, é comparável em tamanho ao de outros tubarões, sugerindo que a visão continua a ser importante para o comportamento desses animais. Além disso, eles possuem um tapetum lucidum, uma camada reflexiva atrás da retina que aumenta a capacidade de capturar luz, semelhante ao brilho ocular observado em gatos e outros animais noturnos.
Em suma, os tubarões-da-Groenlândia desafiam a noção de que longevidade e visão são incompatíveis em ambientes marinhos profundos. Ao contrário de espécies que evoluíram para descartar características desnecessárias, esses tubarões mantiveram sua capacidade de enxergar, adaptando-se de maneira extraordinária ao seu mundo sombrio. As descobertas ressaltam a adaptabilidade dos sistemas sensoriais dos vertebrados em ambientes extremos e a notável preservação da função orgânica ao longo de centenas de anos.