Ricardo Daehn
postado em 24/11/2009 09:29
"Houve um aumento quantitativo nos filmes, mas acho que ainda há muito caminho a ser trilhado, em termos de qualidade na Mostra Brasília", comenta o cineasta Cauê Brandão. Ele, que, aos 24 anos, viu na tela do Cine Brasília a projeção do filme de estreia (Princípio da incerteza) em 35mm, é um exemplo do tipo de esforço por trás da mostra paralela à programação noturna, mas em nada marginalizada. Criado em 1996, o troféu Câmara Legislativa do DF, atrelado ao resultado da Mostra Brasília, é cobiçado pelos cineastas locais e projeta as marcas do legítimo cinema candango. Cauê Brandão, que aplica mais R$ 20 mil e seis meses de preparação para Princípio da incerteza, não é exceção: ;É extremamente importante a mostra existir para o estímulo à produção regional".Com maciça adesão da classe cinematográfica, nas duas tardes de exibições, a Mostra Brasília - que reúne, num mesmo páreo, todas as realizações locais não contempladas na seleção competitiva noturna - vem alargando horizontes. "O público, ano a ano, tem se tornado maior e não se trata de inha de realizadores - é público, mesmo. Contei umas 800 pessoas (para uma sala de 600 lugares) e acho que, se houvesse reprise, teria mais espectadores também;, opina R.C. Ballerini (do curta As estalactites de Davi).

Na plateia da Mostra Brasília, Louise de Andrade, aos 14 anos, deu a medida da capacidade de diálogo entre espectadores e os curtas-metragens exibidos nas sessões de sábado e domingo. "Gostei da amizade (entre uma menina e a empregada) que o filme Feijão com arroz quis transmitir. Me identifiquei com ele", disse.
Produtora da fita concorrente ao troféu Câmara Legislativa, Rafaela Camelo, aos 24 anos, exalta a animação com a vitrine propiciada pela mostra. "É um orgulho participar. Existem vários grupos que estão sempre por aqui, competindo com regularidade, mas é interessante que as pessoas saibam que existe gente nova, formada há pouco e que faz um cinema cuidadoso. Até temos as nossas falhas, mas aquilo que é proposto a gente consegue realizar", avalia Rafaela. Orçado em R$ 46 mil, Feijão com arroz é o primeiro curta, em cinco anos, a ser finalizado (com cópia final) pelo laboratório de produção audiovisual da UnB.
Em evidência

Após a sessão, Ítalo disse ter ficado satisfeito com a reação do público, que acompanhou atentamente o curta e guardou os aplausos para o encerramento dos créditos finais para aplaudir. "A mostra é fundamental. Este é o único momento do ano em que Brasília se vê na tela", comentou o diretor, que já participou da Mostra Brasília em três outras ocasiões: com O lobisomem e o coronel, em 2002, com A moça que dançou depois de morta, em 2003, e em 2008, com A menina que pescava estrelas. Para o cineasta, a organização do festival deveria valorizar títulos de Brasília com prêmios oficiais, além do Troféu Câmara Legislativa. "Seria uma forma de reconhecimento. Vários festivais premiam a produção local", sugeriu.
Estreante na mostra, a diretora Adriana Vasconcelos, de Senhoras, concorda com a ideia de Ítalo. "Seria maravilhoso. É louvável o prêmio da Câmara, mas a organização deveria colaborar. E, quem sabe, reprisar os filmes talvez numa sala do CCBB", afirmou. A experiência, para Adriana, foi positiva: ouviu comentários elogiosos sobre o lirismo do curta. "Não é o mesmo público da noite. Há pessoas das equipes, das famílias. E é mais ível, até por ser à tarde e com entrada franca", afirmou.