No Parque Nacional White Sands, no Novo México, uma descoberta arqueológica recente pode transformar a compreensão sobre os primeiros meios de transporte utilizados pela humanidade. Vestígios de pegadas humanas e marcas de arrasto, datados de aproximadamente 22.000 anos, indicam que os habitantes daquela época empregavam uma estrutura rudimentar para carregar cargas, conhecida como travois. Esta descoberta é significativa, pois representa a evidência mais antiga de um sistema de transporte projetado por humanos, antecedendo a invenção da roda em cerca de 17.000 anos.
O travois consiste em duas longas hastes de madeira amarradas em formato triangular ou em “X”, com uma extremidade sendo arrastada pelo chão enquanto a outra era segurada por uma pessoa. Tradicionalmente, esse tipo de ferramenta foi amplamente utilizado por culturas indígenas das Grandes Planícies da América do Norte, sendo puxado por cães ou cavalos. No entanto, a nova evidência sugere que, em White Sands, os primeiros humanos carregavam manualmente suas cargas pesadas.
Quais são os tipos de marcas de arrasto encontradas?
A equipe de arqueólogos identificou diferentes padrões de marcas de arrasto no solo, que foram classificados em três tipos distintos:

- Tipo I: Sulcos profundos e estreitos, que às vezes se bifurcam.
- Tipo II: Canais largos e rasos, seguindo trajetórias mais retilíneas.
- Tipo III: Duas linhas paralelas, possivelmente deixadas por um travois em formato de “X”.
Além das marcas de arrasto, pegadas de diferentes tamanhos foram encontradas ao lado dessas trilhas, sugerindo que crianças acompanhavam os adultos durante o transporte, possivelmente participando do deslocamento da carga.
Como os pesquisadores chegaram a essa conclusão?
Antes de concluir que as marcas foram feitas por um travois, os pesquisadores consideraram outras possibilidades. Eles investigaram se as trilhas poderiam ter sido causadas por animais, como mamutes ou preguiças gigantes, arrastando caudas ou trombas no solo. Outras hipóteses incluíam destroços naturais, como galhos e troncos, ou marcas de barcos primitivos e trenós improvisados. No entanto, todas essas hipóteses foram descartadas, pois as marcas não correspondiam aos padrões naturais deixados por animais ou fenômenos climáticos.
Impacto da descoberta na história da mobilidade humana
A descoberta das pegadas e das marcas de arrasto no Novo México sugere que os humanos da época já estavam buscando maneiras eficientes de carregar objetos pesados, demonstrando uma inovação tecnológica muito mais antiga do que se pensava. Até então, acreditava-se que os primeiros sistemas de transporte humano surgiram apenas com o advento da roda, por volta de 5.000 a.C. No entanto, a evidência de White Sands indica que os primeiros habitantes das Américas já estavam desenvolvendo formas rudimentares de transporte mais de 22.000 anos atrás.
Além de desafiar as concepções tradicionais sobre o deslocamento humano, essa descoberta também reforça a teoria de que os primeiros habitantes das Américas chegaram ao continente muito antes do que se acreditava, possivelmente por volta de 33.000 anos atrás. Isso sugere que a mobilidade humana na pré-história era mais avançada do que se imaginava, abrindo novas perspectivas sobre como os primeiros humanos transportavam seus pertences e exploravam seu ambiente.