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Diversão e Arte

Bela Gil se populariza como guru da cozinha saudável 1b2v13

Chef e apresentadora foi par aos holofotes a partir da vontade de ver as pessoas comerem melhor 3b3d4c


Tímida e introvertida, Bela Gil nunca imaginou ser conhecida como o pai, Gilberto Gil, ou extrovertida como a irmã, Preta Gil. Por vezes, chegou a duvidar da própria capacidade de comunicação. No entanto, a paixão pela cozinha sustentável a fez sair dos bastidores e ocupar os holofotes. A vontade de ver as pessoas comendo melhor despertou uma gigante adormecida. Com uma simpatia que nem ela desconfiava ter, conquistou o público do canal GNT com Bela Cozinha. Não tão fácil. Bela Gil sofreu rejeição ao propor ideias pouco conhecidas, como o churrasco de melancia no lugar da carne vermelha, ou a feijoada, indefectível prato brasileiro, feita sem carne de porco.
[SAIBAMAIS]
Preparada para o confronto, continuou sugerindo boas práticas alimentares e promoveu a ;revolução das substituições;. É comum vê-la trocando alimentos com poucos nutrientes por alternativas ecológicas. Que o diga a chia, sempre lembrada pela especialista em culinária natural e nutrição.

De 2014 para cá, Bela Gil gravou cinco temporadas do programa de receitas, especiais de fim de ano e um reality show para a mesma emissora. Paralelamente, lançou três livros. O último deles, Bela Cozinha Ingredientes do Brasil, foca em um cardápio totalmente vegano. Também criou um canal no YouTube, uma coleção de roupas, um restaurante... Está provado: a atuação da baiana não se resume a confecção de quitutes saudáveis. Guru natureba, como foi chamada pela mídia estrangeira, Bela Gil virou sinônimo de comida ;do bem;, mas vai além.
Com o Bela Infância, projeto social sob comando da chef, pretende diminuir os índices de obesidade infantil. Nas redes sociais e em eventos dos quais participa, opina e levanta debates sobre questões como o lobby do agronegócio no Brasil, o consumo irrefreado de alimentos industrializados e a falta de incentivo governamental a pequenos produtores. No próximo dia 17 de agosto, ela vem à cidade para o Tempero Meu, um dos projetos do evento Na Praia. Ela dará uma palestra sobre alimentação e sustentabilidade. Obviamente, ocupa as caçarolas. Fará cookies de jatobá com amendoim. O primeiro ingrediente integra a Arca do Gosto, criada pelo movimento Slow Food para dar visibilidade a matérias-primas ameaçadas de extinção.

Entrevista/Bela Gil q492d


Você construiu um império da comida saudável com programas de tevê, canal no YouTube, livros, restaurante. Virou, de fato, um ícone pop. Imaginava chegar tão longe quando voltou a morar no Brasil?
Nunca imaginei. Até porque não imaginava um dia estar na tevê. Sempre fui muito tímida e introvertida. Mas a paixão pelo que eu faço e acredito é tão grande que superou qualquer dúvida sobre a minha capacidade de comunicação. E fico muito feliz de saber que já atingi e transformei diversas vidas!

Melancia grelhada, cúrcuma para os dentes, comer a placenta. Por diferentes escolhas e em diferentes situações, seu estilo de vida gerou críticas. Em algum momento esses ;haters; da internet a fizeram pensar em desistir?
Sempre soube que muitas práticas que são normais e rotineiras para mim poderiam ser novidade e muitas vezes superesquisitas para outras pessoas. Então, de uma maneira ou de outra, sempre estive preparada para o confronto. E hoje vejo que muitos ;haters; viraram ;lovers; da comida e do estilo de vida natureba. Nada como o tempo...

No entanto, também fez com que muita gente enxergasse as substituições como algo viável, mesmo quem não estava habituado a comer de forma sustentável. É exagero dizer que o Brasil vive uma revolução verde?
Acredito que muitos estão de fato mais interessados em saber sobre a procedência dos alimentos, procuram comprar ingredientes de qualidade e oferecer uma alimentação mais saudável para a família. Isso graças ao o maior à informação. Porém, educação e informação não são o suficiente para mudar o comportamento das pessoas. Então, para essa revolução de fato acontecer, incentivos fiscais para cultivos agroecológicos, regulamentação no consumo de produtos com excesso de açúcar e políticas públicas a favor de uma vida mais natural e sustentável (que não dá lucro pra ninguém) deveriam entrar em vigor.

Sua atuação política só cresce. Como fez seu pai, quando Ministro da Cultura, tem vontade de ir para o ;lado de lá;?
Tenho vontade, mas a sujeira que permeia esse âmbito me desanima. Os políticos mais sérios e honestos, com grandes pensamentos e intenções, ficam de mãos atadas. Então, por enquanto, acho que consigo produzir mais como uma civil.

Muitos estudos têm mostrado o poder do lobby das grandes indústrias na condução até mesmo de pesquisas científicas. Em tempos tão nebulosos, quais as melhores fontes de informação em relação ao que comemos?
O nosso melhor aliado e professor é o que vem da natureza. Tudo o que estiver mais próximo a ela é sempre a melhor escolha. As marcas de margarinas, refrigerantes e caldinhos em cubo podem nos induzir ao consumo, como tem feito com sucesso nas últimas décadas, mas sempre vou achar a manteiga, o suco fresco e o sal marinho respectivamente, infinitamente mais saudáveis.