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CRIMES NA AMAZÔNIA

Justiça decreta prisão temporária de 3º suspeito das mortes de Dom e Bruno

Segundo delegado, Jeferson da Silva Lima participou desde a emboscada de Bruno Pereira e Dom Phillips até a ocultação dos corpos na região do Vale do Javari. Indigenista e jornalista britânico foram mortos com munição de caça, diz laudo da PF

Rafaela Gonçalves
postado em 19/06/2022 07:01
 (crédito: João Laet / AFP)
(crédito: João Laet / AFP)

Em novo laudo da perícia, a Polícia Federal (PF) afirmou, ontem, que o jornalista britânico Dom Phillips e o indigenista Bruno Pereira foram mortos com tiros no tórax com munição típica de caça. A região em que ocorreu o crime, o Vale do Javari, no estado do Amazonas, é conhecida pela presença de caça e pesca ilegal. Também no sábado, o terceiro suspeito de participação no assassinato, Jeferson da Silva Lima, conhecido como "Pelado da Dinha", se apresentou à polícia e foi preso em Atalaia do Norte. Lima tinha um mandado de prisão expedido pela Justiça do Amazonas e estava foragido desde sexta-feira.

Segundo os peritos do Instituto Nacional de Criminalística de Brasília, Bruno foi baleado três vezes, na cabeça e no tórax, e Dom uma vez, no tórax. Em nota, a PF detalhou a causa do óbito do repórter: "traumatismo toracoabdominal por disparo de arma de fogo com munição típica de caça, com múltiplos balins, ocasionando lesões principalmente sediadas na região abdominal e torácica (um tiro)".

Ainda segundo a Polícia, Bruno Pereira sofreu "traumatismo toracoabdominal e craniano por disparos de arma de fogo com munição típica de caça, com múltiplos balins, que ocasionaram lesões sediadas no tórax/abdômen (dois tiros) e face/crânio (um tiro)".

A perícia também confirmou na manhã de ontem que parte dos restos mortais encontrados eram de Bruno. A identificação do jornalista Don Phillips já havia sido confirmada na noite de sexta-feira. Ambas foram possíveis após exame da arcada dentária. Comparações entre exames odontológicos entregues pela família do indigenista e a arcada dentária recolhida pelos policiais federais confirmaram a identidade de Bruno.

O mesmo procedimento foi usado na identificação do jornalista. No caso de Dom, houve ainda a análise de impressões digitais e características físicas, método conhecido como "antropologia forense".

Não foram encontrados indicativos da presença de outros indivíduos em meio ao material que a por exames. Dentro dos próximos dias, os peritos devem seguir métodos complementares para a identificação completa do material remanescente, para então reconstruir a dinâmica de como ocorreram os assassinatos.

O comitê de crise que atua no Amazonas continua atuando frente às buscas pela embarcação que era usada pelos dois no dia do desaparecimento. O barco foi afundado no Rio Itaquaí, após as vítimas serem mortas. Na última quarta-feira, Amarildo da Costa Oliveira, o "Pelado", um dos suspeitos no caso, apontou o local onde a embarcação foi afundada. Ele confessou para a polícia o assassinato de Bruno e Dom em depoimento.

Segundo a PF, o terceiro suspeito de participação no assassinato, Jeferson da Silva Lima, será interrogado pelos investigadores e, em seguida, encaminhado para audiência de custódia. Segundo o delegado do município, Alex Perez Timóteo, ele estava na cena do crime e participou ativamente do duplo homicídio.

Jeferson se junta ao irmão, o pescador Amarildo da Costa Oliveira, também chamado "Pelado", e Oseney da Costa de Oliveira, conhecido como "Dos Santos", presos por envolvimento na morte e na ocultação dos corpos. Até o momento, apenas Amarildo confessou o crime.

Manifestação

Indigenistas e sertanistas seguem demonstrando indignação e repúdio em relação ao caso. Representantes das famílias Villas Bôas e Meireles, que contam com integrantes que fizeram história na defesa das mesmas causas de Bruno e Dom, protestaram contra a "omissão e o descaso" do governo perante o crime. "Atividades ilegais e ameaças já haviam sido denunciadas por Bruno às autoridades e nada foi feito. Em um governo que é conivente com madeireiros, garimpeiros, invasores de terras indígenas, a omissão não foi descaso, mas método", diz a nota.

O presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), esteve em Manaus neste sábado para evento com apoiadores e religiosos, mas não teve nenhum compromisso na cidade relacionado ao caso.

 


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